Editorial - Estadão
Em janeiro do ano passado, 70,8 milhões de processos aguardavam julgamento. Em dezembro, o número era de 71,2 milhões. Entre ações novas e ações antigas, tramitaram nos tribunais brasileiros 99,7 milhões de processos. Isso significa uma ação judicial para cada dois brasileiros. E se for mantida a média de crescimento anual de 3,4% registrada nos últimos cinco anos, como preveem os técnicos do CNJ, esse número pulará para 103,1 milhões em 2015.
De cada dez ações, nove tramitam nos juizados especiais e nas varas de primeira instância, que são a porta de entrada do sistema judicial. Em 2014, os juízes de primeiro grau julgaram o equivalente a 90% dos casos novos. À primeira vista, esse porcentual parece expressivo. Contudo, dada a dificuldade de localizar os devedores e identificar bens para serem penhorados, uma parte significativa das ações julgadas acabou não sendo executada, reforçando a velha tradição do “quem ganha não leva” reinante em nossos tribunais.
O balanço do CNJ também mostra que, em matéria de desempenho, só os Tribunais de Justiça do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, de Goiás e do Amapá atingiram a marca de 100% de produtividade. Como a entrada de novos processos é superior ao número de processos encerrados, o congestionamento, a ineficiência e a morosidade continuam sendo as principais características dos tribunais brasileiros. Segundo o balanço do CNJ, a taxa de congestionamento do Poder Judiciário vem crescendo ano a ano, tendo atingido 71,4% em 2014 – quase 1% a mais do que a registrada em 2013. Assim, de cada 100 ações em tramitação nos tribunais brasileiros, somente 28,6 são julgadas num exercício. “Mesmo que o Judiciário fosse paralisado, sem ingresso de novas demandas, com a atual produtividade de magistrados e servidores, seriam necessários quase dois anos e meio para zerar o estoque de processos”, conclui o relatório do CNJ. Entre 2009 e 2014, o acervo de processos cresceu 20%.
Parte dessa explosão de litigiosidade é causada pelo aumento dos chamados conflitos de massa, que no âmbito da Justiça estadual envolvem ações sobre responsabilidade civil do fornecedor de bens e serviços e indenização por danos materiais, o que revela a eficácia do Código de Defesa do Consumidor. O aumento de litígios nos Tribunais de Justiça envolve, também, pendências em matéria de obrigações contratuais, pedidos de pensão alimentícia e indenização por danos morais. A Justiça estadual é responsável por 80% dos processos em tramitação no Poder Judiciário.
Já no âmbito da Justiça Trabalhista, o aumento das contestações sobre rescisão de contrato de trabalho e cálculo de verbas rescisórias e dano moral trabalhista foi causado pelo desemprego decorrente da crise econômica. O grande responsável pelo aumento do número de ações judiciais, no entanto, continua sendo o poder público. Segundo o balanço do CNJ, dos 28,9 milhões de novos processos protocolados em 2014, 15% discutem matéria tributária, direito previdenciário e questões que envolvem a administração pública nos níveis municipal, estadual e federal.
No plano financeiro, o Poder Judiciário consumiu R$ 68,4 bilhões em 2014 – cerca de 4,3% a mais do que no ano anterior. Esse valor corresponde a 1,2% do Produto Interno Bruto. Quase 90% do orçamento dos tribunais é gasto com folha de pagamento. Os números do CNJ mostram assim que, apesar das várias medidas já tomadas para modernizar o Judiciário, a instituição continua custando caro para os cofres públicos e deixando muito a desejar, em matéria de eficiência e rapidez.
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