Por Merval Pereira - O Globo
A política partidária brasileira foi dominada já há alguns anos pelos interesses corporativos e pessoais, perdendo a capacidade de representar o interesse da coletividade e de formular políticas públicas de longo prazo numa sociedade pluralista.
São poucos os parlamentares que se dedicam a pensar o país, e os governos que se sucedem acabam reféns dessa política miúda bem representada pela chegada do deputado Eduardo Cunha à presidência da Câmara.
O ritmo que ele imprimiu aos trabalhos legislativos chamou a atenção em contraponto à modorra que dominava as sessões legislativas, mas logo se viu que Cunha beneficiou mais sua agenda retrógrada do que serviu ao país com sua diligência.
Não é por acaso, portanto, que pesquisas recentes demonstram um divórcio entre a sociedade e o mundo político, com o crescimento da rejeição dos cidadãos aos principais políticos brasileiros e uma maioria perto de 70% declarando não gostar de nenhum partido.
O PT é o que mais sofreu desgaste, maior ainda do que quando estourou o escândalo do mensalão. É uma rejeição à política como ela é feita entre nós, e não, como distorce o ex-presidente Lula, uma negação da política.
Quem nega a política são justamente os partidos e os políticos que atuam à margem da lei para manter seus poderes manipulando eleições e eleitores. Esse distanciamento entre a ação dos partidos e o que querem os eleitores tem bons exemplos contrários, que mostram como poderia ser a política caso o interesse pessoal e corporativo não prevalecesse sobre o da coletividade.
Nos últimos anos, dois governantes souberam chegar perto do que queriam os eleitores, e tiveram como retribuição a reeleição e o reconhecimento. Em 1994, o Plano Real levou à presidência um intelectual recém chegado ao mundo da política, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso eleito duas vezes no primeiro turno.
Em 2002, um líder operário chegou à presidência da República depois de várias derrotas, e tornou-se um ícone popular com o programa Bolsa-Família. Plano Real e Bolsa-Família são exemplos de políticas públicas que vão ao encontro do que o povo necessitava em momentos cruciais da história do país.
Na campanha que o levou à presidência da República, Fernando Henrique conta que sentiu que venceria, depois de amargar baixos índices nas primeiras pesquisas, quando no interior da Bahia começou a ser solicitado a dar autógrafos nas notas de Real, que eram balançadas pelas populações como sinal de vitória.
O controle da inflação, e uma moeda forte “que valia mais que o dólar” naquela ocasião, respondiam à necessidade da população de estabilidade econômica e melhoria de vida.
Já a Bolsa-Família substituiu quase que por acaso no projeto petista o Fome Zero, um programa criado para ser o carro-chefe do novo governo que fracassou. Coube ao hoje ministro do Desenvolvimento, Patrus Ananias, em sua primeira gestão à frente da pasta no governo Lula, deslanchar o Bolsa-Família, que também corria o risco de fracassar devido a desavenças ideológicas entre seus administradores.
Frei Betto queria utilizar o programa para transformar as comunidades em suas próprias gestoras, criando conselhos comunitários nos municípios para distribuir o benefício sem influência dos políticos. Ao contrário, Patrus Ananias vislumbrou o potencial eleitoral do programa e deu para os prefeitos sua gestão.
O senador Cristovam Buarque, que foi petista e ministro da Educação do governo Lula, quer mudar o nome do programa para Bolsa Escola, fazendo com que volte ao seu objetivo principal que seria o de estimular a mobilidade social através do ensino. Criado no governo Fernando Henrique, o Bolsa-Escola acabou sendo unificado pelo governo Lula a outros programas sociais para a criação do Bolsa-Família. Cristovam acha que o programa, nos moldes atuais, não estimula o estudo e cria condições para que seus beneficiários não queiram se integrar no mercado de trabalho.
Com todas as críticas que são possíveis, projetos como o Plano Real e o Bolsa-Família levaram os políticos para junto da população, fazendo com que a política seja um instrumento de desenvolvimento do país. É o que nos falta hoje, com a política transformada em questão corporativa e pessoal
São poucos os parlamentares que se dedicam a pensar o país, e os governos que se sucedem acabam reféns dessa política miúda bem representada pela chegada do deputado Eduardo Cunha à presidência da Câmara.
O ritmo que ele imprimiu aos trabalhos legislativos chamou a atenção em contraponto à modorra que dominava as sessões legislativas, mas logo se viu que Cunha beneficiou mais sua agenda retrógrada do que serviu ao país com sua diligência.
Não é por acaso, portanto, que pesquisas recentes demonstram um divórcio entre a sociedade e o mundo político, com o crescimento da rejeição dos cidadãos aos principais políticos brasileiros e uma maioria perto de 70% declarando não gostar de nenhum partido.
O PT é o que mais sofreu desgaste, maior ainda do que quando estourou o escândalo do mensalão. É uma rejeição à política como ela é feita entre nós, e não, como distorce o ex-presidente Lula, uma negação da política.
Quem nega a política são justamente os partidos e os políticos que atuam à margem da lei para manter seus poderes manipulando eleições e eleitores. Esse distanciamento entre a ação dos partidos e o que querem os eleitores tem bons exemplos contrários, que mostram como poderia ser a política caso o interesse pessoal e corporativo não prevalecesse sobre o da coletividade.
Nos últimos anos, dois governantes souberam chegar perto do que queriam os eleitores, e tiveram como retribuição a reeleição e o reconhecimento. Em 1994, o Plano Real levou à presidência um intelectual recém chegado ao mundo da política, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso eleito duas vezes no primeiro turno.
Em 2002, um líder operário chegou à presidência da República depois de várias derrotas, e tornou-se um ícone popular com o programa Bolsa-Família. Plano Real e Bolsa-Família são exemplos de políticas públicas que vão ao encontro do que o povo necessitava em momentos cruciais da história do país.
Na campanha que o levou à presidência da República, Fernando Henrique conta que sentiu que venceria, depois de amargar baixos índices nas primeiras pesquisas, quando no interior da Bahia começou a ser solicitado a dar autógrafos nas notas de Real, que eram balançadas pelas populações como sinal de vitória.
O controle da inflação, e uma moeda forte “que valia mais que o dólar” naquela ocasião, respondiam à necessidade da população de estabilidade econômica e melhoria de vida.
Já a Bolsa-Família substituiu quase que por acaso no projeto petista o Fome Zero, um programa criado para ser o carro-chefe do novo governo que fracassou. Coube ao hoje ministro do Desenvolvimento, Patrus Ananias, em sua primeira gestão à frente da pasta no governo Lula, deslanchar o Bolsa-Família, que também corria o risco de fracassar devido a desavenças ideológicas entre seus administradores.
Frei Betto queria utilizar o programa para transformar as comunidades em suas próprias gestoras, criando conselhos comunitários nos municípios para distribuir o benefício sem influência dos políticos. Ao contrário, Patrus Ananias vislumbrou o potencial eleitoral do programa e deu para os prefeitos sua gestão.
O senador Cristovam Buarque, que foi petista e ministro da Educação do governo Lula, quer mudar o nome do programa para Bolsa Escola, fazendo com que volte ao seu objetivo principal que seria o de estimular a mobilidade social através do ensino. Criado no governo Fernando Henrique, o Bolsa-Escola acabou sendo unificado pelo governo Lula a outros programas sociais para a criação do Bolsa-Família. Cristovam acha que o programa, nos moldes atuais, não estimula o estudo e cria condições para que seus beneficiários não queiram se integrar no mercado de trabalho.
Com todas as críticas que são possíveis, projetos como o Plano Real e o Bolsa-Família levaram os políticos para junto da população, fazendo com que a política seja um instrumento de desenvolvimento do país. É o que nos falta hoje, com a política transformada em questão corporativa e pessoal
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