Editorial - Estadão
A bala de prata capaz de acabar com o predomínio de corruptos e
corruptores na vida pública está na arma que as instituições
democráticas colocam ao alcance de cada cidadão: o voto.
Um em cada três brasileiros entende que a corrupção é o maior problema do País, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no último fim de semana. Cerca de um ano atrás esse índice oscilava em torno dos 10%. De lá para cá, explodiu, deixando muito para trás as marcas relativas a questões estruturais, como saúde e educação, ou conjunturais, como o desemprego, que interferem diretamente na vida dos cidadãos. Como se explica isso?
O que parece estar ocorrendo é que os brasileiros começam a se dar conta de que nenhuma prioridade nacional será séria e eficientemente atacada enquanto a energia política do País estiver concentrada na corrupção, seja para praticá-la, seja para livrar seus agentes da responsabilização penal. A conclusão é óbvia: o Brasil precisa urgentemente de rigorosa faxina política. A ação saneadora depende em boa medida da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário, além de outros órgãos de controle, que têm funcionado. Mas a bala de prata capaz de acabar com o predomínio de corruptos e corruptores na vida pública está na arma que as instituições democráticas colocam ao alcance de cada cidadão: o voto. E urge que a cidadania exercite com eficiência esse poder, antes que algum aventureiro messiânico use em benefício próprio a indignação nacional para se legitimar no papel de salvador da Pátria, missão cujo cumprimento começa quase sempre pela supressão da liberdade.
A pesquisa comprova que os brasileiros debitam aos políticos os males da corrupção. O resultado pode ter sido influenciado pelo fato de ela ter sido realizada logo após o anúncio das prisões do amigo do peito de Lula, o empresário José Carlos Bumlai, do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, e do banqueiro André Esteves. Os três são acusados de envolvimento em esquemas de corrupção relacionados com a gestão da coisa pública e são, por isso, “figurões” da política. Mais do que isso, as ilicitudes de que são acusados têm todas o DNA do lulopetismo e de seu projeto de poder e de favorecimento de suas principais lideranças. Isso tem a ver, certamente, com o fato de que a avaliação de Lula como presidente da República despencou significativamente desde que ele deixou o Planalto: na resposta ao quesito “quem foi o melhor presidente” os 71% que Lula teve em 2010, último ano de seu segundo mandato, caíram para 39% agora – o que ainda o mantém na imerecida posição de ex-presidente mais bem avaliado, com mais do dobro do índice obtido por Fernando Henrique Cardoso.
Mas em eventual disputa em 2018, em cenários diferentes tanto para o primeiro quanto para o segundo turno, Lula não está à frente em nenhum. No primeiro turno, quaisquer que sejam os adversários, teria apenas 22% dos votos. No segundo turno, perderia também, sempre por larga margem, para Aécio Neves (51% a 32%), Geraldo Alckmin (45% a 34%) e Marina Silva (52% a 31%). Tanto Lula quanto Aécio marcaram menos pontos que na pesquisa anterior; o desempenho de Marina foi um pouco melhor.
Ainda em termos individuais, a pesquisa revela que 2 em cada 3 brasileiros entendem que Dilma Rousseff deveria ser afastada de suas funções ou renunciar à Presidência. E um contingente maior ainda, 81% dos entrevistados, apoia a cassação do mandato do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Como instituição, o Congresso teve sua pior avaliação desde 1993: 53% dos brasileiros consideram ruim/péssimo o desempenho dos parlamentares, contra 34% que cravaram a avaliação de regular e 8% de ótimo/bom (5% não têm opinião formada).
Não existe regime democrático sem o exercício da atividade política e da representação popular. O fato de os brasileiros estarem insatisfeitos com os representantes que eles próprios escolheram dá uma ideia da insatisfação geral com a chamada classe política. A indignação contra a corrupção explica apenas parte dessa indisposição. Os defeitos flagrantes do sistema partidário e eleitoral e as deficiências da representação política pesam muito na composição do estado de espírito do povo.
O que parece estar ocorrendo é que os brasileiros começam a se dar conta de que nenhuma prioridade nacional será séria e eficientemente atacada enquanto a energia política do País estiver concentrada na corrupção, seja para praticá-la, seja para livrar seus agentes da responsabilização penal. A conclusão é óbvia: o Brasil precisa urgentemente de rigorosa faxina política. A ação saneadora depende em boa medida da Polícia, do Ministério Público e do Judiciário, além de outros órgãos de controle, que têm funcionado. Mas a bala de prata capaz de acabar com o predomínio de corruptos e corruptores na vida pública está na arma que as instituições democráticas colocam ao alcance de cada cidadão: o voto. E urge que a cidadania exercite com eficiência esse poder, antes que algum aventureiro messiânico use em benefício próprio a indignação nacional para se legitimar no papel de salvador da Pátria, missão cujo cumprimento começa quase sempre pela supressão da liberdade.
A pesquisa comprova que os brasileiros debitam aos políticos os males da corrupção. O resultado pode ter sido influenciado pelo fato de ela ter sido realizada logo após o anúncio das prisões do amigo do peito de Lula, o empresário José Carlos Bumlai, do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, e do banqueiro André Esteves. Os três são acusados de envolvimento em esquemas de corrupção relacionados com a gestão da coisa pública e são, por isso, “figurões” da política. Mais do que isso, as ilicitudes de que são acusados têm todas o DNA do lulopetismo e de seu projeto de poder e de favorecimento de suas principais lideranças. Isso tem a ver, certamente, com o fato de que a avaliação de Lula como presidente da República despencou significativamente desde que ele deixou o Planalto: na resposta ao quesito “quem foi o melhor presidente” os 71% que Lula teve em 2010, último ano de seu segundo mandato, caíram para 39% agora – o que ainda o mantém na imerecida posição de ex-presidente mais bem avaliado, com mais do dobro do índice obtido por Fernando Henrique Cardoso.
Mas em eventual disputa em 2018, em cenários diferentes tanto para o primeiro quanto para o segundo turno, Lula não está à frente em nenhum. No primeiro turno, quaisquer que sejam os adversários, teria apenas 22% dos votos. No segundo turno, perderia também, sempre por larga margem, para Aécio Neves (51% a 32%), Geraldo Alckmin (45% a 34%) e Marina Silva (52% a 31%). Tanto Lula quanto Aécio marcaram menos pontos que na pesquisa anterior; o desempenho de Marina foi um pouco melhor.
Ainda em termos individuais, a pesquisa revela que 2 em cada 3 brasileiros entendem que Dilma Rousseff deveria ser afastada de suas funções ou renunciar à Presidência. E um contingente maior ainda, 81% dos entrevistados, apoia a cassação do mandato do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Como instituição, o Congresso teve sua pior avaliação desde 1993: 53% dos brasileiros consideram ruim/péssimo o desempenho dos parlamentares, contra 34% que cravaram a avaliação de regular e 8% de ótimo/bom (5% não têm opinião formada).
Não existe regime democrático sem o exercício da atividade política e da representação popular. O fato de os brasileiros estarem insatisfeitos com os representantes que eles próprios escolheram dá uma ideia da insatisfação geral com a chamada classe política. A indignação contra a corrupção explica apenas parte dessa indisposição. Os defeitos flagrantes do sistema partidário e eleitoral e as deficiências da representação política pesam muito na composição do estado de espírito do povo.
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