Editorial - Estadão
Quando o palhaço Tiririca se candidatou a deputado federal, em 2010, seu slogan era “pior do que está não fica”. Com isso, o popular humorista quis dizer que o Congresso já estava de tal maneira degradado que sua participação como parlamentar seria incapaz de piorá-lo. Mas Tiririca estava enganado.
O faroeste em que se transformou Brasília, com a presidente da República, Dilma Rousseff, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comportando-se como num duelo na porta do saloon, foi apenas a mais recente etapa do colapso moral da política brasileira – alguns fazem o diabo, outros são capazes de tudo e algumas das principais autoridades do Executivo e do Legislativo são suspeitas de delitos diversos. Embora vergonhoso, esse comportamento no mais alto escalão da República não causa surpresa.
Ao longo da última década, o País tem visto, com estupefação, a política degringolar em vale-tudo. O poder transformou-se em um fim em si mesmo. Desde que chegou à Presidência, o PT fez do delicado equilíbrio de forças no Congresso uma maçaroca fisiológica e corrupta. O “presidencialismo de coalizão”, em que um presidente sem maioria parlamentar própria é obrigado a fazer alianças com forças políticas muito distintas, passou a ser “presidencialismo de cooptação” – por meio do qual o PT, à custa do assalto aos cofres do Estado e da distribuição desse butim entre seus associados, pretendia governar sozinho, e para sempre. O mensalão e o petrolão são a consequência lógica disso.
Na estratégia petista de enfraquecimento da política para submetê-la aos desígnios do partido, era necessário mobilizar o governo de forma permanente para as eleições. Toda e qualquer medida administrativa ou articulação no Congresso deveria necessariamente visar ao pleito seguinte e todos os recursos disponíveis – legais e ilegais – deveriam ser canalizados para o esforço de campanha. Com isso, o PT pretendia tornar-se imbatível e, com o passar do tempo, cristalizar-se no Estado a tal ponto de se confundir com ele. Num cenário assim, a oposição é necessariamente inimiga do Estado.
Para que esse projeto funcionasse, era preciso “fazer o diabo”, como a própria Dilma declarou certa feita. Não podia haver limites morais e éticos. O mesmo PT que, quando estava na oposição, prometia enforcar o último político fisiológico nas tripas do último empresário corrupto é o mesmo que franqueou a administração pública a diversas quadrilhas, em troca do pedágio que irrigaria os cofres petistas.
Além disso, os governos do PT transformaram a irresponsabilidade fiscal em política de Estado, com evidentes propósitos eleitoreiros. Mais uma vez, todos os que ousassem questionar a gastança eram imediatamente qualificados de demófobos, incapazes de compreender a missão social petista.
Tome-se aleatoriamente qualquer um dos discursos de Lula, na Presidência ou fora dela, nos quais ele acusou “as elites” de sabotar seus projetos redentores, e surgirão abundantes exemplos dessa estratégia perniciosa. Lula chegou a dizer que as “pedaladas fiscais” – graças às quais Dilma pode ser afastada do cargo – foram necessárias “para pagar o Bolsa Família”. Isso significa que, para o chefão petista, um crime se torna algo virtuoso quando é cometido por um governante do partido que obviamente faz tudo com a melhor das intenções e só está interessado nos pobres. Portanto, quem quer que conteste as “pedaladas” e as considere suficientes para embasar um processo de impeachment – punição prevista na Constituição – deve ser qualificado como “golpista”. As pedaladas, diga-se a bem da verdade – que Lula despreza –, não foram usadas para aqueles “nobres fins”.
Foi assim, transformando a política em um jogo de soma zero, aquele em que o triunfo de um se dá necessariamente à custa da aniquilação do outro, que os petistas, julgando-se capazes de tudo e dispensados de dividir o poder, colaboraram decisivamente para o fortalecimento de um Eduardo Cunha – hoje o mais bem acabado exemplo do abastardamento do Congresso, onde o interesse nacional foi sufocado pelos mesquinhos interesses pessoais. Representante de si mesmo, Cunha, tal como se apresenta hoje, é criação da arrogância petista. Agora, que Dilma e o PT o embalem. Todos eles se merecem. Quem não os merece é o povo brasileiro, honesto e trabalhador, que quer vê-los longe da vida pública.
Quando o palhaço Tiririca se candidatou a deputado federal, em 2010, seu slogan era “pior do que está não fica”. Com isso, o popular humorista quis dizer que o Congresso já estava de tal maneira degradado que sua participação como parlamentar seria incapaz de piorá-lo. Mas Tiririca estava enganado.
O faroeste em que se transformou Brasília, com a presidente da República, Dilma Rousseff, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comportando-se como num duelo na porta do saloon, foi apenas a mais recente etapa do colapso moral da política brasileira – alguns fazem o diabo, outros são capazes de tudo e algumas das principais autoridades do Executivo e do Legislativo são suspeitas de delitos diversos. Embora vergonhoso, esse comportamento no mais alto escalão da República não causa surpresa.
Ao longo da última década, o País tem visto, com estupefação, a política degringolar em vale-tudo. O poder transformou-se em um fim em si mesmo. Desde que chegou à Presidência, o PT fez do delicado equilíbrio de forças no Congresso uma maçaroca fisiológica e corrupta. O “presidencialismo de coalizão”, em que um presidente sem maioria parlamentar própria é obrigado a fazer alianças com forças políticas muito distintas, passou a ser “presidencialismo de cooptação” – por meio do qual o PT, à custa do assalto aos cofres do Estado e da distribuição desse butim entre seus associados, pretendia governar sozinho, e para sempre. O mensalão e o petrolão são a consequência lógica disso.
Na estratégia petista de enfraquecimento da política para submetê-la aos desígnios do partido, era necessário mobilizar o governo de forma permanente para as eleições. Toda e qualquer medida administrativa ou articulação no Congresso deveria necessariamente visar ao pleito seguinte e todos os recursos disponíveis – legais e ilegais – deveriam ser canalizados para o esforço de campanha. Com isso, o PT pretendia tornar-se imbatível e, com o passar do tempo, cristalizar-se no Estado a tal ponto de se confundir com ele. Num cenário assim, a oposição é necessariamente inimiga do Estado.
Para que esse projeto funcionasse, era preciso “fazer o diabo”, como a própria Dilma declarou certa feita. Não podia haver limites morais e éticos. O mesmo PT que, quando estava na oposição, prometia enforcar o último político fisiológico nas tripas do último empresário corrupto é o mesmo que franqueou a administração pública a diversas quadrilhas, em troca do pedágio que irrigaria os cofres petistas.
Além disso, os governos do PT transformaram a irresponsabilidade fiscal em política de Estado, com evidentes propósitos eleitoreiros. Mais uma vez, todos os que ousassem questionar a gastança eram imediatamente qualificados de demófobos, incapazes de compreender a missão social petista.
Tome-se aleatoriamente qualquer um dos discursos de Lula, na Presidência ou fora dela, nos quais ele acusou “as elites” de sabotar seus projetos redentores, e surgirão abundantes exemplos dessa estratégia perniciosa. Lula chegou a dizer que as “pedaladas fiscais” – graças às quais Dilma pode ser afastada do cargo – foram necessárias “para pagar o Bolsa Família”. Isso significa que, para o chefão petista, um crime se torna algo virtuoso quando é cometido por um governante do partido que obviamente faz tudo com a melhor das intenções e só está interessado nos pobres. Portanto, quem quer que conteste as “pedaladas” e as considere suficientes para embasar um processo de impeachment – punição prevista na Constituição – deve ser qualificado como “golpista”. As pedaladas, diga-se a bem da verdade – que Lula despreza –, não foram usadas para aqueles “nobres fins”.
Foi assim, transformando a política em um jogo de soma zero, aquele em que o triunfo de um se dá necessariamente à custa da aniquilação do outro, que os petistas, julgando-se capazes de tudo e dispensados de dividir o poder, colaboraram decisivamente para o fortalecimento de um Eduardo Cunha – hoje o mais bem acabado exemplo do abastardamento do Congresso, onde o interesse nacional foi sufocado pelos mesquinhos interesses pessoais. Representante de si mesmo, Cunha, tal como se apresenta hoje, é criação da arrogância petista. Agora, que Dilma e o PT o embalem. Todos eles se merecem. Quem não os merece é o povo brasileiro, honesto e trabalhador, que quer vê-los longe da vida pública.
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