Pois acaba de aparecer outro tipo de alma, até prova em contrário, deste mundo mesmo. É a “viva alma que neste país não tem mais honesta do que a dele”. Assim definiu-se o Lula em encontro com blogueiros, quarta-feira. Pretensão igual só no almanaque dos santos. Situou-se no mesmo patamar da Polícia Federal, do Ministério Público, dos Sindicatos e das Igrejas Católica e Evangélica. Sua alma, motivo de orgulho, equivale ao grande prêmio nas delações premiadas. Ganha o delator que conseguir citá-lo mais vezes.
O Lula saiu em defesa dos companheiros processados, condenados e presos, ainda que referidos tenham sido apenas João Vaccari Neto e José Dirceu. Há ansiedade na longa fila formada atrás deles, também ávidos de uma solidariedade até agora invisível.
Direito de defender-se, e aos condenados, o ex-presidente possui. Como também de processar jornalistas, mesmo tornando-se agressão atacar nossa dignidade profissional. Até de comparar a roubalheira verificada no PT com a de outros partidos. O que não dá para aceitar é a ausência de alma mais honesta do que a dele. Afinal, sua performance na presidência da República, e depois, vem sendo objeto de referências nas delações premiadas. Apartamentos milionários, sítios, viagens, negócios e palestras subsidiadas por empreiteiras e governos estrangeiros, filhos endinheirados sem explicação da origem, amigos privilegiados, auxiliares na cadeia – tudo merece ser examinado à luz da honestidade da alma, se não for do outro mundo.
Lula pode até ser honesto, mas precisa antes parecer honesto
Por Jorge Oliveira
O Lula esqueceu que não basta ser honesto, precisa antes parecer
honesto. Quando diz que ninguém no mundo seria mais honesto do que ele, o
ex-presidente é candidato fortíssimo ao Zorra Total, o programa de
humor da TV Globo.
Mais uma vez, ele reuniu os blogueiros oficiais, os sanguessugas que se sustentam com o dinheiro público, para defender a quadrilha petista e botar panos quentes na crise. Disse, por exemplo que é “pertinente” a carta aberta dos advogados, defensores dos empreiteiros que estão na cadeia. O ex-presidente, com esse apoio, resvala para uma inconfidência. A de que a mensagem passou pelas mãos dos redatores petistas, com pinta de ter sido supervisionada pelo presidente do partido, Rui Falcão, antes de chegar aos jornais.
Não vamos aqui chover no molhado: repetir que o ex-presidente passa hoje o seu tempo em interrogatórios na Polícia Federal que suspeita da sua forte ligação com a quadrilha que aniquilou a Petrobrás. Pelo que se sabe, nenhuma pessoa que se diz honesta é intimada pela polícia se não for para esclarecer algum tipo de crime. Nenhuma pessoa que se diz honesta é citada várias vezes por delatores como cúmplice do roubo que secou os cofres da maior estatal de petróleo do país. E nem vive às turras com a imprensa para provar que é inocente se não tiver contra ela nenhum tipo de acusação.
As palavras do Lula nas coletivas, mesmo as mais grosseiras e exóticas, antes tidas como inteligentes e sábias pela imprensa bajulativa e servil, hoje soam como expressões rasteiras, desconfortantes aos ouvidos de quem as ouvem. Parte da imprensa teve que se curvar aos fatos e, para não enganar seus leitores, noticiar o que a população sabe pelos agentes federais e os procuradores públicos: a participação do ex-presidente nas tramoias do maior escândalo da história do país. Nunca, no Brasil, um governo e um partido se envolveram tanto em roubalheira como agora.
Mas o governo ainda tem muita munição para tentar abafar o escândalo. Como não conseguiu neutralizar as informações com seus blogueiros assalariados, nos últimos dias ele fez mais duas tentativas. A primeira é deixar a Polícia Federal a pão e água cortando o orçamento do órgão para frear as investigações. As viaturas da PF ameaçam ficar no pátio por falta de combustíveis. E a outra, mais recente, é a carta aberta dos advogados como uma forma de constranger o Ministério Público e ameaçar o STF, responsável, na última instância, pelo julgamento final dos petistas criminosos.
Essas estripulias visam, sobretudo, chamar a atenção do povo para injustiças com seus militantes. Ora, como injustiça? A Operação Lava Jato, conduzida brilhantemente pelo juiz Sergio Moro, já devolveu aos cofres públicos quase 2 bilhões de reais e outros bilhões estão a caminho, dinheiro surrupiado das estatais brasileiras. Muitos empresários meliantes, diretores de estatais e militantes do PT estão na cadeia, condenados, com provas, por formação de quadrilha.
O que essas pessoas têm em comum entre elas: a amizade com o ex-presidente Lula, de quem foram auxiliares ou até mesmo conselheiros como é o caso de Zé Dirceu, que mofa na cadeia, na companhia de dois tesoureiros do PT. E diante desses fatos, como o Lula pode bater nos peitos e dizer de alto e bom som que é o cara mais honesto do mundo? Precisa parecer honesto, companheiro Lula, se não parece piada.
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