Editorial - Folha de SP
A janela de calmaria aberta para os mercados financeiros no último trimestre de 2015 parece ter-se fechado, ao menos parcialmente, neste início de 2016. Nos últimos meses do ano passado, a relativa estabilidade decorria da percepção de que não haveria forte aumento nos juros dos EUA e de que a desaceleração da economia chinesa estaria sob controle.
A conjuntura hoje mudou. As indicações do Fed (o banco central dos EUA) nesta semana ainda reforçam a tendência de alta gradual, mas os últimos dados sobre a indústria da China mostram que o ritmo da economia continua diminuindo, apesar dos esforços das autoridades em sentido contrário.
Esse receio em relação ao gigante asiático ajuda a explicar a reação assustada diante de nova onda de desvalorização do yuan.
Verdade que a oscilação faz parte do objetivo chinês de tornar sua moeda uma referência global. Para tanto, é necessário que, aos poucos, as cotações saiam do controle do governo e passem a ser determinadas pelo mercado.
Uma desvalorização acentuada do yuan, todavia, tem consequências para a economia mundial. Uma delas, especialmente danosa para os países emergentes exportadores de matérias-primas, é a renovada pressão baixista nos preços.
Isso ocorre porque a China é o principal comprador de itens como minério de ferro e metais industriais, cujos preços são fixados em dólar. Conforme o yuan perde valor, os custos sobem em moeda local para os compradores chineses, reduzindo ainda mais a já fraca demanda por importações.
Como resultado, caem os preços em dólares, para prejuízo dos países vendedores, como o Brasil.
Na direção contrária, bens e serviços vendidos por empresas chinesas se tornam mais baratos para quem compra em dólar. Como os concorrentes precisam acompanhar os preços, há algum risco de deflação global.
Por raciocínio análogo, o yuan depreciado provoca o enfraquecimento de moedas emergentes –situação que desperta particular apreensão. É que muitas empresas nesses países se endividaram em dólares nos últimos anos. Com menor crescimento interno e maior pressão nas moedas, as dificuldades de honrar os débitos se elevam.
Pelo menos as economias desenvolvidas continuam a crescer em ritmo razoável, padrão que deve ser favorecido pela queda nos preços do petróleo. Mesmo nesse ponto, contudo, há dúvidas: não se sabe até onde o valor do barril vai cair nem o quanto isso afetará países produtores e empresas do setor.
Tantas incertezas manterão a tensão em alta no mercado financeiro –e, infelizmente para o Brasil, o prejuízo tende a ser maior para os países emergentes, em especial aqueles que suscitam desconfiança entre os investidores.
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