O ex-ministro José Dirceu, chegando à Justiça para prestar depoimento, na última sexta-feira (29)
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, réu na Operação Lava Jato, afirmou em depoimento na última sexta-feira (29) que não vê razões para estar preso em regime fechado. "Eu não consigo aceitar a minha prisão, doutor Moro", disse o petista ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância no Paraná. Dirceu falou por 2 horas e 20 minutos e respondeu perguntas de Moro, do Ministério Público, de advogados de outros réus e do criminalista que o representa no caso, Roberto Podval —os vídeos com o depoimento do ex-ministro, disponíveis na íntegra, foram anexados à ação nesta segunda (1º). Ele criticou sua prisão ao reafirmar que colaborou com a Justiça quando necessário, estava em regime aberto e não fugiria do país.
"Eu estava prestando todas as informações, eu estava no regime aberto em Brasília, domiciliar, eu estou sempre à disposição da Justiça, eu vou assumir o que tiver que assumir", disse Dirceu. "Agora, o que eu não posso é pela segunda vez virar chefe de quadrilha", afirmou, referindo-se ao processo do mensalão. "Se a Justiça do meu país, como me condenou, me condenar a segunda vez, eu vou cumprir."
Ao final de sua fala, Dirceu também mencionou o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu não posso aceitar também qualquer espécie de cassação do registro do PT, criminalização do PT ou a tentativa de envolver o presidente Lula nisso", concluiu.
Petrobras - O trecho do depoimento em que respondeu a perguntas de Moro foi o mais extenso, período durante o qual ele negou ter recebido propina de contratos da Petrobras. "Então o senhor nunca recebeu comissionamentos de contratos da Petrobras?", questionou Moro, já ao fim de suas perguntas. "Não recebi", respondeu Dirceu. "Nem autorizei ninguém a falar em meu nome na Petrobras, usaram o meu nome na Petrobras."
Dirceu disse, ainda, que não foi responsável pela indicação de Renato Duque ao cargo de diretor de Engenharia da Petrobras, conforme outros réus apontaram. "Tudo passa pela Casa Civil", disse o ex-ministro. "Se for assim, doutor, eu indiquei todos os diretores, todos os presidentes de estatais, todos os ministros do governo."
Sobre valores que sua empresa, a JD Assessoria, recebeu tanto de empresas investigadas na Lava Jato como da Jamp Engenharia, do lobista e delator Milton Pascowitch, Dirceu afirmou que os serviços prestados por ele justificavam os valores.
"A atividade fim era eu que exercia. A minha consultoria era personalíssima, de avaliação de conjuntura, de avaliação do momento político internacional, econômico, de abertura de mercados no exterior, avaliação da situação do Brasil, de perspectivas", disse.
Dirceu acrescentou, ainda, ter atuado como consultor apenas no exterior. "Eu sou contratado pelas empresas pelo meu conhecimento, pela minha experiência, pelo meu histórico. E pela representatividade que eu tenho no exterior, pelo menos público e notório. Porque se eu vou a um país como a República Dominicana ou o Panamá, e o presidente da República me recebe, é só porque eu tenho 30 ou 40 anos de militância política e profissional."
Reforma - O petista admitiu que o lobista Milton Pascowitch pagou por uma reforma em sua casa, em Vinhedo (SP). Segundo Dirceu, a operação foi um empréstimo pessoal de Pascowitch a ele, que jamais foi pago. O ex-ministro afirmou passar por dificuldades financeiras.
"Eu devo ao banco cerca de R$ 900 mil, ao Banco do Brasil, tenho um empréstimo rotativo da [empresa de consultoria] JDA no Banco do Brasil que está aumentando — porque nós paramos de pagar impostos", disse no depoimento. "Devo dever de impostos não trabalhista e previdenciário, mas contribuição sobre o lucro e Imposto de Renda pessoa jurídica cerca de mais de R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão", completou. "E meus bens estão bloqueados e não tenho renda nenhuma."
Nenhum comentário:
Postar um comentário