“Oi, Arnaldo, tudo bem?”
— Tudo bem, Arnaldo....
— Por que esta entrevista consigo mesmo?
— É que eu não estou entendendo mais nada do país nem de mim mesmo. É a crise na alma. Preciso saber quem eu sou. Ando numa recessão mental.
— Por quê?
— Porque recessão causa recessão mental. Esses caras, além de arrasarem a nossa infraestrutura econômica, acabam também com nossa infraestrutura psíquica.
— Você lembra como era o Brasil?
— Sim. Era uma merda. Sempre foi, mas havia um doce panorama de ilusões que nos mantinham vivos. Eram ilusões ingênuas, mas simpáticas; havia uma precariedade poética, havia um sonho de futuro, mesmo bobo. Um dia, eles chegaram — como uma porcada magra que invade o batatal —, acabaram com nossas esperanças e não puseram nada no lugar. A catástrofe do governo do PT ironicamente acabou com nosso sonho de futuro em nome de um “futuro” inventado por eles, chupado das cartilhas leninistas que mal leram. Transformaram Marx em bolivariano.
A minha tristeza é que minha geração sempre teve um “fim”. Não conseguíamos raciocinar sem alguma finalidade histórica ou política, sempre em busca de uma felicidade romântica, que acenava para um futuro de paz e harmonia.
— Você é um babaca, Arnaldo...
— Sou sim, xará, nós dois somos babacas românticos finalistas, sem dúvida, mas, veja um exemplo da loucura dessa gangue: os comunas que entraram no poder eram radicalmente contra o chamado “imperialismo americano”. Aí, nos trancaram num nacionalismo burro, bolivo-brizolista e estatizante. Falimos. Resultado: o imperialismo americano agora chegou, comprando nossa indústria sucateada por preço de banana. Dilma e o PT sempre quiseram acabar com o capitalismo. Pois é... Conseguiram! O PT nos trouxe o imperialismo!
— Para de sofrer, Arnaldo...
— Não consigo. Não posso ver o país sendo destruído, nem por guerra, nem por catástrofes naturais inesperadas, mas pela estupidez. O Brasil está sendo destruído pelos delírios primitivos de um bando de idiotas. Suas neuroses pautam o país. Nem falo da roubalheira, mas da bobagem. Vejam a cara do Rui Falcão por exemplo, vejam ali a insistência no erro, querendo refazer a política que nos ferrou. E não nos deixam fazer nada, nem reformas, nada. Os petistas, cutistas e petrolistas não deixam. Ou seja, f*&#ram com tudo e não deixam consertar. É uma cag*da com perda total.
Agora sou obrigado a pensar o insolúvel, a escrever sobre o que fazer com o país e ainda ter de ouvir de intelectuais idiotas que “Lula nos trouxe inegáveis avanços sociais”. Que avanços? O Bolsa Família, agora com correção monetária? Avançaram na Petrobras e nos fundos de pensão, isso sim. Os avanços sociais foram só para os milhares de petistas aparelhados nas frestas do Estado.
— Você também está muito pessimista...
— Já passei por inúmeros sintomas, para ver se me salvava a cuca.
Já fui obsessivo... (“tenho de ajudar a salvar esse país com meus artigos!”) Passei pelo masoquismo... (“tenho mais é de sofrer mesmo, a culpa é de todos nós”)
Cheguei ao narcisismo assumido... (“quer saber? F&*dam-se; vou cultivar meu jardim”) Fiquei ansioso, tive arritmia, pensamentos invasivos e até com a namorada na cama fico pensando no PMDB. Pode?
— Como foi mesmo seu pesadelo outro dia? Conte para os leitores.
— Eu fugia de um enorme urubu que me perseguia em voos rasantes; quase me bicava e era a cara do Cunha, mas depois mudava para a cara do Temer usando a linda cabeleira branca do Delcídio. Eu corria e me via diante das cúpulas do Congresso que tinham virado umas bolhas de gelatina verde e amarela que tremiam e afundavam para os plenários sob uma chuva de perucas acaju e bigodes nordestinos e um grande pixuleco do Lula rodopiando ali na Praça dos Três Poderes. Acordei entre o medo e um alívio vingativo.
— E aí?
— Aí, continuou o pesadelo acordado. Vi programas políticos com as horrendas carantonhas dos candidatos mentindo, enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, enquanto cariocas de porre falam de política e paulistas de porre falam de mercado, com o Estado loteado por pelegos.
Deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, balas perdidas acertando em crianças, imagens do Rio S. Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV.
— E aí? — repito para mim mesmo.
— Eu só consigo pensar em fantasias de vingança. Fantasio que sou do “esquadrão da morte aos políticos”... Já imaginei que invadia o Congresso, vestido de homem-bomba, e explodia o Conselho de Ética. Mas, como bom bipolar, vario para baixo e tenho vontade de entrar num grande buraco e ficar sem os cinco sentidos: não ouvir as negaças dos advogados, não ver a cara do Lula fingindo tranquilidade, não sentir o tato na mão ansiando para dar bofetadas, não quero sentir gosto de merda na boca, não quero ter olfato para o cheiro da lama que escorre em Brasília. Isso — eu quero o nada, nessas horas: os cinco sentidos apagados e eu vagando no espaço sideral de minha mente... Ando na rua em busca de brasilidade e vejo que há algo muito inquietante nas multidões deprimidas.
— Como assim? — pergunto-me, como nos diálogos de maus filmes.
— É que antes havia uma naturalidade mínima na vontade popular. Hoje só vemos projetos desencontrados, sonhos impossíveis, desejos sem rumo, entusiasmos banais.
A crise atinge a todos, menos a duas camadas da sociedade: os muito ricos e os muito pobres. Uns pairam em Miami de bermudas, enquanto os miseráveis nem sabem de crise alguma, pois já vivem no alívio da desesperança.
— Afinal, o que descobriu sobre você, xará?
— Estou de saco cheio de mim mesmo, dessa minha esperançazinha “démodé” e iluminista de articulista do “bem”, impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos. A única solução é o PT sair. É impossível, é insuportável isso durar mais três anos.
— Em suma, você quer o impeachment? — Sim.
— Tudo bem, Arnaldo....
— Por que esta entrevista consigo mesmo?
— É que eu não estou entendendo mais nada do país nem de mim mesmo. É a crise na alma. Preciso saber quem eu sou. Ando numa recessão mental.
— Por quê?
— Porque recessão causa recessão mental. Esses caras, além de arrasarem a nossa infraestrutura econômica, acabam também com nossa infraestrutura psíquica.
— Você lembra como era o Brasil?
— Sim. Era uma merda. Sempre foi, mas havia um doce panorama de ilusões que nos mantinham vivos. Eram ilusões ingênuas, mas simpáticas; havia uma precariedade poética, havia um sonho de futuro, mesmo bobo. Um dia, eles chegaram — como uma porcada magra que invade o batatal —, acabaram com nossas esperanças e não puseram nada no lugar. A catástrofe do governo do PT ironicamente acabou com nosso sonho de futuro em nome de um “futuro” inventado por eles, chupado das cartilhas leninistas que mal leram. Transformaram Marx em bolivariano.
A minha tristeza é que minha geração sempre teve um “fim”. Não conseguíamos raciocinar sem alguma finalidade histórica ou política, sempre em busca de uma felicidade romântica, que acenava para um futuro de paz e harmonia.
— Você é um babaca, Arnaldo...
— Sou sim, xará, nós dois somos babacas românticos finalistas, sem dúvida, mas, veja um exemplo da loucura dessa gangue: os comunas que entraram no poder eram radicalmente contra o chamado “imperialismo americano”. Aí, nos trancaram num nacionalismo burro, bolivo-brizolista e estatizante. Falimos. Resultado: o imperialismo americano agora chegou, comprando nossa indústria sucateada por preço de banana. Dilma e o PT sempre quiseram acabar com o capitalismo. Pois é... Conseguiram! O PT nos trouxe o imperialismo!
— Para de sofrer, Arnaldo...
— Não consigo. Não posso ver o país sendo destruído, nem por guerra, nem por catástrofes naturais inesperadas, mas pela estupidez. O Brasil está sendo destruído pelos delírios primitivos de um bando de idiotas. Suas neuroses pautam o país. Nem falo da roubalheira, mas da bobagem. Vejam a cara do Rui Falcão por exemplo, vejam ali a insistência no erro, querendo refazer a política que nos ferrou. E não nos deixam fazer nada, nem reformas, nada. Os petistas, cutistas e petrolistas não deixam. Ou seja, f*&#ram com tudo e não deixam consertar. É uma cag*da com perda total.
Agora sou obrigado a pensar o insolúvel, a escrever sobre o que fazer com o país e ainda ter de ouvir de intelectuais idiotas que “Lula nos trouxe inegáveis avanços sociais”. Que avanços? O Bolsa Família, agora com correção monetária? Avançaram na Petrobras e nos fundos de pensão, isso sim. Os avanços sociais foram só para os milhares de petistas aparelhados nas frestas do Estado.
— Você também está muito pessimista...
— Já passei por inúmeros sintomas, para ver se me salvava a cuca.
Já fui obsessivo... (“tenho de ajudar a salvar esse país com meus artigos!”) Passei pelo masoquismo... (“tenho mais é de sofrer mesmo, a culpa é de todos nós”)
Cheguei ao narcisismo assumido... (“quer saber? F&*dam-se; vou cultivar meu jardim”) Fiquei ansioso, tive arritmia, pensamentos invasivos e até com a namorada na cama fico pensando no PMDB. Pode?
— Como foi mesmo seu pesadelo outro dia? Conte para os leitores.
— Eu fugia de um enorme urubu que me perseguia em voos rasantes; quase me bicava e era a cara do Cunha, mas depois mudava para a cara do Temer usando a linda cabeleira branca do Delcídio. Eu corria e me via diante das cúpulas do Congresso que tinham virado umas bolhas de gelatina verde e amarela que tremiam e afundavam para os plenários sob uma chuva de perucas acaju e bigodes nordestinos e um grande pixuleco do Lula rodopiando ali na Praça dos Três Poderes. Acordei entre o medo e um alívio vingativo.
— E aí?
— Aí, continuou o pesadelo acordado. Vi programas políticos com as horrendas carantonhas dos candidatos mentindo, enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, enquanto cariocas de porre falam de política e paulistas de porre falam de mercado, com o Estado loteado por pelegos.
Deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, balas perdidas acertando em crianças, imagens do Rio S. Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres conformados com sua desgraça na TV.
— E aí? — repito para mim mesmo.
— Eu só consigo pensar em fantasias de vingança. Fantasio que sou do “esquadrão da morte aos políticos”... Já imaginei que invadia o Congresso, vestido de homem-bomba, e explodia o Conselho de Ética. Mas, como bom bipolar, vario para baixo e tenho vontade de entrar num grande buraco e ficar sem os cinco sentidos: não ouvir as negaças dos advogados, não ver a cara do Lula fingindo tranquilidade, não sentir o tato na mão ansiando para dar bofetadas, não quero sentir gosto de merda na boca, não quero ter olfato para o cheiro da lama que escorre em Brasília. Isso — eu quero o nada, nessas horas: os cinco sentidos apagados e eu vagando no espaço sideral de minha mente... Ando na rua em busca de brasilidade e vejo que há algo muito inquietante nas multidões deprimidas.
— Como assim? — pergunto-me, como nos diálogos de maus filmes.
— É que antes havia uma naturalidade mínima na vontade popular. Hoje só vemos projetos desencontrados, sonhos impossíveis, desejos sem rumo, entusiasmos banais.
A crise atinge a todos, menos a duas camadas da sociedade: os muito ricos e os muito pobres. Uns pairam em Miami de bermudas, enquanto os miseráveis nem sabem de crise alguma, pois já vivem no alívio da desesperança.
— Afinal, o que descobriu sobre você, xará?
— Estou de saco cheio de mim mesmo, dessa minha esperançazinha “démodé” e iluminista de articulista do “bem”, impotente diante do cinismo vencedor de criminosos políticos. A única solução é o PT sair. É impossível, é insuportável isso durar mais três anos.
— Em suma, você quer o impeachment? — Sim.
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