Por: Padre Paulo Nunes de Araujo.
A “Semana Santa” surgiu já nos primórdios do cristianismo quando as comunidades cristãs em Jerusalém se reuniam, na Sexta-feira e no Sábado, mediante rigoroso jejum, recordando o sofrimento e a morte de Jesus, ou seja, rememorando “os dias em que nos foi tirado o esposo” (diebus in quibus ablatus est sponsus: Cf. Mt 9,15; Mc 2,20). Dessa forma, se preparavam para a festa da Páscoa, no Domingo, em que celebravam a memória da ressurreição de Jesus. Posteriormente, a observância do jejum passou a ser praticada também na Quarta-feira para lembrar o dia em que os chefes judeus decidiram prender Jesus, isto é, “porque nesse dia começaram os judeus a tramar a perda do Senhor” (propter initum a Iudaeis consilium de proditione Domini: Cf. Mc 3,6; 14,1-2; Lc 6,11; 19,47; 20,19a; 22,2). Tudo isto ocorria mais fortemente em Jerusalém porque provavelmente ali permaneciam mais vivas as lembranças dos últimos dias de Jesus. Essas solenidades passaram a ser imitadas pelas Igrejas do Oriente e depois pelas Igrejas européias. Esses dias eram também de descanso para todos os servos e escravos. Em algumas Igrejas em Jerusalém eram celebradas todas as noites vigílias solenes com orações e leituras bíblicas, e com a celebração da Eucaristia. Em meados do Século III, já se observava o jejum em todos os dias da Semana Santa. Resumidamente, a Semana Santa assim se desdobra:
1) Quinta-feira Santa - Por volta do Século V, chamava-se “Feria quinta in Coena Domini” (Quinta-feira da Ceia do Senhor). Em alguns lugares chamava-se “Dia da Traição”. Costumava-se chamar também de Quinta-feira de “Endoenças” (corruptela popular do latim: indulgêntia: indulgências, daí: endoenças), o dia do perdão, do indulto, da expiação dos pecados, da clemência. No século VI, iniciou-se o costume de fazer neste dia a "bênção dos óleos", a serem usados nos Sacramentos do Batismo, da Crisma e da Unção dos Enfermos. Nessa Missa dos Santos Óleos, celebra-se a instituição do Sacramento da Ordem. A Quinta-feira Santa é marcada pela instituição da Eucaristia, a “Ceia do Senhor”, simbolizada pelo amor serviçal (o lava-pés). Desde o século VI, a cerimônia do “lava-pés” procura reproduzir ritualmente o gesto de Jesus que lavou os pés de seus discípulos, como prova de amor e disposição para servir. O lava-pés era chamado também de Mandatum, para recordar o "mandamento novo" de Jesus. Em Roma, o papa lavava os pés de treze pobres, aos quais tinha servido uma ceia. Para o papa Gregório I, conhecido como Gregório Magno (590-604), este 13º pobre seria o próprio Cristo disfarçado de mendigo. Atualmente, logo após a Eucaristia, o altar é deixado sem nenhuma toalha. Com este gesto simbólico, recordamos a denudação de Cristo antes de sua crucificação. Além disso, o Santíssimo é transladado para um lugar preparado à parte, a fim de levar os fiéis a fazerem algum momento de adoração, de vigília, meditando a hora difícil de Jesus no Jardim das Oliveiras e de oração por todos os que atualmente sofrem, pois neles, Jesus continua sofrendo.
2) Sexta-feira Santa - Inicialmente, este dia chamava-se “Paraskeve” (do grego: paraskeué: preparação; por extensão: “véspera do sábado”, sexta-feira). Segundo o evangelista João, é nesse dia que Jesus foi crucificado: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados” (Jo 19,31). Tertuliano (155-222), um dos mais importantes escritores eclesiásticos da antiguidade, deu-lhe o nome de “Dies Paschae” (Dia da Páscoa). Santo Ambrósio (340-397) chamava a Sexta-feira de “Dies amaritudinis” (Dia do amargor, da tristeza), por ser o grande dia de luto para a Igreja. Ainda hoje, também é chamada de Sexta-feira Maior. A liturgia deste dia é composta de três partes:
a) Liturgia da Palavra - A liturgia começa diretamente com leituras dos profetas, cantos e a leitura dialogada da Paixão. Em seguida, a Oração Universal, apresentando as necessidades da Igreja e do mundo. A tradição dessas orações, abandonada no século VI, foi retomada pela nova liturgia depois do Concílio Vaticano II, que acabou introduzindo em todas as Missas as assim chamadas “Oração dos fiéis” ou “Oração da assembléia”.
b) Adoração da Cruz - Quanto a isso, é preciso antes esclarecer: a palavra “adoração”“veneração solene”. Adoração, no sentido próprio, pode ser prestada só a Deus. A cerimônia da Adoração da Cruz, teve origem em Jerusalém, no século IV, depois que Constantino encontrou as relíquias da Cruz do Salvador. Aos poucos a cerimônia foi sendo adotada também por outras cidades onde havia relíquias da Cruz. Mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. Prestando uma veneração especial à Cruz ou ao Crucifixo, manifestamos nossa fé no Cristo Redentor, que nos salvou por sua morte. Adorando a cruz, é ao Cristo que de fato devemos adorar, reconhecendo nele o Filho de Deus encarnado e oferecido em sacrifício por amor a nós. Portanto, o sentido desta “adoração” é contemplar Jesus que, morto na cruz, ascendeu dela.
significa apenas
c) Rito da Comunhão - Desde os primórdios, não foi costume celebrar a Missa na Sexta-feira Santa. A razão é que assim a Igreja manifesta seu luto pela morte do Salvador. Até o século VIII não havia nem mesmo a comunhão, que só aos poucos foi introduzida na liturgia do dia. Em l622, foi proibida a comunhão dos fiéis. Isso continuou até recentemente, quando foi reintroduzida, após o Concílio Vaticano II. É bom lembrar que neste dia não se consagram as hóstias, pois já foram consagradas na Quinta-feira Santa.
Mais aqui > Para entender e viver plenamente a Semana Santa
A “Semana Santa” surgiu já nos primórdios do cristianismo quando as comunidades cristãs em Jerusalém se reuniam, na Sexta-feira e no Sábado, mediante rigoroso jejum, recordando o sofrimento e a morte de Jesus, ou seja, rememorando “os dias em que nos foi tirado o esposo” (diebus in quibus ablatus est sponsus: Cf. Mt 9,15; Mc 2,20). Dessa forma, se preparavam para a festa da Páscoa, no Domingo, em que celebravam a memória da ressurreição de Jesus. Posteriormente, a observância do jejum passou a ser praticada também na Quarta-feira para lembrar o dia em que os chefes judeus decidiram prender Jesus, isto é, “porque nesse dia começaram os judeus a tramar a perda do Senhor” (propter initum a Iudaeis consilium de proditione Domini: Cf. Mc 3,6; 14,1-2; Lc 6,11; 19,47; 20,19a; 22,2). Tudo isto ocorria mais fortemente em Jerusalém porque provavelmente ali permaneciam mais vivas as lembranças dos últimos dias de Jesus. Essas solenidades passaram a ser imitadas pelas Igrejas do Oriente e depois pelas Igrejas européias. Esses dias eram também de descanso para todos os servos e escravos. Em algumas Igrejas em Jerusalém eram celebradas todas as noites vigílias solenes com orações e leituras bíblicas, e com a celebração da Eucaristia. Em meados do Século III, já se observava o jejum em todos os dias da Semana Santa. Resumidamente, a Semana Santa assim se desdobra:
1) Quinta-feira Santa - Por volta do Século V, chamava-se “Feria quinta in Coena Domini” (Quinta-feira da Ceia do Senhor). Em alguns lugares chamava-se “Dia da Traição”. Costumava-se chamar também de Quinta-feira de “Endoenças” (corruptela popular do latim: indulgêntia: indulgências, daí: endoenças), o dia do perdão, do indulto, da expiação dos pecados, da clemência. No século VI, iniciou-se o costume de fazer neste dia a "bênção dos óleos", a serem usados nos Sacramentos do Batismo, da Crisma e da Unção dos Enfermos. Nessa Missa dos Santos Óleos, celebra-se a instituição do Sacramento da Ordem. A Quinta-feira Santa é marcada pela instituição da Eucaristia, a “Ceia do Senhor”, simbolizada pelo amor serviçal (o lava-pés). Desde o século VI, a cerimônia do “lava-pés” procura reproduzir ritualmente o gesto de Jesus que lavou os pés de seus discípulos, como prova de amor e disposição para servir. O lava-pés era chamado também de Mandatum, para recordar o "mandamento novo" de Jesus. Em Roma, o papa lavava os pés de treze pobres, aos quais tinha servido uma ceia. Para o papa Gregório I, conhecido como Gregório Magno (590-604), este 13º pobre seria o próprio Cristo disfarçado de mendigo. Atualmente, logo após a Eucaristia, o altar é deixado sem nenhuma toalha. Com este gesto simbólico, recordamos a denudação de Cristo antes de sua crucificação. Além disso, o Santíssimo é transladado para um lugar preparado à parte, a fim de levar os fiéis a fazerem algum momento de adoração, de vigília, meditando a hora difícil de Jesus no Jardim das Oliveiras e de oração por todos os que atualmente sofrem, pois neles, Jesus continua sofrendo.
2) Sexta-feira Santa - Inicialmente, este dia chamava-se “Paraskeve” (do grego: paraskeué: preparação; por extensão: “véspera do sábado”, sexta-feira). Segundo o evangelista João, é nesse dia que Jesus foi crucificado: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados” (Jo 19,31). Tertuliano (155-222), um dos mais importantes escritores eclesiásticos da antiguidade, deu-lhe o nome de “Dies Paschae” (Dia da Páscoa). Santo Ambrósio (340-397) chamava a Sexta-feira de “Dies amaritudinis” (Dia do amargor, da tristeza), por ser o grande dia de luto para a Igreja. Ainda hoje, também é chamada de Sexta-feira Maior. A liturgia deste dia é composta de três partes:
a) Liturgia da Palavra - A liturgia começa diretamente com leituras dos profetas, cantos e a leitura dialogada da Paixão. Em seguida, a Oração Universal, apresentando as necessidades da Igreja e do mundo. A tradição dessas orações, abandonada no século VI, foi retomada pela nova liturgia depois do Concílio Vaticano II, que acabou introduzindo em todas as Missas as assim chamadas “Oração dos fiéis” ou “Oração da assembléia”.
b) Adoração da Cruz - Quanto a isso, é preciso antes esclarecer: a palavra “adoração”“veneração solene”. Adoração, no sentido próprio, pode ser prestada só a Deus. A cerimônia da Adoração da Cruz, teve origem em Jerusalém, no século IV, depois que Constantino encontrou as relíquias da Cruz do Salvador. Aos poucos a cerimônia foi sendo adotada também por outras cidades onde havia relíquias da Cruz. Mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. Prestando uma veneração especial à Cruz ou ao Crucifixo, manifestamos nossa fé no Cristo Redentor, que nos salvou por sua morte. Adorando a cruz, é ao Cristo que de fato devemos adorar, reconhecendo nele o Filho de Deus encarnado e oferecido em sacrifício por amor a nós. Portanto, o sentido desta “adoração” é contemplar Jesus que, morto na cruz, ascendeu dela.
significa apenas
c) Rito da Comunhão - Desde os primórdios, não foi costume celebrar a Missa na Sexta-feira Santa. A razão é que assim a Igreja manifesta seu luto pela morte do Salvador. Até o século VIII não havia nem mesmo a comunhão, que só aos poucos foi introduzida na liturgia do dia. Em l622, foi proibida a comunhão dos fiéis. Isso continuou até recentemente, quando foi reintroduzida, após o Concílio Vaticano II. É bom lembrar que neste dia não se consagram as hóstias, pois já foram consagradas na Quinta-feira Santa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário