Editorial - Folha de SP
A composição da comissão especial de senadores que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff deixa a petista praticamente sem esperanças, ao menos nesta fase inicial. De seus 21 integrantes, 15 se declaram favoráveis à instauração do processo de impedimento no Senado. A não ser que haja uma reviravolta a esta altura tida como impossível, o colegiado aprovará parecer nesse sentido.
Tudo indica que o plenário da Casa, responsável por dar a palavra final sobre o assunto, concordará com a comissão especial. Segundo levantamento desta Folha, pelo menos 50 dos 81 senadores afirmam que votarão pela abertura do processo, mais do que os 41 suficientes para tanto.
A situação muda de figura, contudo, quando se trata da condenação definitiva da presidente. Por ora, somente 39 senadores anteciparam juízo favorável ao impeachment, montante inferior aos 54 exigidos pela Constituição.
Pode-se supor, sem medo de errar, que o placar da segunda enquete sofrerá muitas alterações. Quando estiver afastada do cargo por até 180 dias, como consequência da primeira votação a ser feita no Senado, em maio, Dilma perderá quase toda a condição de resistir.
As duas sondagens, de todo modo, aumentam a pressão sobre o vice-presidente Michel Temer.
Sendo certo que dentro de algumas semanas assumirá o comando do Executivo, o peemedebista não tem tempo a perder. Precisa definir os nomes que ocuparão seu gabinete, de modo a anunciá-lo assim que Dilma for afastada. A tarefa parece gerar apenas custos.
Sem poder bater o martelo de antemão, sob pena de reforçar a pecha de conspirador, Temer nada pode fazer para impedir a desgastante disputa por espaço em seu governo. Além disso, cada recusa vazada à imprensa se traduz em perda de seu capital político.
O tabuleiro se complica ainda mais porque, para o peemedebista se tornar de fato presidente, no mínimo mais 15 senadores precisarão ser convencidos a votar pelo afastamento definitivo de Dilma, dentro de alguns meses. Ao montar seu ministério, portanto, o vice-presidente haverá de levar em consideração essa circunstância.
Ocorre que, ao distribuir suas pastas com base em critérios políticos, e não técnicos, Temer correrá sério risco de desagradar setores que depositam esperanças em seu governo. Se, por esses motivos, a economia continuar patinando, a nova administração logo será condenada pela sociedade.
Nesse cenário, que por enquanto não passa de especulação, os senadores indecisos terão poucos incentivos para punir Dilma Rousseff, mas dificilmente gostarão de lhe devolver a Presidência.
Outras saídas, como a realização de eleições presidenciais, talvez ganhem cada vez mais força –hipótese que não deveria ser descartada numa crise caracterizada sobretudo pela incerteza.
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