Por Eliane Cantanhêde - Estadão
Em discurso para líderes partidários de vários continentes, ontem, Lula comparou a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara a “um pelotão de fuzilamento composto pelo que há de mais repugnante na política”. Só esqueceu de um detalhe: esse mesmo pelotão integrou o seu governo, e o da própria Dilma, durante longos 13 anos. Eram o que há de melhor e viraram o que há de mais repugnante. Mágica!
Por falar nisso, Michel Temer, o “traidor” e “conspirador” escolhido por Lula e Dilma para a Vice-Presidência do primeiro e do segundo mandato dela, está, respaldado pela Constituição e atento ao processo de impeachment no Senado, afunilando a escolha do ministro da Fazenda em dois nomes: Henrique Meirelles e, como Plano B, Murilo Portugal.
Será que Lula vai ter coragem de dizer que Meirelles, presidente do Banco Central e homem forte da economia nos oito anos do seu mandato, também está entre o que há de “mais repugnante” na política e na vida nacional? Lula tem se mostrado capaz de tudo, mas iria tão longe?
Meireles não é santo e também é polêmico, mas, além de ter prestígio interno e internacional, tem outra imensa vantagem: atinge o coração do discurso lulista e governista de que há um “golpe” e tudo desandou por culpa da oposição. Maestro da política econômica na época da euforia com Lula, ele é um contraponto desconfortável para a era Dilma, que levou o País à beira do precipício, com as contas públicas em frangalhos, risco de três inéditos anos de recessão, quebradeira, desemprego e mau humor.
Em 11/5/2014, bem no meio da campanha eleitoral, quando foi rejeitado por Dilma e era cortejado como vice na chapa do tucano Aécio Neves, Meirelles publicou um artigo, sob o título Pecados Nada Originais, com críticas claras, assumidas e ácidas à “nova matriz econômica” que, inventada no governo Dilma, deu no que deu. Está ali, em Dilma e no fim dos anos Lula, a origem da crise, não na oposição.
Durante a maior parte dos cinco anos de Dilma, já com as coisas indo ladeira abaixo, Lula advertiu que as extravagâncias da pupila não dariam certo e fez de tudo para derrubar José Eduardo Cardozo, Joaquim Levy e, depois, Nelson Barbosa. Sua intenção era impor Nelson Jobim na Justiça e Meirelles na Fazenda. Dilma, teimosa como uma porta, nunca aceitou.
Resultado: agora, com a casa arrombada, ela assiste ao longe, impotente, passando vergonha, as negociações de Temer com os dois “notáveis” que Lula defendeu e ela sempre recusou. Jobim seria um grande nome no governo pós-impeachment, não fosse ele advogado de empreiteiras da Lava Jato. E Meirelles só não irá para a Fazenda se não quiser. Neste caso, abrindo a porta para Murilo Portugal. Aceitando o cargo, Meirelles seria um troféu e tanto na dissidência maciça que atropela Dilma e que, repugnante ou não, foi disputada a tapas por Lula, no seu quarto de hotel, e pela própria Dilma, ainda em palácio.
O ex-BC foi só mais um entre os mais de dez ministros lulistas que não votaram em Dilma na reeleição de 2014, quando ela ganhou com um discurso falacioso que enganou milhões de pessoas, mas não quem conhece a história de dentro. Hoje, porém, ele seria mais do que isso. Seria “o” ministro do governo Temer, para corrigir tantos e tão variados erros que sua inimiga cometeu e que estão lhe custando o mandato.
Agora é esperar para ver como Lula se comportará diante de um Meirelles “lulista”, “financista”, “anti-Dilma” e obrigado a fazer um ajuste fiscal que o ex-presidente sabe que é fundamental. Será que, se Meirelles virar o nome forte de Temer na economia, Lula terá que ficar de boca calada pela primeira vez na vida? Ou será que ele vai descascar em cima de Meirelles, enquanto os petistas, como sempre, fingem que não sabem quem é e juram que não têm nada a ver com esse “repugnante” Henrique Meirelles?
Em discurso para líderes partidários de vários continentes, ontem, Lula comparou a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara a “um pelotão de fuzilamento composto pelo que há de mais repugnante na política”. Só esqueceu de um detalhe: esse mesmo pelotão integrou o seu governo, e o da própria Dilma, durante longos 13 anos. Eram o que há de melhor e viraram o que há de mais repugnante. Mágica!
Por falar nisso, Michel Temer, o “traidor” e “conspirador” escolhido por Lula e Dilma para a Vice-Presidência do primeiro e do segundo mandato dela, está, respaldado pela Constituição e atento ao processo de impeachment no Senado, afunilando a escolha do ministro da Fazenda em dois nomes: Henrique Meirelles e, como Plano B, Murilo Portugal.
Será que Lula vai ter coragem de dizer que Meirelles, presidente do Banco Central e homem forte da economia nos oito anos do seu mandato, também está entre o que há de “mais repugnante” na política e na vida nacional? Lula tem se mostrado capaz de tudo, mas iria tão longe?
Meireles não é santo e também é polêmico, mas, além de ter prestígio interno e internacional, tem outra imensa vantagem: atinge o coração do discurso lulista e governista de que há um “golpe” e tudo desandou por culpa da oposição. Maestro da política econômica na época da euforia com Lula, ele é um contraponto desconfortável para a era Dilma, que levou o País à beira do precipício, com as contas públicas em frangalhos, risco de três inéditos anos de recessão, quebradeira, desemprego e mau humor.
Em 11/5/2014, bem no meio da campanha eleitoral, quando foi rejeitado por Dilma e era cortejado como vice na chapa do tucano Aécio Neves, Meirelles publicou um artigo, sob o título Pecados Nada Originais, com críticas claras, assumidas e ácidas à “nova matriz econômica” que, inventada no governo Dilma, deu no que deu. Está ali, em Dilma e no fim dos anos Lula, a origem da crise, não na oposição.
Durante a maior parte dos cinco anos de Dilma, já com as coisas indo ladeira abaixo, Lula advertiu que as extravagâncias da pupila não dariam certo e fez de tudo para derrubar José Eduardo Cardozo, Joaquim Levy e, depois, Nelson Barbosa. Sua intenção era impor Nelson Jobim na Justiça e Meirelles na Fazenda. Dilma, teimosa como uma porta, nunca aceitou.
Resultado: agora, com a casa arrombada, ela assiste ao longe, impotente, passando vergonha, as negociações de Temer com os dois “notáveis” que Lula defendeu e ela sempre recusou. Jobim seria um grande nome no governo pós-impeachment, não fosse ele advogado de empreiteiras da Lava Jato. E Meirelles só não irá para a Fazenda se não quiser. Neste caso, abrindo a porta para Murilo Portugal. Aceitando o cargo, Meirelles seria um troféu e tanto na dissidência maciça que atropela Dilma e que, repugnante ou não, foi disputada a tapas por Lula, no seu quarto de hotel, e pela própria Dilma, ainda em palácio.
O ex-BC foi só mais um entre os mais de dez ministros lulistas que não votaram em Dilma na reeleição de 2014, quando ela ganhou com um discurso falacioso que enganou milhões de pessoas, mas não quem conhece a história de dentro. Hoje, porém, ele seria mais do que isso. Seria “o” ministro do governo Temer, para corrigir tantos e tão variados erros que sua inimiga cometeu e que estão lhe custando o mandato.
Agora é esperar para ver como Lula se comportará diante de um Meirelles “lulista”, “financista”, “anti-Dilma” e obrigado a fazer um ajuste fiscal que o ex-presidente sabe que é fundamental. Será que, se Meirelles virar o nome forte de Temer na economia, Lula terá que ficar de boca calada pela primeira vez na vida? Ou será que ele vai descascar em cima de Meirelles, enquanto os petistas, como sempre, fingem que não sabem quem é e juram que não têm nada a ver com esse “repugnante” Henrique Meirelles?
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