Editorial - Folha de SP
Sem ter a mesma coloração de escândalo que revestia as declarações de Romero Jucá (PMDB-RR), recém-exonerado do cargo de ministro do Planejamento, são ainda assim suspeitas as conversas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-senador José Sarney (PMDB-AP) que acabam de ser reveladas. Trata-se, nos três casos, de diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que se abrem ao conhecimento público nas reportagens desta Folha.
Enquanto Jucá associava as movimentações pelo impeachment ao esforço de pactuar, por trás dos panos, um freio à Operação Lava Jato, Calheiros adotou um enfoque mais institucional, embora longe de parecer desinteressado.
Teceu considerações sobre o mecanismo da delação premiada e sobre recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que passou a permitir a prisão de réus condenados em segunda instância, mesmo se ainda não esgotados os recursos judiciais cabíveis.
Impunha-se, para Calheiros, regulamentar a delação, impossibilitando que presos colaborem com a Justiça. Diga-se que muitos advogados criticam o que entendem ser o uso da prisão preventiva como instrumento de pressão com vistas a obter denúncias e provas.
Não terá sido discussão doutrinária, contudo, o colóquio entre Renan e Sérgio Machado. O presidente do Senado debatia alternativas possíveis, naquele momento, para a permanência de Dilma Rousseff (PT) e para os desconfortos causados pela Lava Jato.
Antes de "passar a borracha", cochichou Renan, seria necessário "negociar a transição" com o STF; em meio a esse processo é que se viria a manietar a investigação —por meio de alteração legislativa.
Ao estriduloso e destemperado flautim de Jucá, o concerto contra a Lava Jato acrescentou, portanto, a pauta de fundo ensaiada pelo acordeom de Calheiros nas audições de Machado.
Fez-se agora o trio, com o ex-presidente da República José Sarney empunhando discretas maracas. Prometeu a Machado que o ajudaria a impedir o encaminhamento de seu processo às mãos do célere e rigoroso juiz Sergio Moro.
Não se sabe ao certo quantos outros virtuoses da dissimulação irão acrescentar-se ao trio peemedebista já registrado nesses áudios.
A experiência da Operação Mãos Limpas, na Itália, mostra com eloquência a dedicação dos políticos quando se trata de interromper tudo o que desvele suas práticas corruptas. A sociedade brasileira está atenta, contudo —e farta dos que, tanto do lado do PT quanto do de seus opositores, insistem em escarnecer da lei e burlar a Justiça.
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