Por Marcia Dessen - Folha de SP
O crédito rotativo dos cartões pode estar com os dias contados. A solução para os problemas dos milhares, talvez milhões, de usuários que usam esse crédito de forma equivocada não virá por iniciativa dos usuários, mas pelas mãos dos grandes bancos que oferecem essa modalidade. Tudo indica que eles concluíram que "o crime não compensa".
Muito além das perdas financeiras provocadas pela inadimplência dos que não pagam suas dívidas, o mal maior provocado pelo produto é o dano na imagem do banco, visto como vilão e responsável por todos os males.
Outro problema que os bancos querem resolver diz respeito ao relacionamento com clientes que, feridos de morte pelo uso inadequado do produto, fecham a porta e deixam de se relacionar com eles para sempre.
Interessante notar que foi do criador a iniciativa de matar a criatura que, fora de controle, provoca mais mal do que bem. O ideal seria que o usuário fosse responsável pelo uso do rotativo do cartão, entendesse o tipo de crédito, a que se destina, quanto custa e quando pode ser usado. O culpado não é o produto em si, mas como ele é usado.
É evidente que a responsabilidade é de ambos, de quem vende e de quem compra o produto. Os agentes de marketing são perspicazes, conhecem a fraqueza humana e transformam o cartão no realizador de sonhos, tornam tangíveis as coisas que, em tese, não têm preço.
O consumidor, maravilhado pelo poder que ele desconhecia ter, se deixa envolver pela perspectiva de realizar seus sonhos de consumo, de finalmente ter o que todo o mundo tem. Com aquele pedacinho de plástico na mão, o consumidor se apodera de uma força estranha e arrebatadora, em busca do que parece ser a felicidade. Só que não.
A fatura do cartão chega implacável. O vencimento está perto. Dinheiro para pagar a orgia de compras? Não existe, não está no orçamento. Os juros do crédito rotativo são tão altos que a própria empresa oferece outro crédito, mais barato, sinalizando o caminho a seguir.
No rotativo o usuário paga a parcela mínima de 15% e usa o limite, sem vencimento, para financiar o restante. A opção menos ruim colocada na mesa é parcelar o pagamento da fatura, assumindo o compromisso de quitar a fatura em determinada quantidade de parcelas, com vencimento certo. A ideia é que o simples planejamento aumenta a probabilidade de essa história acabar bem. O risco cai, os juros também.
Já que o usuário não tem noção do perigo e não sabe a hora de parar, as empresas pensam limitar o prazo de permanência no rotativo, migrando a operação para outro tipo de dívida, mais barata, com maior probabilidade de ser paga. "Amém! Ainda bem que alguém tomou a decisão que não fui capaz de tomar sozinho!", dirão os consumidores, beneficiados por essa previdente estratégia das empresas administradoras dos cartões de crédito.
Estudos preliminares indicam que 30 dias é o limite de tempo para permitir o uso desse crédito de sabor tão amargo que não beneficia nem a gregos nem a troianos. Outro crédito será oferecido para substituir o que mata se tomado em dose exagerada ou por tempo maior do que o recomendado. Curioso o relato de que muitos usuários relutam em fazer a troca! Talvez pela percepção de perda, não do cartão em si, mas do que ele representa.
Outros aceitam a oferta e concordam em trocar a modalidade de crédito para financiar seu consumo. Devem ficar curiosos, talvez surpresos, de ver a empresa tomar a iniciativa de oferecer crédito com juros menores. Em tese elas ganham mais quanto maior os juros que cobram. O problema é que as empresas e os bancos só ganham quando o usuário paga, se pagar.
A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) está desenvolvendo o estudo e deve apresentar, nos próximos meses, proposta para reduzir gradativamente o uso do rotativo do cartão. Sua extinção não está descartada. A oferta de crédito substituto será feita de acordo com o posicionamento estratégico de cada empresa.
Trata-se de iniciativa do setor privado que não depende de autorização do governo. Entretanto, o Banco Central deve ser consultado.
O crédito rotativo dos cartões pode estar com os dias contados. A solução para os problemas dos milhares, talvez milhões, de usuários que usam esse crédito de forma equivocada não virá por iniciativa dos usuários, mas pelas mãos dos grandes bancos que oferecem essa modalidade. Tudo indica que eles concluíram que "o crime não compensa".
Muito além das perdas financeiras provocadas pela inadimplência dos que não pagam suas dívidas, o mal maior provocado pelo produto é o dano na imagem do banco, visto como vilão e responsável por todos os males.
Outro problema que os bancos querem resolver diz respeito ao relacionamento com clientes que, feridos de morte pelo uso inadequado do produto, fecham a porta e deixam de se relacionar com eles para sempre.
Interessante notar que foi do criador a iniciativa de matar a criatura que, fora de controle, provoca mais mal do que bem. O ideal seria que o usuário fosse responsável pelo uso do rotativo do cartão, entendesse o tipo de crédito, a que se destina, quanto custa e quando pode ser usado. O culpado não é o produto em si, mas como ele é usado.
É evidente que a responsabilidade é de ambos, de quem vende e de quem compra o produto. Os agentes de marketing são perspicazes, conhecem a fraqueza humana e transformam o cartão no realizador de sonhos, tornam tangíveis as coisas que, em tese, não têm preço.
O consumidor, maravilhado pelo poder que ele desconhecia ter, se deixa envolver pela perspectiva de realizar seus sonhos de consumo, de finalmente ter o que todo o mundo tem. Com aquele pedacinho de plástico na mão, o consumidor se apodera de uma força estranha e arrebatadora, em busca do que parece ser a felicidade. Só que não.
A fatura do cartão chega implacável. O vencimento está perto. Dinheiro para pagar a orgia de compras? Não existe, não está no orçamento. Os juros do crédito rotativo são tão altos que a própria empresa oferece outro crédito, mais barato, sinalizando o caminho a seguir.
No rotativo o usuário paga a parcela mínima de 15% e usa o limite, sem vencimento, para financiar o restante. A opção menos ruim colocada na mesa é parcelar o pagamento da fatura, assumindo o compromisso de quitar a fatura em determinada quantidade de parcelas, com vencimento certo. A ideia é que o simples planejamento aumenta a probabilidade de essa história acabar bem. O risco cai, os juros também.
Já que o usuário não tem noção do perigo e não sabe a hora de parar, as empresas pensam limitar o prazo de permanência no rotativo, migrando a operação para outro tipo de dívida, mais barata, com maior probabilidade de ser paga. "Amém! Ainda bem que alguém tomou a decisão que não fui capaz de tomar sozinho!", dirão os consumidores, beneficiados por essa previdente estratégia das empresas administradoras dos cartões de crédito.
Estudos preliminares indicam que 30 dias é o limite de tempo para permitir o uso desse crédito de sabor tão amargo que não beneficia nem a gregos nem a troianos. Outro crédito será oferecido para substituir o que mata se tomado em dose exagerada ou por tempo maior do que o recomendado. Curioso o relato de que muitos usuários relutam em fazer a troca! Talvez pela percepção de perda, não do cartão em si, mas do que ele representa.
Outros aceitam a oferta e concordam em trocar a modalidade de crédito para financiar seu consumo. Devem ficar curiosos, talvez surpresos, de ver a empresa tomar a iniciativa de oferecer crédito com juros menores. Em tese elas ganham mais quanto maior os juros que cobram. O problema é que as empresas e os bancos só ganham quando o usuário paga, se pagar.
A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) está desenvolvendo o estudo e deve apresentar, nos próximos meses, proposta para reduzir gradativamente o uso do rotativo do cartão. Sua extinção não está descartada. A oferta de crédito substituto será feita de acordo com o posicionamento estratégico de cada empresa.
Trata-se de iniciativa do setor privado que não depende de autorização do governo. Entretanto, o Banco Central deve ser consultado.
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