Editorial - Folha de SP
Realizado na segunda-feira (26), o primeiro de uma série de três debates entre o candidato republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton teve ares de cerimônia do Oscar. A noite de gala da corrida pela Casa Branca registrou audiência recorde de 84 milhões de espectadores nos EUA. O interesse deve-se a um embate particularmente acirrado e que, como cereja do bolo, traz à cena a novidade preocupante de uma figura de fora do status quo político, que suplantou nomes tradicionais e parte ponderável da máquina partidária para chegar à disputa.
Do ponto de vista da dinâmica, o debate, a despeito de eventuais problemas, se provou bem mais desenvolto, livre e interessante do que costumam ser os similares brasileiros, que não raro padecem de excesso de regras, falta de fluência e tempo exíguo para verdadeira defesa de ideias e propostas.
Outro aspecto vantajoso, na transmissão americana, é a opção de usar permanentemente a tela dividida ao meio, dando oportunidade ao público de observar as reações de um dos postulantes enquanto seu adversário discursa.
Nesse quesito, Trump mostrou-se mais irrequieto e invasivo do que Hillary. Empregou com frequência as palavras "não é verdade" enquanto a rival discursava e, em algumas oportunidades, tentou atropelá-la durante as explanações.
Embora o republicano tenha mais cancha como empresário e homem de TV —o que faz dele uma espécie de candidato midiático a CEO do país—, Hillary tem larga experiência política e não apenas parece, como de fato é mais bem preparada para ser presidente.
Com seu figurino populista de direita, que não deve ser confundido com a sólida tradição conservadora americana, Trump apela para propostas que soam tão fáceis e bombásticas quanto irrealizáveis.
O mundo surge como seu principal inimigo: o planeta inóspito impede a América de voltar a ser grande ao exportar imigrantes e terroristas, por exemplo, ou ao roubar suas fábricas e não remunerar os serviços de segurança internacional que presta aos aliados.
Hillary Clinton não deixa dúvida de que conhece mais a fundo a situação dos Estados Unidos e o intrincado xadrez internacional.
Em suas intervenções, procura ir ao encontro da realidade mais nuançada das famílias, das dificuldades do trabalhador, da vida empresarial e da política externa. Por isso, talvez, deixe a impressão de ser mais prolixa e menos capaz de resolver os problemas.
Mesmo assim, a democrata soube fustigar Donald Trump, evidenciando o que já estava claro: o republicano não reúne condições para liderar a maior potência mundial.
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