O ex-ministro Jose Dirceu, em audiência com o juiz Sergio Moro, ontem
Em depoimento ao juiz Sergio Moro ontem (21), o ex-ministro José Dirceu fez um pedido ao magistrado para que responda ao processo em liberdade, a fim de "tocar sua vida" e "trabalhar para sustentar a filha". "Eu preciso sair para trabalhar, para sustentar minha filha que tem seis anos de idade", pediu Dirceu, ao final da audiência. "Não é crível que alguém acredite que eu vou fugir, que eu vou obstruir a Justiça, na situação que eu estou."
Réu em duas ações na Operação Lava Jato e já condenado em uma delas a 23 anos de prisão, o ex-ministro está preso preventivamente há mais de um ano, desde agosto de 2015.
"Eu não estou dizendo isso para ter piedade, porque a responsabilidade é minha pelo que aconteceu. Eu estou dizendo isso porque são fatos objetivos. A realidade da minha família é de dificuldade financeira."
Na Justiça do Paraná, Dirceu é acusado de receber propina da empresa Apolo Tubulars para que ela fosse contratada pela Petrobras, com a intervenção do ex-diretor Renato Duque.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, foram R$ 7 milhões em propina no total. O ex-ministro teria recebido cerca de 30% do valor.
No depoimento desta sexta, ele negou que tenha interferido em licitações na Petrobras e disse jamais ter solicitado propina a empresários em troca de contratos na estatal.
"Eu estou sendo responsabilizado por um contrato sem nenhuma participação minha ou de minha empresa. Nenhuma. Zero", afirmou. "Eu, realmente, não tenho nada a ver com isso. Na verdade, eu não devia estar aqui, sinceramente. Eu não tenho muito o que dizer."
O ex-ministro reconheceu que recebeu valores da Credencial Construtora –empresa apontada como de fachada pela Procuradoria e considerada a operadora da transação.
Dirceu, porém, diz que o valor foi devido por uma consultoria no Panamá. "Nós fomos ao Panamá, eu apresentei eles a empresários, ao Presidente da República... Eu prestei meu trabalho e cobrei aquilo que considerei adequado, e eles pagaram."
O ex-ministro afirmou que jamais pediu a Duque qualquer intervenção em contratos ou licitações da Petrobras, e que seus encontros e jantares com ele eram "sociais, e não de negócios".
"Eu não conhecia o Renato Duque, não me comprometi com ele e com ninguém, não pedi nenhum favor e nenhuma retribuição pela indicação dele", afirmou Dirceu, sobre a indicação do engenheiro à diretoria da Petrobras. "[Eu tratava] questões gerais, políticas, de estratégia de governo, da situação do país."
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