Editorial - Folha de SP
O Brasil tem conseguido colocar mais crianças de menor nível socioeconômico na escola, mas falha sistematicamente em convencer os adolescentes a persistirem até o fim do ciclo básico. Esse é um retrato dos resultados da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, divulgada recentemente pelo IBGE. Em 2005, a proporção de alunos de 4 e 5 anos entre os 20% mais pobres do país que estavam estudando era de 52,4%, contra 86,7% entre os mais ricos.
Esse hiato de mais de 30 pontos percentuais diminuiu de forma significativa na última década. No ano passado, a fatia de crianças do quinto menos favorecido da população que frequentava a escola atingiu 80%, contra 94% entre os de maior renda.
É um desenvolvimento que merece ser celebrado. Pesquisas têm comprovado a importância da inclusão educacional até os 6 anos, etapa em que o desenvolvimento cognitivo é mais intenso.
O problema é que se falha no objetivo de manter as crianças na escola e falta um diagnóstico mais completo sobre as causas do afastamento e quando ele começa a ser gerado. O país já tinha praticamente atingido a universalização do acesso escolar para as crianças de 6 a 14 anos ainda na década de 1990, enquanto a melhoria desse indicador no que se refere aos últimos três anos do ciclo básico permanece muito lento. A parcela de jovens de 15 a 17 anos que estava estudando passou de 81,6% em 2005 para apenas 85% no ano passado.
Esses dados podem sugerir que o ensino médio é o principal momento de ruptura do jovem com a escola —mas não.
Os dados de matrículas estão longe de revelar toda a extensão do desafio educacional. Segundo o IBGE, em 2015, havia um contingente de 1,3 milhão de brasileiros de 15 a 17 anos que tinha abandonado os estudos precocemente. Seis em cada dez deles se evadiram ainda no ensino fundamental.
Se voltam à escola, esses jovens são abatidos pelo desânimo por terem ficado para trás, o que os leva, muitas vezes, a se evadir novamente. A situação é pior entre os socialmente mais vulneráveis.
A distorção idade-série (que mede atrasos de dois anos ou mais) era, em 2015, de 40,7% na faixa de 15 a 17 anos no quinto menos favorecido da população —contra 8,2% entre os 20% mais ricos.
É importante, portanto, aumentar a atratividade do ensino médio, principal objetivo da reforma apresentada pelo governo que tramita agora no Congresso Nacional. Mas as estatísticas indicam que medidas para combater a evasão e o atraso escolar no ensino fundamental são igualmente urgentes.
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