A imagem de Eike Batista de cabeça raspada, vestindo roupa de
presidiário, sendo conduzido para Bangu, é o retrato mais cruel de um
Brasil fracassado. O empresário foi o símbolo mais portentoso do país
que dá certo. Incensado pela mídia e pelos poderosos, tornou-se o modelo
de sucesso a ser perseguido por pessoas de várias gerações. Esse Eike
foi construído num período em que o Brasil crescia a taxas expressivas e
ganhava a fama de nova potência econômica. Nada mais falso.
A ligação entre Eike e o país foi tão forte que ruíram juntos. O
Brasil, nos governos petistas, optou por políticas populistas para
estimular o crescimento. Incentivou o endividamento das famílias, gastou
recursos públicos como se os cofres da União não tivessem fundo,
construiu um sistema de poder sustentado por um esquema de corrupção sem
precedentes e, para arrematar, elegeu um grupo de poucos empresários
que seriam agraciados com linhas de crédito a juros camaradas, desde, é
claro, que se dispusessem a pagar gordas propinas. Eike era a estrela
mais reluzente dos campeões nacionais.
A farsa durou muito. Lula conseguiu a reeleição e ainda fez sua
sucessora, Dilma Rousseff. Eike, conhecido até então por desfilar nas
colunas sociais acompanhado de belas modelos, entre elas, Luma de
Oliveira, com quem casaria, chegou ao posto de sétimo homem mais rico do
planeta. Se o país tivesse qualquer problema, lá aparecia ele, Eike
Batista, para apresentar as soluções. À medida que surgia como salvador
da pátria, mais o empresário engordava o patrimônio. Bastava lançar uma
empresa com a letra X e vender as ações em bolsas de valores para
multiplicar a conta-corrente.
Assim como o modelo de crescimento do país se esgotou, o sonho de
grandeza de Eike se desfez. O Brasil afundou na recessão e no desemprego
e o empresário viu seu patrimônio virar pó — na verdade, o patrimônio
daqueles que acreditaram no vendedor de ilusões, pois ele, Eike,
continuou desfrutando de boa vida. Afinal, azar de quem acreditou na sua
lábia convincente e no sonho de um país melhor, menos desigual, com
oportunidades para todos.
Na cela que ocupa desde ontem em Bangu 9, Eike terá tempo de sobra
para refletir e dar sua verdadeira contribuição ao país. Sem os confetes
da mídia e dos bajuladores de plantão, poderá abrir todo o esquema de
corrupção que sustentou para enganar multidões e surrupiar os cofres
públicos. Não há como dissociar o empresário do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que, por vários anos,
irrigou o caixa das companhias do grupo X.
Tudo indica que Eike está disposto a falar. Antes de ser preso, ele
disse, no aeroporto de Nova York, que o Brasil que está nascendo agora
será muito melhor. Afirmou que o trabalho realizado pela Polícia Federal
e pelo Ministério Público é “espetacular”. Ele sabe que, atrás das
grades, muito distante do glamour que sempre ostentou, não há espaço
para blefes. O Eike presidiário virou uma ameaça real para os poderosos,
os quais, sem constrangimento, ele comprou. (No Blog do Vicente - Correio Braziliense)
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