Lula elencava realizações de seu governo durante discurso no 33º Congresso Nacional da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) quando deixou os óculos escaparem das mãos ao tentar alcançá-los para consultar alguns dados. E brincou: "Esse país já fez tanta coisa que o candidato não consegue segurar os óculos".
Entre ataques ao governo do presidente Michel Temer e a defesa do que diz ser o legado petista, o ex-presidente disse que é preciso "ter consciência" de que o PT "está perdendo" e fez uma rápida análise sobre a crise carcerária pela qual o país está passando. Para ele, o caos nos presídios do Norte, que matou 99 pessoas em uma semana, é fruto do que foi "plantado".
"A gente está colhendo o que foi plantado há muito tempo. Vocês ficam revoltados porque um jovem de 25 anos foi preso? Quem é o culpado pelo jovem preso? O que deram de oportunidade quando ele tinha sete ou nove anos? Se eu não dou educação, oportunidade para trabalhar, essa pessoa vai fazer o que na vida?", questionou.
Segundo Lula, a política carcerária no Brasil serve para "piorar a vida" do preso. "O cara que roubou uma galinha, sai pior [da cadeia]", disse o petista, citando dados divulgados pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, sobre o custo anual de um estudante da rede básica de ensino ser "treze vezes menor" que o custo por ano com um presidiário.
O ex-presidente, mais uma vez, pediu eleições diretas ainda em 2017 e disse que o presidente da República só terá credibilidade se for eleito pelo povo.
"Precisamos ter consciência de que estamos perdendo e, para tentar recuperar esse país, é preciso que tenha alguém com credibilidade. E só terá credibilidade alguém eleito, não alguém que chegou ao poder pela porta dos fundos. Todo mundo pode ser presidente, mas quer ser presidente vai disputar eleição", afirmou.
PROTESTO
Logo nos primeiros segundos de seu discurso, Lula foi alvo de protestos de um pequeno grupo de representantes da CPS (Central Sindical e Popular), que gritava "fora, todos", empunhando bandeiras e adesivos com os mesmos dizeres. O ex-presidente, porém, não parou de falar.
Representante da CPS, a professora Janaína Rodrigues classificou como "antidemocrática" a postura da CNTE que, segundo ela, convidou para discursar "um ex-presidente que não colaborou com a educação do país". "Nos negamos a ouvir um ex-presidente que em nada contribuiu com a educação", disse Janaína. "Verbas para a educação pública foram cortadas nos governos de Lula e Dilma Rousseff", completou.
Fundada em 2003, durante o primeiro ano do governo Lula, a CPS tem cerca de 200 integrantes em todo o Brasil e se define como uma "oposição à esquerda", inclusive à gestão do presidente Michel Temer. Janaína, porém, não soube informar quantos eram os representantes da entidade que foram a Brasília protestar contra o petista.
No fim de sua fala, Lula chamou a manifestação de "gesto democrático" e disse que "se essas pessoas acompanhassem a história, iam saber os equívocos que estão cometendo".
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