O interrogatório de Delcídio foi no âmbito de ação penal que avalia se Lula e outros seis réus, entre eles o próprio ex-senador, atuaram para obstruir as investigações da Lava Jato. O ex-congressista reiterou que numa reunião no Instituto Lula, em maio de 2015, na qual teria tratado com o ex-presidente a possibilidade de Cerveró comprometer Bumlai, seu amigo, numa eventual delação. Lula teria pedido, então, para ele ‘ver essa questão do Bumlai’.
Segundo Delcídio, a partir dessa ordem, foi montado um esquema por meio do qual a família de Bumlai pagou R$ 50 mil mensais de ajuda financeira a Cerveró. “Cometi a sandice de tomar essa atitude”, declarou.
Delcídio foi preso em novembro de 2015, depois que o filho do ex-diretor da Petrobrás, Bernardo Cerveró, o gravou numa conversa na qual revelava parte do plano para evitar a colaboração do pai e até financiar uma fuga dele para a Espanha. Depois disso, o ex-senador decidiu fazer sua própria delação e, então, implicou Lula.
Delcídio admitiu que, na suposta conversa ocorrida no Instituto Lula, só estavam presentes ele e o ex-presidente, não havendo testemunhas. “Tive muitas conversas solitárias com o presidente Lula”, explicou, acrescentando que muitas delas versavam sobre questões políticas, em geral.
Delcídio contou que as tratativas com a família de Cerveró começaram no início de 2015 e que seu objetivo era evitar que seu nome fosse citado pelo ex-diretor, já que recebera dinheiro proveniente do esquema da Petrobrás para quitar, por exemplo, dívidas de campanha.
Contudo, alegou o ex-senador, entre março e abril daquele ano, a imprensa divulgou informações sobre a delação de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB na estatal, que já dava conta de sua participação nas ilegalidades. A partir daí, explicou, a estratégia de se blindar de acusações de Cerveró perdeu um pouco de sentido. “O Fernando Baiano abduziu a delação de Cerveró”, disse. Mesmo assim, acrescentou Delcídio, foi levado adiante o plano para evitar a colaboração de Cerveró, a mando de Lula.
Conforme a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF), Bumlai obteve no Banco Schahin um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões, cujo real objetivo era custear despesas do PT. Como o empréstimo não foi pago, a Petrobrás foi usada para compensar o grupo credor, firmando com a Schahin Engenharia contrato de R$ 1,6 bilhão para operar o navio-sonda Vitória 10.000 .
Questionado sobre o assunto, Delcídio declarou que a fraude era conhecida por parte do meio político e entre pessoas que ajudaram a viabilizá-la: “Essa história das sondas do José Carlos Bumlai até a torcida do Flamengo sabia”.
Delcídio também disse que, em meio à crise gerada pela Lava Jato, se reuniu com o ex-presidente no Instituto Lula em maio de 2015, juntamente com os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O objetivo, segundo ele, seria formar um grupo de senadores para reagir às denúncias frequentes que surgiam na operação. Esse encontro é objeto de um inquérito em curso pelo MPF, que suspeita de que o episódio foi mais uma tentativa de atrapalhar investigações.
Delcídio, que era líder do governo à época, explicou que havia um grupo no PT mais preocupado com os impactos da Lava Jato para o partido e o governo, no qual se incluía Lula. Outro grupo, alinhado com a então presidente Dilma Rousseff, acreditava que a operação chegaria ao fim e parte dos quadros da legenda sairia dela fortalecida. “Lamentavelmente, deu no que deu.”
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