Editorial - Folha de SP
Notícias falsas sempre circularam. Sobretudo nos estratos menos expostos ao jornalismo e a outras formas de conhecimento verificável, boatos encontram terreno para se propagar. Basta recordar a persistente crença sobre a falsidade das viagens tripuladas à Lua, cujas imagens teriam sido forjadas pela Nasa. No âmbito nacional, murmurou-se durante anos que o presidente Tancredo Neves fora vítima de um atentado que se dissimulara como doença.
A novidade é que as redes sociais da internet se mostram o veículo ideal para a difusão de notícias falsas. Não apenas estapafúrdias, como seria de esperar, mas às vezes inventadas de modo a favorecer interesses e prejudicar adversários.
A circulação instantânea, própria desse meio, propicia a formação de ondas de credulidade. Estimuladas pelos algoritmos das empresas que integram o oligopólio da internet, essas ondas conferem escala e ritmo inéditos à tradicional circulação de boatos.
Dado que as pessoas, nas redes sociais, tendem a se agregar por afinidade de crenças, não é difícil que os rumores se disseminem sem ser confrontados por crítica ou contraponto.
O melhor antídoto para os males da liberdade de expressão é a própria liberdade de expressão, que tende a encontrar formas de se autocorrigir. E o melhor antídoto contra as falsidades apresentadas como jornalismo é a prática do bom jornalismo, comprometido com a veracidade dos fatos que relata e com a pluralidade de pontos de vista no que concerne às questões controversas.
Numa reportagem que serve como exemplo de jornalismo bem realizado, o repórter Fabio Victor comprovou, no caderno "Ilustríssima" (19/2), que existem no Brasil sites dedicados à exploração comercial de notícias falsas ou distorcidas.
Embora haja remédios legais para reparar os excessos, a maioria dos casos passará despercebida no ruído incessante da internet. E parece improvável que as providências anunciadas às pressas pelo Facebook sejam mais que jogo de cena.
O fenômeno se associa de modo preocupante à política populista de direita que volta a empolgar multidões. Exemplo máximo dessa maré, o presidente norte-americano, Donald Trump, move campanha obstinada contra os veículos dedicados ao jornalismo profissional.
Bastaria isto para ressaltar a que tipo de interesses convém a confusão entre notícia e falsidade. No Brasil, de Jânio Quadros a Fernando Collor e Lula, guerras contra a imprensa são antigo costume dos governantes que não querem prestar contas de seus atos.
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