Eu não sei, leitor, se você tem a mesma impressão,
mas me parece que o Brasil entortou de vez. Os três poderes – tripé da
sustentação de uma democracia – o Executivo, o Parlamento e o Judiciário
se dissolveram na imoralidade e na bagunça geral. A sociedade, atônita,
não espera mais nada dos seus representantes no Congresso Nacional e
menos ainda do presidente da república e do judiciário, amordaçado por
apadrinhamentos e interesses de grupos. A última instância, o STF, o que
seria o guardião da Constituição, banalizou-se de tal forma que levou
para o brejo a última esperança dos brasileiros enxergarem um país ético
no futuro.
A indignação é fruto dos acontecimentos que ocorrem diariamente no
país. Vejamos alguns exemplos: o Moreira Franco, citado inúmeras vezes
na Lava Jato, passa a ter fórum privilegiado com o aval do STF.
Portanto, está fora do alcance do juiz Sérgio Moro. O ex-presidente
Sarney só pode responder por seus crimes ao Supremo Tribunal Federal,
decisão dos ministros da Segunda Turma, mesmo não gozando de fórum
privilegiado.
O senador Romero Jucá, envolvido na Lava Jato, antecipou-se ao que
pensam os brasileiros e, sem arrodeios, foi direto na ferida: “É tudo
uma suruba”. O Lula transformou a morte da mulher em espetáculo de
marketing. E a Dilma, depois do chute no traseiro, decide que será
candidata a senadora ou deputada.
Para desenvolver o resto desse artigo, vou me ater apenas ao ambiente
de orgias do nobre senador. Vejamos: o Cabral, que chegou a liderar a
lista dos presidenciáveis, vive hoje atrás das grades no presídio de
Bangu. Eike Batista, até então a sétimo homem mais rico do mundo, divide
uma cela minúscula com estupradores e assassinos no Rio. Eduardo Cunha,
o ex-deputado e presidente da Câmara, passa os dias dentro da cadeia
mandando recados desaforados para o Temer.
Mais: no STJ, o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, nomeado pela
Dilma para soltar Marcelo Odebrecht continua despachando normalmente,
mesmo depois da Polícia Federal comprovar, e o Delcídio do Amaral
confirmar, que ele seria o benfeitor de Marcelo e de outros comparsas
dentro do tribunal. O Senado aprova o nome de Alexandre Moraes para
substituir Teori Zavascki, um auxiliar de Temer, que defendia a tese de
que ministros do STF não poderiam ser indicados no exercício de cargo no
executivo. José Yunes, amigo do peito de Temer, detona Eliseu Padilha, a
quem acusa de receber 1 milhão de suborno via seu escritório em São
Paulo.
Mais: o Lula declara que só o PT pode salvar o país. Numa defesa
veemente do seu partido, o ex-presidente diz que quer voltar a
presidência, pois considera que tem os instrumentos para acabar com a
corrupção e a fórmula para o país voltar a crescer.
Mais: Os procuradores da Lava Jato começam a desconfiar do Janot.
Acham que ele está segurando os processos além da conta. Aliás, nos
últimos dias, o Procurador-Geral da República só pediu arquivamento de
indiciados em processos por corrupção, como é o caso do senador petista
Lindbergh Farias, o mais notório da lista.
Mais: Ministros do STF como Marcos Aurélio e Gilmar Mendes vão aos
microfones para denunciar que as prisões preventivas estão se alongando.
Ou seja: enviam recados para os procuradores e para o juiz Sérgio Moro
de que chegou a hora de acabar com a brincadeira de prender políticos e
empresários por muito tempo.
Mais: Pezão, que ajudou a falir o Rio de Janeiro, se declara inocente
no escândalo da corrupção. Não quer nem ouvir falar no nome de Cabral
para não se contaminar; Michel Temer nega de pés juntos que tenha feito
parte da chapa da Dilma quando tenta separar a captação de recursos da
eleição dos dois; Eliseu Padilha responde a processos, mas permanece ao
lado do presidente como seu principal auxiliar; o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles continua a espalhar que a inflação caiu, mas
não é o que se constata nas prateleiras dos supermercados. E para
desmentir os dados oficiais de crescimento, o país carrega a cruz dos
quase 13 milhões de desempregados.
Este aperitivo que você leu aí em cima só mostra que o senador Romero
Jucá está certo quando diz que vivemos uma grande suruba. Não a do
português que se espantou ao participar de uma no Brasil: “Não estás a
perceber? Acende a luz porque até agora só eu levei...”
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