Editorial - Estadão
Salvo países em que o conservadorismo religioso implicou retrocessos, parece evidente que a condição feminina mudou para melhor no século 20 e neste. Devagar demais, muitas dirão. No Brasil, as mulheres ainda trabalham 7,5 horas a mais, por semana, que os homens, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em 2001, essa diferença era maior, 8,8 horas. Os dados saíram da série histórica de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
A discrepância decorre, como é sabido, do trabalho não remunerado. Mesmo com a paulatina incorporação das mulheres ao mercado de trabalho, do qual participam 55% delas, a ocupação pouco afeta a dedicação a afazeres domésticos: 9 entre 10 trabalhadoras cumprem a segunda jornada em casa, ante metade dos homens.
O que melhorou para elas foi o tempo assim despendido, que caiu de 31 horas semanais para 24. O contingente masculino dedicava 10 horas ao lar e assim continua.
Apesar de a escolaridade feminina ser melhor —50% das mulheres têm nove anos ou mais de estudo, contra 46% dos homens—, persiste a diferença no rendimento do trabalho masculino e feminino.
Ainda assim, as mulheres respondem, na média, por quase metade da renda familiar. O paradoxo é apenas aparente: 40% dos domicílios têm mulheres como "pessoas de referência", ou seja, provedores principais, se não únicos; 20 anos antes, eram 23%.
Caiu pouco em duas décadas, de 17% para 14%, a porção das mulheres ocupadas como empregadas domésticas. Diminuiu, porém, de 52% para 16% a parcela de jovens até 29 anos nessa ocupação.
Não bastasse trabalharem mais e ganharem menos em empregos piores, as mulheres também sofrem com a violência. Segundo pesquisa Datafolha realizada para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 29% das entrevistadas com 16 anos ou mais relataram ter sofrido alguma agressão física ou verbal nos 12 meses antecedentes.
Levando em conta a margem de erro do levantamento, projeta-se que algo entre 16 milhões e 20 milhões de brasileiras foram vítimas de violência em variados graus.
Mais da metade delas, porém, não tomou medida contra os agressores, em outra evidência da lentidão do progresso na sociedade.
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