Do blog "Direto da Fonte" (Sonia Racy) - Estadão
Esta foi a primeira entrevista que Joesley Batista deu na vida. Foi em agosto de 2008, quando o grupo JBS faturava US$ 20 bilhões (hoje são US$ 170 bi) e já obtinha 80% de sua receita no exterior.
Na linha ‘Vale a Pena Ler de Novo’, aqui vai a reprodução:
Ao me receber na sede da JBS – no antigo
edifício do frigorífico Bordon –, Joesley Batista, presidente global da
empresa, se mostra algo desconfortável. Pudera, não gosta de sair na
imprensa, defende que o grupo tenha imagem institucional e procura ser
totalmente no profile. “Foto? Nem pensar. Não queremos a família como a
cara da empresa. Ela hoje tem presidente executivo (Marcus Pratini de
Moraes) e estrutura própria”, justifica.
Mesmo assim, aceita contar parte da história
do grupo, que se mistura umbilicalmente com a da família. O nome Joesley
vem de uma mistura de José, seu pai, com Wesley, seu irmão. Foi o pai
José que começou do nada a empresa que hoje fatura algo como US$ 22
bilhões por ano e está espalhada pelo mundo.
Espantados? O fato é que os frigoríficos brasileiros
começaram um círculo virtuoso da desvalorização cambial para cá.
Exportaram muito, construíram muito e aumentaram muito a capacidade
instalada e os abates. “Isso era bom para o frigorífico e ruim para o
produtor. Hoje está bom para o produtor e ruim para os frigoríficos”,
analisa Joesley, lembrando que a bolha estourou.“Infelizmente, vamos
reviver uma onda de falências no Brasil”, avisa. As margens de lucro
estão diminuindo e as dívidas, aumentando. “Nossa sorte é que hoje o
Brasil representa somente 20% da nossa receita. Portanto, estamos
preparados para viver pelo menos três anos com margem zero por aqui.” A
seguir, trechos da conversa.
Como seu pai, aos 50 anos de idade, resolveu passar para os filhos a empresa que construiu do zero?
Isso
é muito moderno. Mas, acredite, não foi nada programado. Aliás, quando
comecei a trabalhar no Grupo, meu pai já não estava mais na empresa.
Estava só o Júnior, meu irmão mais velho. Eu tinha sido gerente de uma
fábrica pequena em Goiás e gerente-geral de um frigorífico nosso.
As meninas também trabalham na empresa?
Trabalham sim, os cunhados, não. Minha mãe
criou os filhos praticamente sozinha. Meu pai viajava muito. A partir
dos meus 16 anos, ele assumiu a responsabilidade pelos filhos homens e
minha mãe continuou a cuidar das meninas. Ele nunca foi de levar os
filhos para ver boi. Pelo contrário, até bem grandinho eu não sabia
diferenciar boi de vaca. Foi só aos 16 anos que começamos a
acompanhá-lo. Meu pai sempre foi um homem duro e prático. Nunca
adiantava pedir opinião para ele. Achava que tínhamos de resolver tudo
sozinhos. E até hoje é assim.
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