Em seu primeiro trabalho na TV, Silvero Pereira tem na novela das 9, A Força do Querer, um dos grandes desafios da carreira: viver dois papéis na mesma trama. Na verdade, o ator cearense interpreta um só personagem, a travesti transformista Elis Miranda, que, como ela mesma já disse, se ‘veste’ de Nonato para conseguir manter seu emprego como motorista de Eurico (Humberto Martins) enquanto luta pelo sonho de ganhar a vida como artista. “Diante da sociedade patriarcal e machista em que a gente vive, em que o homem é sempre muito visto em primeiro lugar, o que mais me deixa feliz é que as pessoas neste momento da trama começam a enxergar mais a personagem Elis Miranda e menos o Nonato. Porque, no início da trama, se falava muito nele, e tem ficado claro que não é o Nonato, que a Elis se traveste de Nonato para sobreviver”, diz o ator de 35 anos.
Como Elis Miranda
Segundo Silvero, que estuda o assunto há anos em sua trajetória no teatro, essa situação vivida por Elis reproduz a realidade. “Tem muitas histórias de meninas que sofrem diariamente com o fato de não conseguir emprego por serem travestis e, por causa disso, saíram da escola muito cedo e a formação ficou muito baixa. Com essa formação básica, fica difícil conseguir emprego, principalmente quando se tem uma imagem estereotipada, caricatural da travesti, que não é exatamente isso, mas a nossa sociedade traz muito essa ideia que a travesti é uma marginal.”
E, para o ator, qual a importância desses debates em uma novela? “Vivemos numa sociedade que tem uma deficiência de informação, por isso, vivemos numa sociedade pré-conceituosa, e essa deficiência se dá, principalmente, por conta da educação e das políticas públicas. Na política pública, por exemplo, a bancada conservadora é muito maior do que uma bancada mais libertária. Então, esses conceitos demoram para chegar a virar lei e depois a ser inseridos na sociedade. A educação é a mesma coisa. Até um estudo virar uma tese e essa tese cair no dia a dia é um pouco mais complicado”, analisa ele.
E, para o ator, qual a importância desses debates em uma novela? “Vivemos numa sociedade que tem uma deficiência de informação, por isso, vivemos numa sociedade pré-conceituosa, e essa deficiência se dá, principalmente, por conta da educação e das políticas públicas. Na política pública, por exemplo, a bancada conservadora é muito maior do que uma bancada mais libertária. Então, esses conceitos demoram para chegar a virar lei e depois a ser inseridos na sociedade. A educação é a mesma coisa. Até um estudo virar uma tese e essa tese cair no dia a dia é um pouco mais complicado”, analisa ele.
“Então, uma novela que consegue atrelar questões sociais com entretenimento, mas, principalmente, de maneira artística, ela consegue de uma forma muito mais imediata atingir o telespectador pela catarse, pela identificação, pela emoção. Assim, de uma maneira sutil, a gente consegue abrir as cabeças para esse novo conceito de sociedade, que é uma sociedade mais livre.”
Como o motorista Nonato
Morando com seu companheiro há 9 anos, Silvero diz que não gosta de ser enquadrado por gênero. “Não me vejo como homem, não me vejo como mulher. Não gosto de definições”, diz. “Me sinto feliz em acreditar que posso ir para a rua e, se alguma mulher for muito interessante, não quero me privar de me relacionar com ela porque eu me decidi homossexual e não posso ir de encontro ao meu desejo. Isso é o que eu não quero para mim.”
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