Garimpeiro caminha por trilha na Floresta Estadual do Paru, no Pará, que fica dentro da Renca
O presidente Michel Temer (PMDB) tomou enfim a primeira medida sensata no imbróglio que envolve a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca). Um terceiro decreto editado sobre a área entre o Amapá e o Pará revogou sua extinção, após a grita preservacionista gratuita desencadeada no momento em que a popularidade presidencial já se encontrava no rés do chão.
O episódio foi bem mais que um "erro de comunicação", como diz agora o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.
É difícil imaginar o que o Planalto pretendia quando determinou a extinção da reserva sem debate prévio. Até o político mais desejoso de investimentos empresariais sabe que ameaças reais ou imaginárias à conservação da Amazônia têm potencial explosivo.
Tampouco seria razoável contar com incentivo imediato ao crescimento econômico. A exploração minerária empresarial de qualquer gleba na região de difícil acesso, pela qual se embrenha hoje só o lumpesinato dos garimpeiros, demandaria meses ou anos para obter licenças ambientais.
Resta como explicação apenas um afã governista de agradar os potentados do setor mineral. E, claro, uma notável incapacidade de antecipar a repercussão da medida.
De concreto, o governo federal colheu apenas um vendaval de críticas. A tempestade principiou pelas franjas ambientalistas e ganhou ímpeto de furacão ao engajar um time de celebridades com influência nacional e internacional.
Houve muito de exagerado, e talvez de oportunista, na reação que dava por iminente a destruição de um território "do tamanho da Dinamarca". Não era esse o caso —mesmo porque trata-se de uma reserva mineral (que prevê controle estatal na exploração de cobre e outros metais), não ambiental.
Mesmo que todos os envolvidos desejem sinceramente a preservação da floresta, parece manifesto que a repulsa ideológica ao governo Temer serviu para inflamar as labaredas da opinião pública.
O próprio presidente se comporta há tempos como incendiário em assuntos ambientais, fundiários e indígenas. Achacado de modo contínuo e eficiente pela bancada ruralista no Congresso, vem acatando todos os seus pleitos.
O caso Renca, nesse sentido, serviu apenas como o rastilho. Espera-se que Temer, ora chamuscado, entenda que não há como abrir áreas da Amazônia para exploração mineral sem um mínimo de respaldo na sociedade. (Folha de SP)
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