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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Editorial - Estadão: A classe média no mundo e aqui

Em 2010, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um estudo do economista paquistanês Homi Kharas, pesquisador da Brookings Institution, a respeito do crescimento da classe média nos países em desenvolvimento. O texto indicava um forte crescimento da classe média – considerada como o segmento da população que consome entre US$ 10 e US$ 100 por dia – no mundo, especialmente na Índia e na China, sugerindo que os novos integrantes da classe média poderiam representar o impulso necessário para o crescimento da demanda naqueles tempos pós-crise.

Depois de sete anos do primeiro estudo, Homi Kharas publicou uma atualização de suas projeções, com o título A expansão sem precedentes da classe média global – uma atualização. O economista constatou que a classe média, formada hoje por pouco mais de 3 bilhões de pessoas – em torno de 40% da população mundial –, vem crescendo mais rapidamente do que a previsão de 2010. Atualmente, mais de 140 milhões de pessoas entram, a cada ano, no estrato social intermediário. Em cinco anos, esse número deve atingir 170 milhões de pessoas. Em 2020, a maior parte da população global deverá ser de classe média. Estima-se que, até 2024, esse contingente deverá chegar a 4 bilhões, e 70% desse crescimento estará concentrado na China e na Índia.

Em 2015, o mercado global da classe média fechou em US$ 35 trilhões, 12% a mais que a previsão anterior. Em 2030, o número pode chegar a US$ 64 trilhões. É interessante notar que, de todo esse crescimento de US$ 29 trilhões no consumo da classe média, apenas US$ 1 trilhão decorrerá de mais gastos das economias desenvolvidas.

Da mesma forma que constata uma forte expansão da classe média na Ásia, o estudo aponta para uma estagnação dessa faixa de renda em países desenvolvidos e em algumas economias emergentes, como a brasileira. A classe média norte-americana deverá perder, em 2020, o topo do mercado para a chinesa. E em 2030 ela deverá cair para a terceira posição, com a classe média indiana assumindo a 2.ª colocação.

Homi Kharas vê uma diferença fundamental entre o desenvolvimento da classe média no Brasil e nos grandes países asiáticos. “Os asiáticos continuaram a abrir seus mercados, dando grande ênfase à educação e permitindo às próximas gerações o acesso ao padrão de vida da classe média”, disse ao Estado.

Segundo o economista, diferentemente do que ocorreu no Brasil, os investimentos asiáticos em infraestrutura tornaram sustentáveis contínuos ganhos de renda entre as classes mais baixas. “Lá, as cidades são usualmente bem projetadas para permitir que famílias de classe média baixa tenham acesso a empregos e serviços. Alcançar e sustentar este segmento requer uma série de ações”, afirmou Kharas, que cita economia pró-mercado, educação qualificada e políticas governamentais como fatores de ampliação da classe média.

É conhecida a importância da classe média para o desenvolvimento econômico e social das nações, sejam elas desenvolvidas ou em desenvolvimento. Quanto mais as pessoas têm capacidade de consumir e economizar, mais aptas estão a promover mudanças sociais e políticas de longo prazo. Um estudo do Pew Research Center sobre a classe média global constatou a evidência empírica de que, juntamente com a educação, a renda é um dos fatores determinantes para a qualidade das instituições políticas. A partir de uma renda de US$ 10 por dia, as pessoas ingressam numa situação de segurança econômica mínima, que as protege de retornar facilmente à pobreza.

Conhecer a situação da classe média global, suas tendências e as discrepâncias com a realidade nacional ajuda a ver a urgência de aprovar as reformas necessárias para o desenvolvimento econômico e social, bem como a gravidade da crise produzida pelos governos petistas. Estima-se que a classe média brasileira voltará ao patamar anterior à crise apenas em 2023.

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