Em vez de ficar sabendo sem querer de um assassinato, como na história do filme, o ministro falou sem papas na língua sobre o ambiente que cerca vários deles. Mais precisamente, sobre a onda de violência no Rio de Janeiro.
Na terça-feira ele disse ao blog do jornalista Josias de Souza, do UOL, que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o secretário de estado da Segurança Pública, Roberto Sá, não têm controle sobre a Polícia Militar do estado – que, diga-se, passa por uma interminável crise na área de segurança.
Mais: ele afirmou que “comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio” e que o comando da PM decorre de acertos entre um deputado estadual e o crime organizado. Para completar, disse que a situação só tem chance de melhorar com a troca de governo.
As reações dos atingidos pelas declarações foram imediatas, e variaram da surpresa à fúria. Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa e o deputado estadual com mais poder no estado, disse que o ministro “mente”, é “irresponsável” e “age com má-fé”.
Roberto Sá se disse indignado. O presidente da Câmara dos Deputados, o carioca Rodrigo Maia (DEM), se disse perplexo e na espera de provas vindas de Torquato.
Pezão afirmou que não negocia com criminosos e que vai interpelar judicialmente Jardim esperando que ele prove as acusações.
Nos bastidores, analistas e assessores próximos à cúpula do poder em Brasília dizem que Jardim, se não foi sutil, tampouco está errado.
O descontentamento com a área de segurança pública do Rio de Janeiro é geral entre os ministros que tratam do assunto – além da Justiça, o problema também esbarra na pasta da Defesa, que enviou forças armadas para o estado e é comandada por Raul Jungmann, e no gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo general Sérgio Etchegoyen.
A avaliação comum é que sobram erros e vazamentos nas operações conjuntas feitas entre o Exército e a Polícia Militar do estado.
“Nós já tivemos conversas — ora eu sozinho, ora com o Raul Jungmann e o Sérgio Etchegoyen —, conversas duríssimas com o secretário de Segurança do Estado e com governador. Não tem comando”, disse Jardim na entrevista ao UOL.
Mais a fundo, na lógica de Jardim – compartilhada por políticos e diversos especialistas em segurança pública e no estado – dificilmente o crime tomaria a proporção que tomou no estado sem o apoio de políticos eleitos pelo voto.
“Voltamos à Tropa de Elite 1 e 2”, disse o ministro em entrevista ao jornal O Globo nesta quarta. A ideia da nova entrevista era apaziguar os ânimos, mas a situação só fez piorar.
Até quem costuma tratar dos mesmos temas levantados pelo ministro diz que suas falas foram intempestivas.
“O que ele fala não é novidade. Dizer que existe propina entre tráfico, polícia e política não é novidade. Dizer que existe arrego não é novidade. O que ele diz está no meu relatório da CPI das milícias e o que eles fizeram desde então? Eu entreguei nas mãos do ministro da Justiça da época e dos presidentes da Câmara e do Senado. Ele é um ministro da Justiça, não é um comentarista”, diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Ele foi responsável pela CPI da Milícias, em 2008, que terminou com 226 indiciados e levou a prisão de diversos políticos, incluindo um deputado estadual, e também serviu de inspiração para o roteiro dos filmes Tropa de Elite 1 e 2.
Há entrelinhas?
Jardim questionou inclusive a morte do comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, no bairro do Méier, coronel Luiz Gustavo Teixeira, que foi atingido por 17 disparos durante o que a PM do estado afirmou ser uma tentativa de assalto, no dia 26.
“Ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana [em verdade, o oficial da PM estava fardado], num carro descaracterizado”, disse.
Nas entrelinhas, o ministro deu a entender que o que ocorreu foi um assassinato. Ele pode ter informações extras sobre o assunto, mas também pode ter falado demais para alguém que ocupa seu cargo.
Afinal, se não vai conseguir derrubar o governo do Rio nem o comando da Polícia Militar no Estado, onde Jardim quer chegar?
“Ele é meio destemperado. Não calculou direito o que estava dizendo”, diz um analista político que circula pelos gabinetes de Brasília e conhece bem Jardim.
“Agora, todas as alternativas na mesa são ruins. Se ele provar o que disse, aprofunda muito a crise no Rio de Janeiro colocando a PM em descrédito. Se não provar, teremos um ministro da Justiça extremamente enfraquecido no momento que ele é mais demandado na área de segurança pública”, disse.
“É uma opinião movida por jornais e filmes e menos por investigação. Ele certamente não imaginava a repercussão que isso teria, mas é no mínimo infantil, no momento da maior crise de segurança do Rio de Janeiro, achar que isso não ia ter essa repercussão”, diz Freixo.
“Agora, ele também comete o erro da generalização. Vai dizer que toda a polícia é isso? Não é. Dizer que deputado – e ele falou no singular – comanda? Tem que dizer quem é o deputado.”
Outro analista avalia que o momento do Rio é tão delicado e as declarações dadas sem maiores esclarecimentos fizeram uma espuma política tão grande que, mesmo que Jardim tenha todos os indicativos de que existe conluio entre a cúpula da PM e o crime organizado, a hora é de baixar o tom para não piorar a delicada situação carioca, que além da crise de segurança, também está afundado em uma debacle financeira.
Foi isso que o ministro tentou fazer na entrevista concedida ao jornal O Globo na manhã desta quarta-feira. Mas acabou agravando a situação.
Ele não só reiterou as declarações como disse que quem tem que provar que ele está errado são as autoridades fluminenses.
Jardim questionou inclusive a morte do comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, no bairro do Méier, coronel Luiz Gustavo Teixeira, que foi atingido por 17 disparos durante o que a PM do estado afirmou ser uma tentativa de assalto, no dia 26.
“Ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana [em verdade, o oficial da PM estava fardado], num carro descaracterizado”, disse.
Nas entrelinhas, o ministro deu a entender que o que ocorreu foi um assassinato. Ele pode ter informações extras sobre o assunto, mas também pode ter falado demais para alguém que ocupa seu cargo.
Afinal, se não vai conseguir derrubar o governo do Rio nem o comando da Polícia Militar no Estado, onde Jardim quer chegar?
“Ele é meio destemperado. Não calculou direito o que estava dizendo”, diz um analista político que circula pelos gabinetes de Brasília e conhece bem Jardim.
“Agora, todas as alternativas na mesa são ruins. Se ele provar o que disse, aprofunda muito a crise no Rio de Janeiro colocando a PM em descrédito. Se não provar, teremos um ministro da Justiça extremamente enfraquecido no momento que ele é mais demandado na área de segurança pública”, disse.
“É uma opinião movida por jornais e filmes e menos por investigação. Ele certamente não imaginava a repercussão que isso teria, mas é no mínimo infantil, no momento da maior crise de segurança do Rio de Janeiro, achar que isso não ia ter essa repercussão”, diz Freixo.
“Agora, ele também comete o erro da generalização. Vai dizer que toda a polícia é isso? Não é. Dizer que deputado – e ele falou no singular – comanda? Tem que dizer quem é o deputado.”
Outro analista avalia que o momento do Rio é tão delicado e as declarações dadas sem maiores esclarecimentos fizeram uma espuma política tão grande que, mesmo que Jardim tenha todos os indicativos de que existe conluio entre a cúpula da PM e o crime organizado, a hora é de baixar o tom para não piorar a delicada situação carioca, que além da crise de segurança, também está afundado em uma debacle financeira.
Foi isso que o ministro tentou fazer na entrevista concedida ao jornal O Globo na manhã desta quarta-feira. Mas acabou agravando a situação.
Ele não só reiterou as declarações como disse que quem tem que provar que ele está errado são as autoridades fluminenses.
Complicou a política
Além de tocar na ferida da política carioca, Jardim complicou a vida do chefe, o presidente Michel Temer. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que já estava tendo embates frequentes com o Planalto cobrou Temer a sair do silêncio. Para ele, evitar dar declarações sobre o assunto deve agravar a crise.
“Se há informação de que o governador não manda mais, que o secretário não manda mais, e que os bandidos estão comandando os batalhões, é preciso tomar uma providência. Ou o governo não sabe o que está falando, ou vai ter que intervir”, disse Maia em entrevista ao jornal O Globo.
Com os problemas da segurança carioca escancarados mais uma vez, passou-se a questionar novamente a possibilidade de uma intervenção estadual no Rio de Janeiro, algo que já estava fora de pauta há algum tempo. Para Maia, o governo federal não tem condições nem políticas, nem fiscais para tanto.
Assim, o fim da crise, como sempre, é imprevisível. Mas o caminho mais curto pode ser um pedido de desculpas. “Abrir a crise foi um erro.
O ministro foi inábil e vai acabar tendo que voltar atrás para evitar maiores problemas”, diz um analista político de Brasília. “Mas o governo colocou ele lá quando precisava de respostas às acusações do Ministério Público justamente pelo seu temperamento forte. Agora, tem que aguentar”.
Leia também>Aborrecido com Torquato, Temer se faz de morto
Além de tocar na ferida da política carioca, Jardim complicou a vida do chefe, o presidente Michel Temer. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que já estava tendo embates frequentes com o Planalto cobrou Temer a sair do silêncio. Para ele, evitar dar declarações sobre o assunto deve agravar a crise.
“Se há informação de que o governador não manda mais, que o secretário não manda mais, e que os bandidos estão comandando os batalhões, é preciso tomar uma providência. Ou o governo não sabe o que está falando, ou vai ter que intervir”, disse Maia em entrevista ao jornal O Globo.
Com os problemas da segurança carioca escancarados mais uma vez, passou-se a questionar novamente a possibilidade de uma intervenção estadual no Rio de Janeiro, algo que já estava fora de pauta há algum tempo. Para Maia, o governo federal não tem condições nem políticas, nem fiscais para tanto.
Assim, o fim da crise, como sempre, é imprevisível. Mas o caminho mais curto pode ser um pedido de desculpas. “Abrir a crise foi um erro.
O ministro foi inábil e vai acabar tendo que voltar atrás para evitar maiores problemas”, diz um analista político de Brasília. “Mas o governo colocou ele lá quando precisava de respostas às acusações do Ministério Público justamente pelo seu temperamento forte. Agora, tem que aguentar”.
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