Por Monica De Bolle - Estadão
Se o Brasil não é para amadores, Trump definitivamente não é para aprendizes
Há um ano, a incredulidade. Como fora possível que os peritos em análise política tenham errado tão estrondosamente o cálculo de quem levaria as eleições de 2016? Vá lá que Hillary Clinton não era exatamente figura carismática, querida ou admirada. Vá lá que a história do servidor privado quando era secretária do Departamento de Estado tenha levado – corretamente – a uma ampla investigação sobre o uso indevido de contas de e-mail pessoais para tratar de assuntos de governo. Mas Trump?
Sim, Trump. Trump mobilizou a base de insatisfeitos, de gente que nutre profunda antipatia pelos políticos e os operadores de Washington. Conseguiu contorcer as vísceras de um eleitorado desgostoso com “tudo isso que está aí”, e elegeu-se prometendo que a América agora viria em primeiro lugar. Dentre suas promessas de campanha, derrubar a reforma do sistema de saúde feita por Obama – o Obamacare –, promover reforma tributária com forte redução dos impostos corporativos, solapar a China com tarifa de 45% sobre os produtos importados daquele país, fazer algo parecido com o México afirmando que o Nafta – o acordo entre EUA, México, e Canadá firmado em 1994 – era o pior acordo comercial de todos os tempos.
Trump também prometeu remover todas as regulações instituídas durante o governo Obama, no setor financeiro, no de energia, nas questões climáticas. Disse que tiraria os EUA do acordo multirregional negociado com mais 11 países conhecido como TPP – o Acordo TransPacífico. Insistiu que o Acordo Climático de Paris de nada valia e que dele os EUA sairiam. Denunciou o acordo nuclear com o Irã e bradou que com ele acabaria. Fez do combate à imigração sua pauta mais feroz. O que sobrou dessas promessas?
Da lista, sobraram intactos apenas a remoção dos EUA do TPP – para a alegria dos chineses, que veem no retrocesso trumpista chance única para consolidar sua posição como potência geopolítica internacional – e o combate à imigração ilegal. Tão feroz está a guerra contra imigrantes ilegais que, dia desses, uma menina mexicana de 10 anos com paralisia cerebral foi apreendida pelos agentes de imigração dentro de uma ambulância, a caminho do hospital. Agora, está ela na lista de deportáveis.
De resto, Trump não conseguiu derrubar o Obamacare, já que a antes impopular reforma tornou-se legado difícil de desfazer. Nem sequer houve imposição de tarifa de 45% na China, sobretudo depois de rodadas de golfe e afagos com Xi Jinping. O Acordo de Paris e o acordo nuclear com o Irã estão, na prática, em banho-maria, já que deles Trump não pode retirar os EUA no momento. O Nafta está sendo renegociado a duras penas, com algum risco de que seja consumido pelas demandas unilaterais e irrazoáveis dos negociadores de Trump. Várias regulações da era Obama foram removidas, mas outras tantas devem esbarrar no judiciário, como ocorreu com a malsucedida tentativa inicial de proibir a entrada de nacionais de países islâmicos.
Em breve, Janet Yellen, atual dirigente do Fed – o banco central norte-americano – passará o bastão para Jerome Powell, advogado. A decisão de substituir Yellen é tão fora de padrão quanto todas as decisões tomadas por essa administração: geralmente, presidentes do Fed em primeiro mandato são renovados no cargo independentemente do partido que esteja no poder. Mas Trump não é muito chegado a economistas com credenciais acadêmicas impecáveis, como é o caso de Yellen e de Ben Bernanke, seu antecessor. Ao contrário, Trump gosta de cercar-se de gente que considera seus pares naturais: homens que fizeram fortuna, seja em Wall Street ou como empresários. É esse o currículo do secretário do Tesouro, do secretário do Comércio e do principal conselheiro econômico, Gary Cohn. Agora, é esse também o currículo do novo dirigente do Fed.
Powell terá o desafio de guiar a política monetária em meio ao crescente rombo nas contas públicas americanas que virá da reforma tributária. Republicanos pretendem emplacá-la até o fim do ano, cumprindo promessa trumpista. A combinação de rombos fiscais com economia e mercado de trabalho aquecidos prometem atormentar a vida do novo chefe do Fed, sobretudo se Trump resolver fazer a sua parte na gestão monetária por meio do Twitter.
Um ano de Trump e fiquei sem espaço para falar das perigosas ligações com a Rússia, dos vários funcionários demitidos, da guerra de palavras com a Coreia do Norte, das guerras culturais aqui nos EUA, dos primeiros resultados das investigações de Robert Mueller. Se o Brasil não é para amadores, Trump definitivamente não é para aprendizes.
Sim, Trump. Trump mobilizou a base de insatisfeitos, de gente que nutre profunda antipatia pelos políticos e os operadores de Washington. Conseguiu contorcer as vísceras de um eleitorado desgostoso com “tudo isso que está aí”, e elegeu-se prometendo que a América agora viria em primeiro lugar. Dentre suas promessas de campanha, derrubar a reforma do sistema de saúde feita por Obama – o Obamacare –, promover reforma tributária com forte redução dos impostos corporativos, solapar a China com tarifa de 45% sobre os produtos importados daquele país, fazer algo parecido com o México afirmando que o Nafta – o acordo entre EUA, México, e Canadá firmado em 1994 – era o pior acordo comercial de todos os tempos.
Trump também prometeu remover todas as regulações instituídas durante o governo Obama, no setor financeiro, no de energia, nas questões climáticas. Disse que tiraria os EUA do acordo multirregional negociado com mais 11 países conhecido como TPP – o Acordo TransPacífico. Insistiu que o Acordo Climático de Paris de nada valia e que dele os EUA sairiam. Denunciou o acordo nuclear com o Irã e bradou que com ele acabaria. Fez do combate à imigração sua pauta mais feroz. O que sobrou dessas promessas?
Da lista, sobraram intactos apenas a remoção dos EUA do TPP – para a alegria dos chineses, que veem no retrocesso trumpista chance única para consolidar sua posição como potência geopolítica internacional – e o combate à imigração ilegal. Tão feroz está a guerra contra imigrantes ilegais que, dia desses, uma menina mexicana de 10 anos com paralisia cerebral foi apreendida pelos agentes de imigração dentro de uma ambulância, a caminho do hospital. Agora, está ela na lista de deportáveis.
De resto, Trump não conseguiu derrubar o Obamacare, já que a antes impopular reforma tornou-se legado difícil de desfazer. Nem sequer houve imposição de tarifa de 45% na China, sobretudo depois de rodadas de golfe e afagos com Xi Jinping. O Acordo de Paris e o acordo nuclear com o Irã estão, na prática, em banho-maria, já que deles Trump não pode retirar os EUA no momento. O Nafta está sendo renegociado a duras penas, com algum risco de que seja consumido pelas demandas unilaterais e irrazoáveis dos negociadores de Trump. Várias regulações da era Obama foram removidas, mas outras tantas devem esbarrar no judiciário, como ocorreu com a malsucedida tentativa inicial de proibir a entrada de nacionais de países islâmicos.
Em breve, Janet Yellen, atual dirigente do Fed – o banco central norte-americano – passará o bastão para Jerome Powell, advogado. A decisão de substituir Yellen é tão fora de padrão quanto todas as decisões tomadas por essa administração: geralmente, presidentes do Fed em primeiro mandato são renovados no cargo independentemente do partido que esteja no poder. Mas Trump não é muito chegado a economistas com credenciais acadêmicas impecáveis, como é o caso de Yellen e de Ben Bernanke, seu antecessor. Ao contrário, Trump gosta de cercar-se de gente que considera seus pares naturais: homens que fizeram fortuna, seja em Wall Street ou como empresários. É esse o currículo do secretário do Tesouro, do secretário do Comércio e do principal conselheiro econômico, Gary Cohn. Agora, é esse também o currículo do novo dirigente do Fed.
Powell terá o desafio de guiar a política monetária em meio ao crescente rombo nas contas públicas americanas que virá da reforma tributária. Republicanos pretendem emplacá-la até o fim do ano, cumprindo promessa trumpista. A combinação de rombos fiscais com economia e mercado de trabalho aquecidos prometem atormentar a vida do novo chefe do Fed, sobretudo se Trump resolver fazer a sua parte na gestão monetária por meio do Twitter.
Um ano de Trump e fiquei sem espaço para falar das perigosas ligações com a Rússia, dos vários funcionários demitidos, da guerra de palavras com a Coreia do Norte, das guerras culturais aqui nos EUA, dos primeiros resultados das investigações de Robert Mueller. Se o Brasil não é para amadores, Trump definitivamente não é para aprendizes.
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