Seiscentos juristas divulgaram ontem (12) uma carta em cinco
idiomas para o mundo, denunciado o estado de exceção judicial no
Brasil, que tem dentre os alvos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Confira o documento na íntegra:
Dirigimo-nos à comunidade jurídica internacional – juristas,
acadêmicos, estudiosos e operadores do Direito, magistrados – para
solicitar a sua digna atenção para o que ocorre atualmente no Brasil,
que terá reflexos na fragilização política e institucional de todas as
jovens democracias latino-americanas. O Estado de Direito em nosso país
está sendo corroído depois do Golpe contra a Presidenta Dilma, encetado
por meio de um Congresso majoritariamente fisiológico ou corrupto,
comprometido com forças econômicas espúrias. Sufocaram a força normativa
da Constituição e, de mãos dadas com uma mídia oligopolizada,
naturalizaram a "exceção" com recorrentes violações a princípios e
normas constitucionais que caracterizam e sustentam uma saudável vida
democrática.
A deformação de um conjunto de processos contra a corrupção
sistêmica no país – justa ação do Ministério Público que despertou a
simpatia da população e de pessoas de todas as classes e partidos
democráticos da nação – é a consequência do "aparelhamento" das medidas
anticorrupção para fins de instrumentalização política por setores da
direita e da extrema direita do Ministério Público, que hoje se arvoram
purificadores da moral pública nacional.
Fazem-no, especialmente, para atacar a figura do Presidente
Lula, visando anular sua participação no próximo pleito presidencial.
Nenhuma pessoa está acima da lei e não nos opomos a qualquer
investigação ou processamento de quem quer que seja; porém, com
cumplicidade de parte do Poder Judiciário, o Sistema de Justiça, não
apenas em relação a Lula, mas especialmente em razão dele, tem sufocado o
direito à ampla defesa, tratando-o de forma desigual e discriminatória e
criado normas processuais de "exceção" contra ele e vários investigados
e processados, típico "lawfare", subordinado ao processo eleitoral.
São os seguintes, os elementos de fato e de direito, que
caracterizam este processo de perversão e diluição das funções
institucionais do garantismo democrático:
1. instrumentalização política das "delações premiadas", com
a cumplicidade majoritária da mídia, para dar direcionamento e
seletividade ao vazamento de informações;
2. conduções coercitivas de caráter nitidamente político,
desnecessárias e ao arrepio dos dispositivos processuais do Estado de
Direito formal, com o visível intuito de desmoralizar lideranças
políticas que sequer foram convidadas a depor, medida agora
provisoriamente suspensa por decisão monocrática de ministro do STF;
3. prisões preventivas de longo curso, coativas, destinadas a
buscar depoimentos especificamente contra o Presidente Lula, alvo
preferencial dos Procuradores de Curitiba;
4. manifestação pública de juízes, desembargadores e
ministros do Supremo Tribunal Federal, participando do contencioso
político e muitas vezes adiantando opiniões e votos sobre processos que
estão sob sua jurisdição;
5. humilhação pela mídia, de réus, investigados e presos,
"julgando" os mesmos de forma antecipada, fora do processo, cortejando e
promovendo à condição de heróis, os integrantes do MP e do Judiciário
que dão suporte aos seus pré-julgamentos.
É preciso que essas informações sejam claramente
compreendidas pela comunidade jurídica internacional, a quem solicitamos
apoio para a luta dos brasileiros comprometidos com a ética pública, a
segurança jurídica, a preservação da soberania popular e a reconstrução
da democracia.
Esta nota tem todas as características do famoso "samba do crioulo doido".
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