Por Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado criminalista.
Me parece um erro gritante, que talvez não se possa admitir , o
destaque que se deu a ”festa com droga em presídio “. Esta é a chamada
principal hoje sobre a crise dos presídios. Todo mundo sabe que existe
mas, sinceramente é inacreditável dizer que este é o problema do sistema
carcerário.
Meu Deus, este é o menor problema, embora grave.
As inúmeras mortes , a chacina, o levante, as decapitações, as fugas,
nada disto foi pela festa com droga. Foi pelo estado humilhante do
sistema penitenciário, pelo indecoroso o excesso na população
carcerária, por existir um número absurdo de presos.
Por termos hoje 800 mil presos, oficialmente a terceira maior
população carcerária do mundo . Mais de 50% de presos provisórios!! Um
escândalo. Um escárnio. Este é o resultado da política de encarceramento
deste momento punitivo.
O Supremo, em um movimento populista, suprimiu a presunção de
inocência. Privilegiou mandar para a cadeia milhares de pessoas sem
rosto, sem voz, sem defesa para dar uma satisfação a uma sociedade
faminta de prisão e de repressão.
Triste tempo. Tristes dias.
E ainda suspendeu parte do indulto.
O que seria interessante era fazer um filme de 50 minutos das
desgraças das prisões brasileiras. Mostrar o real. Celas com 50 vezes
mais pessoas do possível, do humano. Mostrar a comida de esgoto. O
estupro, real, diário. As pessoas se revezando para dormir, em pé. A
falta absoluta de dignidade. O caos. A morte.
É natural que todos nós fiquemos chocados com as imagens dos levantes, mas esta é a nossa cruel realidade.
Fica a proposta: o CNJ convoca a TV e por 30 dias, em horário nobre,
ao invés de passar a TV Justiça, onde os ministros se mostram garbosos,
vamos passar em tempo real, sem mascarar, os presídios brasileiros. No
interior, nos grandes presídios. Mostrar os estupros. As agressões. A
fome. As celas super lotadas. O frio. O calor extremo. A miséria humana.
A degradação. A transformação em lixo do que ainda existe de homem ,de
humano,no preso. A falta de seriedade de cada um de nós com o
enfrentamento do assunto.
Vamos levar esta miséria para a TV Justiça. Ao vivo. Para o país ver a
nossa realidade prisional. Vamos ver o que de humano ainda existe em
nós, qual a nossa capacidade de indignação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário