Congresso em Foco: Com base no que senhor tem visto no país,
com foco em 2017, institucionalmente o Estado brasileiro faliu? Como
anda o Judiciário?
Ayres Britto: Não. Eu penso que há muitos modos de
encarar o que vem acontecendo com o Brasil nos últimos dois anos. Vê-se
por um prisma negativo, de desânimo, diante das malfeitorias, dos
desvios de conduta no âmbito, sobretudo, da parceria do poder público
com a área econômica. Porém, por outro lado, vê-se as coisas com ânimo,
com otimismo, porque tudo está vindo a lume. Nada, hoje, se passa no
espaço do mistério. E já é possível perceber que a democracia brasileira
nos possibilita colher frutos importantíssimos. Como, por exemplo,
liberdade de imprensa em plenitude; hiperaquecimento da cidadania,
notadamente pelas redes sociais; soberania e independência do Poder
Judiciário – como nunca antes se viu, a despeito de um ou outro revés,
uma ou outra situação, digamos, de interpretação equivocada da própria
Constituição. Mas, em linhas gerais, estamos em fim de ano, e fim de ano
é para balanço do que se ganhou e do que se perdeu. Embora a gente
reconheça, a gente deva concluir que nenhuma democracia vence por
nocaute – principalmente democracia jovem como a nossa, que em rigor só
tomou contornos mais nítidos com a Constituição de 1988; há menos de 30
anos, portanto –, o fato é que nós, por pontos, estamos vencendo,
democraticamente falando. Porque a democracia brasileira tem batido
mais, juridicamente, do que apanhado – estamos fazendo balanço. De novo:
estamos fazendo a contabilidade de ganhos e perdas.
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