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domingo, 18 de fevereiro de 2018

A Amazônia está secando, mas o Brasil só quer farra

Por Marcelo Leite, repórter especial da Folha de SP
Um artigo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros publicado na revista Nature Communications recebeu destaque na imprensa, mas não a atenção devida fora dela.

Na esperança vã de provocá-la, vai aqui um resumo da ópera ou do funk, da marchinha, do axé, o que for preciso para cair no gosto popular: A Amazônia está secando, viu?/Queima mais que o filme do Brasil,/Mata vira fumaça sem truque/Pior que o de FHC com Huck.

Melhor parar por aí. O esboço de soneto saiu pior que emendas constitucionais aprovadas no Congresso. Alguém mais inspirado ou feliz que se arrisque a fazer Carnaval com isso.

Aqui é ciência. Então fiquemos com o que têm a dizer Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de Exeter (Reino Unido), e o time de 20 especialistas com que colaborou para publicar o estudo.

Incêndios relacionados com secas do século 21 contrabalançam o declínio de emissões de carbono do desmatamento na Amazônia é uma tradução razoável do título do artigo, mas sem chance de fazer sucesso na Sapucaí ou no Anhembi.

Ele focaliza algo que deveria piscar no radar do governo federal: o cumprimento das metas de redução de gases do efeito estufa (carbono) que o país assumiu no quadro do Acordo de Paris, em 2015. Reduzir o desmatamento é crucial para isso, pois destruir floresta ainda é a principal fonte nacional de poluição climática.

As políticas para conter a devastação e as formas de medi-la estão centradas no chamado corte raso, quando as árvores são derrubadas e depois queimadas para dar lugar a pasto ou agricultura. Aragão e equipe dizem que pode ser mais complicado que isso. Eles apontam uma cadeia complexa de fatores interligados:

- O aquecimento global induz estiagens mais fortes e frequentes na Amazônia, como a de 2015, que matam árvores e as fazem perder mais folhas;

- Clareiras abertas deixam entrar mais luz, o que resseca material vegetal sobre o solo;

- Com farto combustível presente, incêndios florestais se tornam mais comuns, que por sua vez matam mais árvores e tornam a mata ainda mais inflamável;

- A fuligem e outras partículas que a queima lança na atmosfera amazônica contribuem para diminuir a ocorrência de chuvas e assim segue o ciclo de ressecamento.

Cruzando uma montanha de dados, o grupo mostrou que tais incêndios aumentaram em anos de seca, como 2005, 2010 e 2015. Eles ocorreram também em regiões de floresta virgem sem atividade agropecuária intensa, portanto não se confundem com tradicionais queimadas para limpar o campo.

A incidência de focos de fogo aumentou 36% na seca de 2015, em comparação com a média dos 12 anos anteriores. A biomassa que virou fumaça, neste caso, equivaleu a mais que a metade do carbono emitido no período pelo desmatamento tradicional (aquele medido com satélites, anual e oficialmente, pelo sistema Prodes do Inpe).

Em outras palavras, o método atual para monitorar o desmate e calcular emissões da principal fonte de carbono brasileira está a subestimá-las. Algo terá de mudar.

Quem achar alguém preocupado com isso, no Planalto ou na Faria Lima, que atire a primeira fagulha --ou um novo candidato na fogueira.

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