Censura do público a obra no Pará é demonstração de intolerância de campanhas ideológicas
O desenho, impactante no seu virtuosismo pop, mostra o salto acrobático de um adolescente sobre uma banca de frutas, ao escapar de um policial militar pronto a desferir-lhe golpes de cassetete.
Acrescentando cor local e um toque de surrealismo à cena, o quadrinista paraense Gidalti Moura Jr. fez com que o rapaz em fuga tivesse a cabeça de um urubu, dos que tão desconfortavelmente disputam espaço com turistas e vendedores no célebre mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará.
Seria o adolescente um ladrão de frutas? Emissário do narcotráfico? Teria cometido crime revoltante que justificasse a ação repressiva da autoridade pública? Não deveriam os guardiões da ordem aplaudir, nesse caso, o empenho de um membro da corporação?
A mera consideração da obra, que faz parte de uma graphic novel intitulada “Castanha do Pará”, vencedora do prêmio Jabuti, não autoriza interpretações precisas. Dado o contexto brasileiro, dificilmente se deixará de perceber uma denúncia da violência policial.
Foi assim que a entenderam, com certeza, alguns dos próprios policiais militares e seus simpatizantes. Manifestaram-se nas redes sociais tão logo a ilustração foi exposta num centro comercial de Belém, em um mostra dedicada a histórias em quadrinhos.
Depois dessa movimentação, o shopping paraense decidiu retirar a obra da exposição, pretextando que frequentadores “se sentiram incomodados com a cena de violência, no espaço que é frequentado por crianças.”
É direito de qualquer entidade privada decidir o que expor no espaço que ocupa, como também é direito de qualquer pessoa protestar contra o que possa ferir a delicadeza de sua sensibilidade.
Em outro exemplo, uma mostra organizada pela ex-consulesa da França Alexandra Loras —em que personalidades como Gisele Bündchen e Donald Trump apareciam em fotos com a pele escurecida— foi denunciada como racista.
Loras, que é afrodescendente, argumentou que visava justamente denunciar o predomínio dos brancos em postos de destaque.
Nota-se que incompreensões e impulsos repressivos podem aflorar de todo lugar, de quem se sente oprimido ou de quem é caracterizado como opressor.
O caso de Belém também se inscreve numa maré, que parece crescente, de campanhas ideológicas contra manifestações artísticas. Não é censura exercida pelo poder público, o que seria inadmissível, mas ainda assim cumpre lamentar a demonstração de intolerância.
Acrescentando cor local e um toque de surrealismo à cena, o quadrinista paraense Gidalti Moura Jr. fez com que o rapaz em fuga tivesse a cabeça de um urubu, dos que tão desconfortavelmente disputam espaço com turistas e vendedores no célebre mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará.
Seria o adolescente um ladrão de frutas? Emissário do narcotráfico? Teria cometido crime revoltante que justificasse a ação repressiva da autoridade pública? Não deveriam os guardiões da ordem aplaudir, nesse caso, o empenho de um membro da corporação?
A mera consideração da obra, que faz parte de uma graphic novel intitulada “Castanha do Pará”, vencedora do prêmio Jabuti, não autoriza interpretações precisas. Dado o contexto brasileiro, dificilmente se deixará de perceber uma denúncia da violência policial.
Foi assim que a entenderam, com certeza, alguns dos próprios policiais militares e seus simpatizantes. Manifestaram-se nas redes sociais tão logo a ilustração foi exposta num centro comercial de Belém, em um mostra dedicada a histórias em quadrinhos.
Depois dessa movimentação, o shopping paraense decidiu retirar a obra da exposição, pretextando que frequentadores “se sentiram incomodados com a cena de violência, no espaço que é frequentado por crianças.”
É direito de qualquer entidade privada decidir o que expor no espaço que ocupa, como também é direito de qualquer pessoa protestar contra o que possa ferir a delicadeza de sua sensibilidade.
Em outro exemplo, uma mostra organizada pela ex-consulesa da França Alexandra Loras —em que personalidades como Gisele Bündchen e Donald Trump apareciam em fotos com a pele escurecida— foi denunciada como racista.
Loras, que é afrodescendente, argumentou que visava justamente denunciar o predomínio dos brancos em postos de destaque.
Nota-se que incompreensões e impulsos repressivos podem aflorar de todo lugar, de quem se sente oprimido ou de quem é caracterizado como opressor.
O caso de Belém também se inscreve numa maré, que parece crescente, de campanhas ideológicas contra manifestações artísticas. Não é censura exercida pelo poder público, o que seria inadmissível, mas ainda assim cumpre lamentar a demonstração de intolerância.
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