Setores conservadores da Igreja que às vezes se perguntam se o papa Francisco ainda é católico ganharam nova munição nesta semana, com o relato de conversa entre o pontífice argentino e o veterano jornalista italiano Eugenio Scalfari, do jornal La Repubblica.
Segundo o texto de Scalfari —que nunca grava nem anota de imediato o que se diz em seus encontros com o entrevistado—, Francisco nega a existência do inferno. “O que existe é o desaparecimento das almas pecadoras.”
Porta-vozes do Vaticano se apressaram em divulgar que as declarações publicadas não refletiam com exatidão o que o pontífice dissera. De fato, ele já mencionou em diversas homilias o inferno e a influência do demônio sobre os seres humanos.
Na hipótese de que tenha havido uma interpretação errônea do periódico, o que a teria provocado? Uma pista possível vem do próprio desenvolvimento da ideia de punição após a morte para os maus na tradição judaico-cristã.
A maioria dos livros que compõem o Antigo Testamento, por exemplo, não fala em inferno ou paraíso. O destino dos mortos é vago, mas talvez se assemelhe ao que se vê no Hades da mitologia grega: um repouso perpétuo sem recompensa nem castigo.
Tal visão se altera alguns séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, com a ascensão da perspectiva apocalíptica. Essa vertente do judaísmo, provavelmente abraçada pelo próprio Messias, enxergava o cosmos como um campo de batalha entre as forças divinas e demoníacas, num confronto que culminaria com o Juízo Final.
Nesse clímax, os seres humanos que ficassem ao lado de Deus seriam eternamente recompensados, enquanto os que se aliassem às forças das trevas receberiam punições severas para todo o sempre —em meio a “choro e ranger de dentes”.
Os textos do Novo Testamento, porém, nem sempre retratam igualmente esse cenário. O livro do Apocalipse diz que os maus serão lançados num “lago de fogo”, chamado de “segunda morte”, o que alguns cristãos, como os adventistas, interpretam como a destruição completa daquelas pessoas, não um tormento eterno.
A teologia católica moderna tende a adotar uma espécie de meio-termo. Sem enfatizar a ideia de suplícios corporais no inferno, prefere apontar que o sofrimento dos condenados viria de sua separação do amor de Deus.
Desse ponto de vista, como dizia o escritor anglicano C.S. Lewis, as portas do inferno seriam trancadas por dentro. É plausível que seja essa a visão mais consonante com o pensamento do papa.
Segundo o texto de Scalfari —que nunca grava nem anota de imediato o que se diz em seus encontros com o entrevistado—, Francisco nega a existência do inferno. “O que existe é o desaparecimento das almas pecadoras.”
Porta-vozes do Vaticano se apressaram em divulgar que as declarações publicadas não refletiam com exatidão o que o pontífice dissera. De fato, ele já mencionou em diversas homilias o inferno e a influência do demônio sobre os seres humanos.
Na hipótese de que tenha havido uma interpretação errônea do periódico, o que a teria provocado? Uma pista possível vem do próprio desenvolvimento da ideia de punição após a morte para os maus na tradição judaico-cristã.
A maioria dos livros que compõem o Antigo Testamento, por exemplo, não fala em inferno ou paraíso. O destino dos mortos é vago, mas talvez se assemelhe ao que se vê no Hades da mitologia grega: um repouso perpétuo sem recompensa nem castigo.
Tal visão se altera alguns séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, com a ascensão da perspectiva apocalíptica. Essa vertente do judaísmo, provavelmente abraçada pelo próprio Messias, enxergava o cosmos como um campo de batalha entre as forças divinas e demoníacas, num confronto que culminaria com o Juízo Final.
Nesse clímax, os seres humanos que ficassem ao lado de Deus seriam eternamente recompensados, enquanto os que se aliassem às forças das trevas receberiam punições severas para todo o sempre —em meio a “choro e ranger de dentes”.
Os textos do Novo Testamento, porém, nem sempre retratam igualmente esse cenário. O livro do Apocalipse diz que os maus serão lançados num “lago de fogo”, chamado de “segunda morte”, o que alguns cristãos, como os adventistas, interpretam como a destruição completa daquelas pessoas, não um tormento eterno.
A teologia católica moderna tende a adotar uma espécie de meio-termo. Sem enfatizar a ideia de suplícios corporais no inferno, prefere apontar que o sofrimento dos condenados viria de sua separação do amor de Deus.
Desse ponto de vista, como dizia o escritor anglicano C.S. Lewis, as portas do inferno seriam trancadas por dentro. É plausível que seja essa a visão mais consonante com o pensamento do papa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário