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quinta-feira, 5 de julho de 2018

Rejeição à urna

Editorial - Folha de SP
Realizado em 24 de junho, o segundo turno da eleição suplementar para o governo do Tocantins —que tinha por objetivo preencher a vaga da chapa do ex-governador emedebista Marcelo Miranda, cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral— registrou o impressionante índice de 35% de abstenção.

Ainda que fosse um pleito convocado em circunstâncias excepcionais, o desinteresse demonstrado parece confirmar a tendência, que se faz notar nos últimos anos, de desencanto de setores da sociedade em relação à política.

A mais recente pesquisa Datafolha de intenção de voto para o Palácio do Planalto, publicada em junho, revelou que, nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a soma de votos brancos e nulos e entrevistados indecisos alcança cerca de um terço do total.

Em 2010, na mesma época, essa fatia era de 13%. Quatro anos depois, quando a Lava Jato teve início, o número subiu a 30%.

Reportagem publicada por esta Folha ouviu seis eleitores que se encaixam no perfil dessa parcela que pretende transformar o ceticismo em rejeição ao voto.

A corretora de imóveis Maria Christina Baseggio, 65, apontou um dos motivos mais óbvios de tal sentimento de revolta —os escândalos de corrupção que atingem representantes de todas as faixas do espectro partidário.

Eleitora assídua, ela considera que não teria hoje a quem dar seu voto. “Essa sujeirada toda, não só de um partido”, disse, a deixou “sem ninguém em quem acreditar”.

A aversão aos desvios e irregularidades cometidos por políticos é decerto reforçada pela impressão de que dirigentes públicos se beneficiam de maneira indevida e desproporcional dos recursos arrecadados do contribuinte.

Esse impulso já estava presente nos protestos de junho de 2013, quando as insatisfações explodiram nas ruas. Desde então, os índices de apoio aos governantes e partidos se mantêm em baixa.

Há, como se sabe, riscos inerentes a esse cenário, como já se constatou em situações análogas em outros países. Um deles é a exacerbação do voto de protesto, direcionado a candidatos folclóricos ou de plataformas exóticas.

Outra possibilidade é a busca de postulantes sem vínculos com os quadros e legendas tradicionais, com o perigo evidente de favorecer um aventureiro ao qual faltará estrutura para o exercício do poder.

Cabe apontar, de todo modo, que o debate eleitoral deste ano ainda se mostra incipiente. As chapas nem mesmo estão oficializadas, e a propaganda de rádio e TV só terá início em 31 de agosto. Haverá tempo e oportunidades para seduzir os votantes até o dia do pleito.

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