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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Abusos sexuais: O silêncio do Papa





Papa Francisco disse ontem (26) que não responderia às acusações do ex-embaixador do Vaticano de que o pontífice havia encoberto abusos sexuais, dizendo que o documento revelado por Carlo Maria Viganò "fala por si".

Francisco afirmou que "não dirá uma palavra" sobre documento de 11 páginas, no qual o ex-funcionário diz que Francisco deveria renunciar. O pontífice disse que os jornalistas devem ler o comunicado cuidadosamente e decidir por si mesmos sobre sua credibilidade.

"Li o documento hoje de manhã. Li e vou dizer com sinceridade que devo dizer isso, a você (ao repórter) e a todos vocês interessados: leia o documento cuidadosamente e julgue por si mesmo", disse o Papa Francisco.

"Eu não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu acho que a declaração fala por si e você tem capacidade jornalística suficiente para chegar às suas próprias conclusões", completou o pontífice.

Viganò, de 77 anos, fez a declaração aos meios de comunicação católicos conservadores durante a visita do Papa à Irlanda, que teve como centro dos temas abusos sexuais da Igreja naquele país e em outras partes do mundo.

O ex-embaixador acusou uma longa lista de autoridades atuais e do passado, do Vaticano e da Igreja dos EUA, de encobrir o caso do ex-cardeal Theodore McCarrick, arcebispo aposentado de Washington D.C.

McCarrick, de 88 anos, renunciou ao cargo no mês passado e foi destituído de seu título após alegações de que ele havia abusado de um menor há quase 50 anos e também forçou seminaristas adultos a dividir sua cama.

O caso
O arcebispo Viganò escreveu uma carta de 11 páginas, que foi publicada por alguns veículos de imprensa europeus mais conservadores. O prelado acusou outros membros da Igreja Católica de formarem um "lobby gay" e acobertarem as acusações contra o cardeal americano. A carta se baseia em acusações pessoais, não apresentando nenhuma documentação ou prova das mesmas.

O ex-embaixador do Vaticano escreveu que Francisco conheceu o caso em 23 de junho de 2013 porque ele mesmo o comunicou e, mesmo assim, o papa "seguiu encobrindo McCarrick", diz no documento.

Em junho, McCarrick, de 88 anos, foi afastado do Colégio Cardinalício e o papa argentino "dispôs sua suspensão para exercer publicamente seu ministério sacerdotal, assim como a obrigação de que permaneça em uma residência que lhe será atribuída para uma vida de oração e penitência".

Viganò explicou na carta que foi o próprio pontífice quem lhe perguntou em 2013: "Como é o cardeal McCarrick?", e que informou ao pontífice que o ex-arcebispo de Washington "corrompeu gerações de seminaristas e sacerdotes e o papa Bento XVI ordenou que ele se retirasse para uma vida de oração e penitência".

"No entanto, Francisco fez dele o seu fiel conselheiro junto com Maradiaga (Óscar Andrés Rodríguez, cardeal hondurenho) (...) Só quando foi obrigado pela denúncia de um menor e, sempre em função do aplauso dos meios de comunicação, tomou medidas para, assim, proteger sua imagem midiática", acusou Viganò.

O arcebispo italiano justificou a denúncia ao papa dizendo que a carta foi ditada para que todos saibam que "a corrupção alcançou o topo da hierarquia eclesiástica". Viganò destacou que enviou vários relatórios sobre a conduta do ex-arcebispo de Washington, mas que foi ignorado pelos cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertonepelos, respectivamente, secretários de Estado de João Paulo II e Bento XVI.

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