Ney Matogrosso tem 77 anos e não para. Ficou cinco anos ininterruptos fazendo shows até abril passado, deu uma respirada… e já prepara novo repertório, “só com músicas conhecidas”. A nova turnê começa no início do ano que vem e, desta vez, o cantor não lança nada inédito. “Só canto o que quero cantar, independentemente de ter sido cantado ou não, por quantas pessoas tenha sido cantado”, disse à repórter Sofia Patsch em conversa no backstage do show que fez em recente desfile da Renner, no Espaço Villa Lobos., em São Paulo. Confira alguns trechos da entrevista:
Você sempre foi uma referência na questão da liberdade de gênero, de ser o que quiser, independente do sexo.
Sim, gosto de ser homem, mas não preciso me restringir à ‘machice’, esse lado escroto, né, violento. Acho que você pode ser homem e ser mais suave, mais delicado. Não muda, não vai te desmerecer em nada.
Acha que o mundo está menos ou mais machista?
Eles (os machistas) estão cada vez piores, matando mulheres a toda hora. E não é só aqui, não é? Aqui é gritante, porque tudo fica muito evidente no nosso País. Tudo é muito de uma vez só.
E como vê os movimentos que as mulheres estão fazendo para mudar esse cenário?
Acho tudo válido. Qualquer pessoa que tenha direitos que não são respeitados tem que se valer deles. Por exemplo, agora dizem: “Ah, mas o mundo tá careta”. Azar do mundo, vou continuar sendo eu. Não vou me diminuir, me esconder pra agradar ao mundo. O mundo que se dane, se não gostar coma menos. Tenho direitos adquiridos, ninguém me ofereceu, ninguém me colocou na mão. Ninguém me disse: “olha aqui, você tem isso”. Não. Lutei por eles e não vou abrir mão deles. Nesta encarnação não abro mão.
Ano passado repercutiu muito o que você afirmou sobre o mundo estar muito ‘politicamente correto’, coisa que você acha muito chata.
E acho mesmo, porque você não pode mais brincar. Qualquer coisinha agora é um processo, é uma loucura viver nesse mundo. Mas estou aqui e não abro mão dos meus direitos.
‘QUALQUER COISA VIRA UM PROCESSO,
NÃO DÁ PRA
VIVER ASSIM’
Você já disse em entrevista que na ditadura tinha mais liberdade individual do que hoje…
As pessoas todas, no geral.
Pode falar a respeito?
Em termos comportamentais, minha filha, o Brasil andou, saiu disparado, era uma coisa louca. Tinha aquela praia ali do lado do Arpoador, eu via aeromoças de voos internacionais… Elas trocavam a roupa, ficavam nuas, isso era uma coisa normal, ninguém se chocava de ver uma aeromoça chegar ali, tirar a roupa, vestir o biquíni e entrar no mar. E depois ela tirava o biquíni, ficava nua, vestia a roupa. Mas ah, vai botar o peito de fora hoje! O peitinho, agora só pode botar um, só pode mostrar um agora, né, de novo essa palhaçada. É uma palhaçada.
E o que espera de outubro, das próximas eleições?
Estou assustadíssimo, mas vou votar, porque se depender de mim pra não cair em determinadas mãos, não cairá.
Está assustado ou otimista?
Olha, lá dentro eu olho pra essas coisas todas e sei que é passageiro. Tudo é um movimento, é um fluxo. Já vivemos isso, está parecendo que vamos embarcar nessa canoa errada de novo… Mas a gente sai disso, não é definitivo. Pena que esse governo que está aí atrasou o Brasil em mais de 20 anos, não é, com essas coisas horrorosas, sem dinheiro para educação, pra saúde. Vejo isso como uma coisa proposital, pra deixar o povo bem, bem estupidificado.
Acha que é tudo premeditado?
Acho que é pra ser mais fácil de manipular. Porque gente que se alimenta, gente que lê, que estuda e raciocina não deixa isso acontecer. Mas um povo que está de novo passando fome… No carro vindo pra cá (o show no Villa Lobos) ouvi que 13 milhões de crianças estão subnutridas no Brasil. Treze milhões de crianças subnutridas vão ser 13 milhões de adultos que não serão úteis para nada. Mas não tem ninguém lá em cima que julga a gente, quem julga a gente somos nós, a nossa consciência.
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