Universo paralelo
Editorial - Folha de SP
Com o líder da corrida presidencial hospitalizado e longe das ruas, seus principais adversários tiveram na quarta (26) mais uma oportunidade para expor aos eleitores as diferenças entre suas propostas.
No entanto, na maior parte do debate realizado por esta Folha em parceria com o UOL e o SBT, eles optaram por se dedicar a seu esporte predileto, trocando farpas e acusações na esperança de tirar pontos dos rivais nas pesquisas.
Sem Jair Bolsonaro (PSL) no palco, as atenções se voltaram para Fernando Haddad (PT), que os levantamentos mais recentes apontam como mais provável adversário do capitão reformado do Exército no segundo turno da eleição.
O petista foi alvejado por todos os lados —de Ciro Gomes (PDT), que perdeu terreno para ele no campo da esquerda, a Geraldo Alckmin (PSDB), abandonado por apoiadores que preferiram trocar a camisa dos tucanos pela de Bolsonaro.
Ciro, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, tenta convencer o eleitorado de que teria mais condições do que Haddad de derrotar o direitista no segundo turno. Alckmin se apresenta como a opção mais segura para barrar o PT.
A agressividade das táticas empregadas transformou o debate em mais um duelo de personalidades, sem espaço para uma discussão profunda sobre os desafios que aguardam o próximo presidente e os caminhos para superá-los.
No universo paralelo que os presidenciáveis parecem habitar, não existem restrições orçamentárias, e a recuperação da economia é tratada como mera questão de vontade e determinação do governante.
Promessas de geração de empregos, retomada de investimentos públicos e expansão do crédito foram reiteradas por todos os postulantes sem que indicassem a origem dos recursos necessários para financiar planos tão ambiciosos.
Parte do problema tem a ver com as regras inflexíveis impostas pelos partidos aos organizadores dos debates, que privilegiam o confronto direto entre candidatos e coíbem a participação de jornalistas.
Estes, no encontro de quarta, ao menos tiveram a oportunidade de réplica ao inquirir os postulantes, mas só puderam fazê-lo em um dos quatro blocos do evento.
Os candidatos, naturalmente, preferem o máximo de liberdade para exercitar os movimentos ensaiados com seus marqueteiros e evitar temas espinhosos.
O único a falar da necessidade de ajustes para conter os gastos da Previdência foi Henrique Meirelles (MDB) —que só o fez após ser provocado por um dos jornalistas.
Apesar de falhos, os debates ainda oferecem oportunidades de tirar os postulantes de suas zonas de conforto propagandístico. Por renhida que seja a disputa em curso, a tarefa de governar o país a partir de 2019 será mais dura.
Editorial - Folha de SP
Com o líder da corrida presidencial hospitalizado e longe das ruas, seus principais adversários tiveram na quarta (26) mais uma oportunidade para expor aos eleitores as diferenças entre suas propostas.
No entanto, na maior parte do debate realizado por esta Folha em parceria com o UOL e o SBT, eles optaram por se dedicar a seu esporte predileto, trocando farpas e acusações na esperança de tirar pontos dos rivais nas pesquisas.
Sem Jair Bolsonaro (PSL) no palco, as atenções se voltaram para Fernando Haddad (PT), que os levantamentos mais recentes apontam como mais provável adversário do capitão reformado do Exército no segundo turno da eleição.
O petista foi alvejado por todos os lados —de Ciro Gomes (PDT), que perdeu terreno para ele no campo da esquerda, a Geraldo Alckmin (PSDB), abandonado por apoiadores que preferiram trocar a camisa dos tucanos pela de Bolsonaro.
Ciro, que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, tenta convencer o eleitorado de que teria mais condições do que Haddad de derrotar o direitista no segundo turno. Alckmin se apresenta como a opção mais segura para barrar o PT.
A agressividade das táticas empregadas transformou o debate em mais um duelo de personalidades, sem espaço para uma discussão profunda sobre os desafios que aguardam o próximo presidente e os caminhos para superá-los.
No universo paralelo que os presidenciáveis parecem habitar, não existem restrições orçamentárias, e a recuperação da economia é tratada como mera questão de vontade e determinação do governante.
Promessas de geração de empregos, retomada de investimentos públicos e expansão do crédito foram reiteradas por todos os postulantes sem que indicassem a origem dos recursos necessários para financiar planos tão ambiciosos.
Parte do problema tem a ver com as regras inflexíveis impostas pelos partidos aos organizadores dos debates, que privilegiam o confronto direto entre candidatos e coíbem a participação de jornalistas.
Estes, no encontro de quarta, ao menos tiveram a oportunidade de réplica ao inquirir os postulantes, mas só puderam fazê-lo em um dos quatro blocos do evento.
Os candidatos, naturalmente, preferem o máximo de liberdade para exercitar os movimentos ensaiados com seus marqueteiros e evitar temas espinhosos.
O único a falar da necessidade de ajustes para conter os gastos da Previdência foi Henrique Meirelles (MDB) —que só o fez após ser provocado por um dos jornalistas.
Apesar de falhos, os debates ainda oferecem oportunidades de tirar os postulantes de suas zonas de conforto propagandístico. Por renhida que seja a disputa em curso, a tarefa de governar o país a partir de 2019 será mais dura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário