Sinceramente, é espantosa tanta necessidade de ridicularizar os trans em evidência. Que insegurança extrema é essa, que precisa da execração pública e sistemática do outro para se afirmar? Que fragilidade é esta da tal ‘heteronormatividade’, que se vê seriamente ameaçada pelo sucesso destas pessoas? Sei não, mas desconfio que um certo Sigmundo Freud teria uma boa explicação.
Todos os dias, circulam por WhatsApp e outras redes sociais um sem número de piadas e memes envolvendo principalmente a cantora Pabllo Vittar e o ator Thammy Miranda. À Pabllo são frequentes as ofensas à sua suposta ausência de afinação e à suposta falta de beleza de sua voz. Já ao Thammy, como num moto contínuo, o alvo preferido é a ausência de pênis em sua anatomia, numa constatação que isso o tornasse menos homem.
O pior é que quem cria (e envia) estes memes acha tais situações engraçadíssimas! E nem adianta vir com historinha de que são apenas piadas e que não há preconceito nelas. Conversa! É preconceito sim – e dos grandes!
Se assim não fosse por que outras tantas cantoras ‘desafinadas’ que bombam no hit parade não são alvo de galhofas? Por que se preocupar com a falta do pau alheio se você tem o seu, bem aí no meu de suas pernas? Que tesão é este que Pabllo desperta que precisa ser coibido com seu avacalhamento? Que medo é este de ser menos “macho” por causa de um homem “sem pau”?
E cito Pabllo e Thammy porque são os que estão em maior evidência agora. Não à toa, ela foi indicada, pela revista Istoé Gente, para concorrer ao título de Mulher mais sexy do Brasil em 2018 e ele disputou a mesma eleição na categoria masculina. E o mais sensacional é que Pabllo (que nem mudou seu nome masculino) é assumidamente uma drag queen, nunca se apresentou como mulher trans. E Thammy (que também manteve seu nome feminino) é notoriamente um homem trans, que fez seu processo de transição aos olhos do público. Ou seja, ninguém está querendo enganar a ninguém, a verdade está posta e assumida!
Mas o preconceito é tão grande que sabemos que a sinceridade não os livra desta “malhação” pública. Mais ainda, que os próximos trans a ganharem espaço serão as vítimas da vez.
Definitivamente, não contem comigo para isso. Cada um que resolva, da melhor maneira possível, suas taras secretas e frustrações indizíveis. Mas não esperem de mim cumplicidade neste escárnio nervoso, que revela muito mais de quem zomba do que dos alvos da zombaria.
(Fonte: Coluna “Comportamento”, jornal O Povo, de Fortaleza/CE)
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