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sábado, 11 de janeiro de 2020

Nada mudou, os nomes e as brincadeiras continuam...
Um leitor do meu blog lembra que em 2006, um vereador (omitiu o nome) da Câmara Municipal de Santarém, apresentou, mas não obteve aprovação, projeto objetivando mudar o nome de alguns blocos carnavalescos de Alter do Chão, por considerá-los pejorativos. Em nome da moralidade e dos bons costumes, deveriam ser extintas as denominações dos seguintes grupos carnavalescos, que continuam existindo, com grande número de foliões aos sábados e domingos de carnaval:
“Há jacu no pau” (foto abaixo)
“Não dou meu Kuati”
“A Pomba”
“Arranca Baço”
"Que merda é essa"
Um leitor do meu blog lembra que em 2006, vereadores (omitiu os nomes) da Câmara Municipal de Santarém, apresentaram projeto objetivando mudar o nome de alguns blocos carnavalescos de Alter do Chão, por considerá-los pejorativos, o que motivou o meu amigão e excelente jornalista, Jota Ninos, a escrever e publicar no Blog do Jeso, um artigo com o título "Contribuição lingüística para zelosos edis", que transcrevo abaixo:

Alter-do-chão já foi chamada de “Caribe da Amazônia”, mas há outro epíteto que mais se adequa à nossa Vila Borari: “Babel Tropical”.

Não só pela eterna invasão de turistas de todas as partes do mundo, mas principalmente pelas polêmicas lingüísticas que lá se travam.

Pra começar, o próprio nome da vila até hoje é controverso e pelo menos uma das explicações para a sua origem seria a de que na primeira missa rezada por jesuítas portugueses em suas brancas areias teria sido usado um altar rente ao chão.

DAÍ, o altar, no sotaque português interpretado pelos nativos, soar como “alter”... do chão. Nem sei se isso é verdade, mas faz sentido.

Aí veio o tal do Sairé, que de repente virou “Çairé” por motivações de marketing, e causou um frisson lingüístico e uma guerra cultural entre intelectuais ou não.

Recentemente saiu o “Ç” e voltou o “S” e talvez numa futura e nova administração voltemos ao “Ç”. Tudo dependerá de que “lingüista político” estará no poder.

AGORA chegou a vez de substituir a batalha de farinha do “Carnalter” por uma nova batalha lingüística. Diante da mediocridade do carnaval em Santarém, os blocos com nomes de duplo sentido praticamente quintuplicaram em menos de uma década de “Carnalter”.

Só que isso criou um novo frisson entre nossos zelosos edis, que resolveram levantar a bandeira da moralidade contra essa ousadia popular.

Como se não houvesse mais nada de importante para se discutir no plenário da Câmara, três vereadores resolvem promover mais uma contenda lingüística de cunho inquisitório, pela moral e pelos bons costumes de nossa gente...

RESOLVI fazer um pequeno estudo e propor nomes mais pudendos aos blocos, como sugestão à cruzada moralista dos nossos zelosos edis.

Para isso, reli um dos fascinantes textos do sarcástico escritor carioca Millôr Fernandes, de seu livro “Tempo e Contratempo” (1954). Na crônica “Provérbios modernizados”, Millôr utiliza de seu estilo mordaz e reescreve de forma erudita ditados populares que do alto de sua singeleza “nos ensinam antigas lições”, como diria Vandré.

Assim, o velho ditado “De grão em grão a galinha enche o papo”, transforma-se num texto de refinamento científico digno de ouvidos intelectualizados: “De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda e asas curtas e largas da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem algum tempo antes de passarem à moela”.

SEGUINDO o mesmo estilo “milloriano”, aqui vão minhas sugestões para os nomes de blocos do Carnalter, de forma a não ferir os sensíveis ouvidos de nossos ilustres representantes do Poder Legislativo no ano que vem:

1. Bloco “Existe uma ave cracídea num pedaço de madeira!” (“Há Jacu no pau”);

2. Bloco “Nego-me a doar o mamífero procionídeo que me pertence” (Não dou meu Kuati”;

3. Bloco da “Ave Columbídea” (“A Pomba”);

4. Bloco “Tira o órgão linfóide situado no hipocôndrio esquerdo!” (Arranca Baço”).

Espero ter contribuído com os senhores edis para que moralizemos nossa língua em pleno carnaval, pois como disse o próprio Millôr no mesmo texto: “Aquele que anuncia por palavra tudo que satisfaz ao seu ego, tende a perceber pelos órgãos da audição coisas que não se destinam a aumentar-lhe o sentimento de euforia” (traduzindo: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer!”).

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