Vale a pena ler: Caminho seguro
Editorial da Folha de SP
Causa consternação descobrir, em pesquisa Datafolha, que quase três quartos (72%) dos brasileiros aptos a votar têm medo de sair às ruas depois do anoitecer. Entre as mulheres, sentem-se ameaçadas 79% das ouvidas.
No primeiro semestre de 2019, houve 22% menos vítimas de homicídios do que no período correspondente de 2018. Não deixa de ser preocupante constatar índices tão elevados de percepção de insegurança mesmo quando as estatísticas apontam uma redução sustentada da criminalidade, o que acontece desde o final de 2017.
Assim como a evolução do número de delitos, a sensação de insegurança se condiciona por um grande número de fatores, como tantos fenômenos sociais que não se deixam reduzir a causas únicas. A própria população parece intuir que a criminalidade não aumenta nem diminui em consequência de uma só medida governamental.
O maniqueísmo imperante no debate nacional, no que respeita à segurança pública, costuma opor investimento social, numa antípoda, ao fortalecimento do aparelho de segurança, na outra. Em especial com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, ganhou tração na sociedade a ideia de que só a repressão policial pode conter a violência.
O Datafolha mostra que essa visão fica distante de ser majoritária. É verdade que 41% opinam ser mais eficaz destinar recursos ao setor de segurança, como prover mais treinamento e melhores equipamentos aos policiais.
Contingente considerável, mas significativamente inferior aos 57% que priorizam os investimentos sociais para diminuir o desemprego ou melhorar a educação.
Outra maneira de interpretar a pesquisa apontaria que a própria divisão entre entrevistados, não muito desequilibrada, reflete o caráter multifatorial da criminalidade. Parece quase impossível alcançar um consenso quando se trata de assinalar sua causa principal e, por consequência, eleger a política certeira que pudesse dar cabo dela.
A razão é simples: não existe bala de prata, nessa matéria como em tantas outras. Aliás, uma das dificuldades para enfrentar a questão de modo eficiente está na própria disjuntiva —ou investimento social, ou investimento na repressão.
O governante dotado de bom senso sabe que não pode prescindir da seguridade e do ensino público de qualidade, o que independe de consequências futuras na redução da violência urbana.
No curto e no médio prazo, os delitos não diminuirão sem um trabalho de investigação e inteligência policial, acompanhado do patrulhamento ostensivo com objetivo de dissuadir e não de aterrorizar.
Editorial da Folha de SP
Causa consternação descobrir, em pesquisa Datafolha, que quase três quartos (72%) dos brasileiros aptos a votar têm medo de sair às ruas depois do anoitecer. Entre as mulheres, sentem-se ameaçadas 79% das ouvidas.
No primeiro semestre de 2019, houve 22% menos vítimas de homicídios do que no período correspondente de 2018. Não deixa de ser preocupante constatar índices tão elevados de percepção de insegurança mesmo quando as estatísticas apontam uma redução sustentada da criminalidade, o que acontece desde o final de 2017.
Assim como a evolução do número de delitos, a sensação de insegurança se condiciona por um grande número de fatores, como tantos fenômenos sociais que não se deixam reduzir a causas únicas. A própria população parece intuir que a criminalidade não aumenta nem diminui em consequência de uma só medida governamental.
O maniqueísmo imperante no debate nacional, no que respeita à segurança pública, costuma opor investimento social, numa antípoda, ao fortalecimento do aparelho de segurança, na outra. Em especial com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, ganhou tração na sociedade a ideia de que só a repressão policial pode conter a violência.
O Datafolha mostra que essa visão fica distante de ser majoritária. É verdade que 41% opinam ser mais eficaz destinar recursos ao setor de segurança, como prover mais treinamento e melhores equipamentos aos policiais.
Contingente considerável, mas significativamente inferior aos 57% que priorizam os investimentos sociais para diminuir o desemprego ou melhorar a educação.
Outra maneira de interpretar a pesquisa apontaria que a própria divisão entre entrevistados, não muito desequilibrada, reflete o caráter multifatorial da criminalidade. Parece quase impossível alcançar um consenso quando se trata de assinalar sua causa principal e, por consequência, eleger a política certeira que pudesse dar cabo dela.
A razão é simples: não existe bala de prata, nessa matéria como em tantas outras. Aliás, uma das dificuldades para enfrentar a questão de modo eficiente está na própria disjuntiva —ou investimento social, ou investimento na repressão.
O governante dotado de bom senso sabe que não pode prescindir da seguridade e do ensino público de qualidade, o que independe de consequências futuras na redução da violência urbana.
No curto e no médio prazo, os delitos não diminuirão sem um trabalho de investigação e inteligência policial, acompanhado do patrulhamento ostensivo com objetivo de dissuadir e não de aterrorizar.
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