Fale com este blog

E-mail: ercio.remista@hotmail.com
Celular/watsap: (91) 989174477
Para ler postagens mais antigas, escolha e clique em um dos marcadores relacionados ao lado direito desta página. Exemplo: clique em Santarém e aparecerão todas as postagens referentes à terra querida. Para fazer comentários, eis o modo mais fácil: no rodapé da postagem clique em "comentários". Na caixinha "Comentar como" escolha uma das opções. Escreva o seu comentário e clique em "Postar comentário".

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

RECANTO DE POETAS, ESCRITORES E COMPOSITORES.

TIO DÓ

Autor: José Wilson Malheiros

"O sr. Hamad, esposo da minha querida professora Hermínia, estava em São Paulo. Pegou um taxi e pediu que o levasse ao aeroporto. No caminho, o motorista pergunta:

- Desculpe, mas para onde o senhor vai viajar?

Hamad responde: Vou para Santarém, no Pará!

E o motorista: Santarém? Então dá um abraço no Dororó!

O passageiro ficou espantado. Em uma das maiores cidades do mundo, encontrara exatamente um taxista que conhecia seu compadre santareno. Era o mesmo que encontrar, como se diz, uma agulha no palheiro.

O homem do taxi era o Rui, genro de Dona Quinha Papaléo, uma amiga da família que residia na Pauliceia. Vejam só a coincidência.

Na década de sessenta, não havia Banco do Brasil em Monte Alegre. A instituição era representada por membros da família do senador Cattete Pinheiro.

Tio Dó ia fazer uma inspeção no escritório da localidade e eu fui com ele.

Viajamos de barco-motor. O trecho da viagem conhecido como Cataú, no rio Amazonas, é até hoje conhecido pela violência de suas famosas tempestades de vento, chuva, ondas enormes e naufrágios.

Conosco não foi diferente. Mais ou menos pelas três da tarde um temporal jogava nossa embarcação como se fosse uma folha seca ao léu.

A bordo, rezas, pavores e perigo.

E Tio dó prosseguia impávido, corajoso, tranquilo e confiante, ao lado do piloto. Parecia que estávamos trafegando com céu aberto e brisa refrescante.

Ao olhar aquela calma, meu medo foi embora.

Tio dó era franzino de corpo, mas tinha um espírito forte, sereno, invulgar, bem evoluído e gigantesco...

Essa grandeza de alma foi forjada no lar humilde do alfaiate José Agostinho, meu avô, onde muitas vezes, por falta de dinheiro, comiam arroz, caldo e farinha... e achavam gostoso!

Eu tive estreito relacionamento com ele. Aprendi a admirá-lo desde cedo.

Quando trabalhei no Banco do Brasil ele foi meu chefe imediato. Líder severo, exigente, mas bondoso.

Possuía uma grandeza ímpar, repito. Jamais teve ciúmes do irmão Isoca, pois sabia, no íntimo, que há lugar para todos e que seu talento musical também era enorme.

Nunca vi nele qualquer gesto ou conduta que pudesse denotar mediocridade.

Mais tarde, quando fui regente do Coral do Tribunal Regional do Trabalho, em Belém, ele era minha inspiração.

Cantei sob a regência do meu tio, no Coro da Catedral de Santarém, quando as missas eram ainda em Latim.

As missas solenes das oito nos domingos até hoje são inesquecíveis e me marcaram muito o espírito.

Meu pai no órgão, Tio Dó na regência do coro e Frei Prudêncio no altar.

Tio Dó nos ensaiava e nos ensinava com uma paciência e dedicação de paizão.

Eu estudava a língua latina no Dom Amando, mas os outros componentes do Coral não liam partituras, nada sabiam da língua oficial da igreja. Então tinha que começar pela pronuncia, pelo significado das palavras etc.

Dava um trabalho danado, mas era gratificante para ele, que sorria satisfeito quando tudo era concluído e o coral estava pronto para cantar J.S. Bach, Palestrina, Wilson Fonseca, Pe. José Maurício, Canto Gregoriano, Tomas Samaí, Frei Pedro Szing, Haendel, Beethoven e outros luminares da música sacra.

Tio Dó também mostrou sua competência quando comandava as Bandas de Música santarenas. Também toquei sob sua batuta em momentos inesquecíveis, nos coretos, nas procissões, nas datas cívicas...

Escritor, historiador, professor, instrumentista, excelente chefe de família, cidadão exemplar, músico, compositor, que mais se pode dizer do nosso querido Tio Dó?

Santarém tem a obrigação de fazer com que este grande homem não seja esquecido.

Fica em paz, tio Wilde Dias da Fonseca, o nosso Dó, e não te esqueças da gente aí no lugar feliz onde já estás na mansão celeste".

Nenhum comentário:

Postar um comentário