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ESPERANÇA, UMA ETERNA SOBREVIVENTE
Autor: Linomar Bahia, no jornal O Liberal:
"Em 2013, foi lançado o filme-comédia com esse título, dirigido por Calvito Leal e elenco integrado, entre outros, por Dani Calabresa, Katiuscia Canoro, Danton Mello e Rodrigo Sant'anna. No enredo, uma crítica humorada à corrupção na política, na mídia e nas pessoas, as mesmas que, em maior ou menor medida dos que criticam, sempre estão procurando levar vantagem em tudo. É uma das razões, senão a principal, do país resistir em ser o que é, desde o descobrimento, há mais de 500 anos, prolongando indefinidamente os domínios das castas e donatários das capitanias hereditárias de cada época, deturpando o sentido de "serviço público", convertido em "servir-se do público".
No filme, uma repórter de televisão alimenta a esperança de ser apresentadora do jornal da emissora, mais esperançosa quando sabe da demissão da titular. Mas, percebendo outra pretendente ao mesmo lugar, inventa, a exemplo do conhecido "jeitinho brasileiro", uma pauta fictícia sobre um suposto assassino em série à solta na cidade e passa a simular uma "investigação", alimentando a farsa com que imagina se destacar, contando com a ajuda de amigos que trabalham na perícia criminal, como nas falcatruas políticas e administrativas de cada dia no Brasil, mas logo a invencionice sai do controle sem, contudo, precipitar a morte da esperança em conseguir o objetivo.
Essa faculdade humana vem à memória às vésperas do novo ano e início do mandato dos prefeitos (re) eleitos, renovando a esperança, que sempre se acredita ser a última a morrer. Há pontos a ponderar e particularidades para reflexão, consequências do rescaldo da eleição de 2018, que parecia ser a desejada oportunidade para o "novo", mas não chegou a tanto, assim como não sepultou velhas e viciadas oligarquias, que parecem imortais. Alguns eleitos são marinheiros de primeiro mandato. Outros, contemplados pela reeleição, sinalizando saldo positivo entre erros e acertos praticados em gestões anteriores, aprovação também expressa nos sucessores que apoiaram.
Saudoso professor de direito costumava lembrar que a representação política reflete a qualidade boa, ou má, de quem os elege, objeto de teorias temerárias a cada resultado eleitoral. Em muitas ocasiões e motivações oportunistas questionaram o direito de analfabetos ao voto, impedido por muitos anos, sob a temerária justificativa de que teriam dificuldades em discernir entre o "bem" e o "mau", nem consciência clara do poder e responsabilidade do voto. Há, entretanto, controvérsias sobre a qualidade do voto das elites sociais e culturais, onde há segmentos votando pelos próprios interesses, espécie de outro lado das moedas que os mais simples são acusados de submissão.
Movimentos pontuais do povo nas ruas, bem que ensaiam as reações populares aos desmandos e à corrupção, mas logo são desvirtuados, pelas intromissões ideológicas e corporativas. Perdem o sentido e se dissipam no desinteresse, novamente abrindo espaços a personagens e grupos, empenhados em mais para os eles mesmos, eternizando as agruras na segurança, educação e saúde, enquanto os eleitos desfrutam das benesses do poder. Pelo que se vê e se ouve, nada indica ser diferente, restando continuar acreditando que a esperança é a última que morre, enquanto, como diria o personagem Justo Veríssimo, do saudoso Chico Anísio, "o povo que se exploda".
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