P O E T A N D O ...
SANTARÉM – Autor: Augusto Meira Filho, em outubro/1956
Santarém!
Céu azul refletindo nas águas brancas do rio
O Tapajós... num verde aparente
Tão diferente
Do verde quente que a gente sente...!
Dias ardentes onde as manhãs têm sempre um ar
De véspera de exame!
As tardes já começam cansadas
Na monótona cadência dos barcos que partem!
As noites têm o gracejo das moçoilas que fogem
Daquelas solteironas de porte florentino
No claro-escuro das praças escondidas...!
Santarém!
Rua da frente. Igreja Matriz. Praças ensolaradas,
Aldeia das namoradas. Mausoléus solitários
Cochilam entre os verdes tajás do cemitério!
O mercado, prainha, o colégio dos padres
A cor da farinha. O dia da eleição.
A festa da padroeira. Senhora da Conceição!
Santarém!
Há em tudo insondável mistério.
Um clássico ambiente de velho monastério,
Na voz colorida dos meninos pregões No austero abandono do solar dos Barões.
Santarém!
Ninguém se conhece pelo nome...
Yayá, Dondon, Teté, Lili, Tutu e Tote...
Manelito, Joanica, Babá, Aniceta e Mingote...
E o mais pitoresco nesse hábito jocoso
Valendo no Tejo, no Sena e no Congo
Todos assinam – em puro argot mocorongo...
Tutu Bastos, Babá Corrêa e Mingote Veloso!
Santarém que outrora cantava nos bordões
Dos pianos... agora silenciosos
Chora na alma de sua gente a tradição dos brasões...!
Santarém!
És uma equação sem solução determinada!
Sem cores para pintar-te
Quase tudo me deste para te amar.
Mas... deixei contigo apenas
O laço da saudade naquele sobradão antigo
Que tu abandonaste!
E na emoção da inspiração...
Meu coração chorou esta canção:
“Santarém... Santarém!
Cidade querida
Cidade meu bem
Não deixes teu povo
Emigrar pra Belém...!"
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