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sábado, 12 de março de 2022

 P O E T A N D O ...

SANTARÉM – Autor: Augusto Meira Filho, em outubro/1956

Santarém!

Céu azul refletindo nas águas brancas do rio

O Tapajós... num verde aparente

Tão diferente

Do verde quente que a gente sente...!

Dias ardentes onde as manhãs têm sempre um ar

De véspera de exame!

As tardes já começam cansadas

Na monótona cadência dos barcos que partem!

As noites têm o gracejo das moçoilas que fogem

Daquelas solteironas de porte florentino

No claro-escuro das praças escondidas...!

Santarém!

Rua da frente. Igreja Matriz. Praças ensolaradas,

Aldeia das namoradas. Mausoléus solitários

Cochilam entre os verdes tajás do cemitério!

O mercado, prainha, o colégio dos padres

A cor da farinha. O dia da eleição.

A festa da padroeira. Senhora da Conceição!

Santarém!

Há em tudo insondável mistério.

Um clássico ambiente de velho monastério,

Na voz colorida dos meninos pregões No austero abandono do solar dos Barões.

Santarém!

Ninguém se conhece pelo nome...

Yayá, Dondon, Teté, Lili, Tutu e Tote...

Manelito, Joanica, Babá, Aniceta e Mingote...

E o mais pitoresco nesse hábito jocoso

Valendo no Tejo, no Sena e no Congo

Todos assinam – em puro argot mocorongo...

Tutu Bastos, Babá Corrêa e Mingote Veloso!

Santarém que outrora cantava nos bordões

Dos pianos... agora silenciosos

Chora na alma de sua gente a tradição dos brasões...!

Santarém!

És uma equação sem solução determinada!

Sem cores para pintar-te

Quase tudo me deste para te amar.

Mas... deixei contigo apenas

O laço da saudade naquele sobradão antigo

Que tu abandonaste!

E na emoção da inspiração...

Meu coração chorou esta canção:

“Santarém... Santarém!

Cidade querida

Cidade meu bem

Não deixes teu povo

Emigrar pra Belém...!"

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