O TAPAJÓS DESAGUOU NA VILA OLIMPIA
Por Patrícia Ferraz. no Estadão"Antes que você pergunte qual o sentido de fazer comida amazônica em São Paulo, trazendo de avião peixes, farinhas, castanhas, temperos e todos os ingredientes regionais para abastecer a cozinha de seu recém-inaugurado A Casa do Saulo, saiba que a resposta do chef Saulo Jennings está na ponta da língua: “A gente não come alga japonesa e tantos outros alimentos importados? Meu desejo é que a comida amazônica e seus produtos cheguem a mais pessoas”.
Satisfaça-se com a explicação e mergulhe numa viagem pela culinária amazônica da região do Rio Tapajós, a especialidade do dono da casa. Quem não conhece Saulo, sua história e sua comida, está perdendo. Além de um talentoso cozinheiro, fomentador das comunidades de pescadores e pequenos produtores nos arredores de Santarém, onde nasceu, ele é um ativista de causas ambientais e sociais. E mudou a vida de centenas de pessoas por lá engajando a comunidade no manejo sustentável dos produtos.
Depois de construir uma sólida carreira na área comercial de uma multinacional, há 15 anos resolveu mudar de vida: abriu as portas de sua casa e foi para o fogão. Fazia um único prato, o filé de pirarucu grelhado, com molho de castanha-do-pará, banana-da-terra, camarão-rosa e castanha torrada. Grande sucesso, batizado de Casa do Saulo, o prato continua firme no cardápio e chegou a São Paulo (R$ 129,90). E Saulo não parou mais, abriu restaurante, ampliou, fez uma pousada, ajudou a capacitar pescadores, conseguiu melhorias, como placas de energia solar, para que pudessem fazer gelo e assim conservar os peixes. Hoje, tem cinco restaurantes, entre Santarém, Belém e Rio, um frigorífico que processa os pescados, uma empresa de logística para abastecer seus restaurantes, um hotel de selva com bangalôs e dois barcos de turismo. O cardápio da Casa do Saulo é extenso. Se eu fosse você, iria comer o arroz de pato no tucupi (R$ 129,90), um espetáculo: o arroz molhadinho pelo tucupi com crispy de jambu e pato caipira desfiado. Vem com uma perna do pato confitada com a gordura da ave… Mas, antes, divirta-se com um carpaccio de pirarucu defumado (R$ 72,90), o delicadíssimo tacacá (R$ 32,90) ou a melhor maniçoba (R$ 59,90) que já provei, espécie de escondidinho, com costela assada na brasa e cortada em cubos. E tem uma deliciosa casquinha de caranguejo (R$ 52,90), levemente picante, coberta com farinha de Bragança crocante e vinagrete. Os peixes de rio são grande atração ali, em pratos individuais ou para compartilhar: pirarucu, tambaqui e filhote, todos provenientes de manejo sustentável. Arremate a primeira visita com o tiramisú de bacuri (R$ 44,90). Aposto que vai sair querendo voltar. •
Casa do Saulo Rua Gomes de Carvalho 1.666, Vila Olímpia. Tel. (11) 97641-0159.
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