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sábado, 16 de abril de 2011

Hélio Gueiros morre aos 85 anos

Hélio Gueiros, governador do Pará de 1987 a 1990, morreu ontem (15) à tarde, por volta das 13h, por insuficiência renal aos 85 anos. Ele também foi senador (1983-1987) e prefeito de Belém (1993-1996). Gueiros sofria de insuficiência renal crônica há alguns meses e, de quinta para sexta-feira, seu estado de saúde se agravou bastante - ele já dispunha de atendimento médico domiciliar, tanto que faleceu em casa, assistido por médicos e enfermeiros. O político será velado no Museu do Estado Palácio Lauro Sodré, antigo Palácio do Governo, na Cidade Velha.

O velório, que será aberto ao público, só começaria na madrugada de hoje, quando retorna de São Paulo a viúva Terezinha Gueiros, ausente desde a manhã de ontem porque se preparava para um cateterismo. Até o início da noite de ontem, o corpo de Hélio Gueiros permanecia na residência, onde era preparado para o funeral. O enterro será hoje no cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua, às 15h.

Cearense iniciado na política em 1958 por Magalhães Barata, Hélio Gueiros nunca escondeu o quanto gostava de morar na terra que lhe fez deputado estadual, deputado federal, senador, governador e prefeito.

Simão jatene decreta luto de três dias: O governo do Estado e prefeitura de Belém decretaram luto oficial de três dias pela morte de Hélio Gueiros. O governador Simão Jatene lamentou a morte do político. Ele lembrou que o ex-governador do Pará ocupou os mais importantes cargos na política paraense e sempre se destacou como um líder democrata, defensor dos interesses do Estado, deixando uma marca inesquecível tanto no Palácio do Governo quanto na prefeitura de Belém, e nas funções legislativas que exerceu.

-"Hélio Gueiros fará falta ao Pará, pois foi um dos mais brilhantes cultores do jeito apaixonado de fazer política nesta terra", ressaltou Jatene, que teve uma convivência estreita com Gueiros. O governador do Pará destacou as qualidades do ex-governador e sublinhou a maneira extrovertida que Gueiros tinha de tratar dos mais diversos assuntos, a cultura aprimorada não apenas na carreira pública como também na formação como advogado, e na militância como jornalista, além de uma simplicidade às vezes desconcertante, sempre aliada ao humor inteligente.

Gueiros, destacou Jatene, era um dos remanescentes de uma fase de acirradas lutas políticas no Estado, alinhado aos ex-governadores Magalhães Barata e Aurélio do Carmo, de quem foi líder como deputado estadual quando teve o mandato cassado pelo governo militar. Ao retornar à cena política, recorda Jatene, Gueiros manteve a mesma eloquência.

Ex-governador: um político intrépido, sonhador e irreverente
Corria o ano de 1987. Não fazia tempo, assumira o novo governador. Assumindo, deparou-se com uma greve de professores. Não bastassem os prejuízos decorrentes da paralisação de categoria de servidores tão numerosa, o dirigente do sindicato dos professores iniciou uma greve de fome. Como palco, escolheu o hall de entrada da Assembleia Legislativa.

Transcorridos dois ou três dias de greve de fome, jornalistas encontraram o governador. Perguntaram-lhe, é claro, o que achava do protesto do dirigente sindical. Provocado, o governador provocou: - Greve? Não tem greve. Já me disseram até que ele [o grevista] anda tomando, de madrugada, uns caldos feitos com cabeça de gurijuba.

Os jornalistas caíram na gargalhada. A população inteira também. Houve, claro, quem não gostasse. Mas até esses reconheceram que a resposta do governador foi desmoralizadora para o tal movimento grevista. E se não foi desmoralizadora, foi desmobilizadora. E tanto é que o grevista encerrou seu, digamos assim, jejum político logo depois.

O governador era Hélio Gueiros. O Hélio. O Doutor Hélio. Hélio Gueiros, o político e jornalista, o jornalista e político, era exatamente assim: falava como escrevia, escrevia como falava. Falando ou escrevendo, era simples, direto, objetivo, irreverente, irônico, desabridamente piadista. Hélio Gueiros apropriava-se do linguajar simples, valia-se do paraensês para estabelecer com o leitor e eleitor uma empatia, uma intimidade, uma ligação tão informal que, afinal de contas, ninguém conseguia ficar indiferente a ele.

Ninguém passava impune diante dos causos, das boutades, das histórias, dos rompantes bem-humorados de Hélio Gueiros. Não foram poucas as vezes em que se ele referiu a si mesmo como "Papudinho", como muitos passaram a conhecê-lo. Hélio chegou a se confessar um "tarado por Doca", depois de ter reurbanizado a Visconde de Souza Franco, nas áreas do Umarizal e Reduto, e de ter feito obra semelhante em outro bairro de Belém. Na última eleição de que participou, dizia que estava "tinindo", para mostrar que a idade avançada não lhe toldara o vigor, o tino administrativo. Em uma de suas campanhas, passou a usar como um dos bordões o "me engana que eu gosto", trecho de música popular à época.

Em Itaituba, na campanha para o governo do Estado, em 1990, depois de inaugurar a entrada em funcionamento de grupos geradores para suprir de energia a cidade, que se encontrava havia meses às escuras, Hélio soube que o prefeito do município não considerara essa iniciativa importante e ainda chegou a classificá-la de eleitoreira. - Eu quero que esse prefeito venha aqui e diga isso, para eu dar uns chutes nos fundilhos dele - disparou Hélio no palanque.

Diante da surpresa geral dos presentes ao comício, o governador acrescentou: - Therezinha, vira pra lá e fecha os ouvidos. Além de um chute nos fundilhos, eu ainda vou dar uns chutes nos baixios dele - disse o governador, para o delírio da plateia e sem considerar muito se Therezinha, sua mulher, ficara ou não constrangida.

Muito embora informal no trato com leitores e eleitores, Hélio jamais deixou de seguir rigorosamente, como governador ou prefeito, o que muitos chamam de liturgia do cargo. Hélio se trajava e se conduzia exatamente de acordo com o recomendado pelo status do cargo que exercia. "O povo quer ver a autoridade como autoridade", costumava dizer.

Com O LIBERAL Hélio Gueiros guardou vínculos que transcenderam - e muito - o viés puramente profissional, sobretudo a partir do momento em que Romulo Maiorana assumiu o jornal. Punido com a cassação pela ditadura, Hélio fez do jornal a sua tribuna, a sua trincheira, durante os anos de chumbo. Como não podia assinar artigos, ele se tornou um dos cardeais do "Repórter 70", que o tinha como um dos colaboradores mais assíduos, produzindo sempre notas mordazes.

Hélio sai da vida para entrar na História como o governante, o homem público e o jornalista que, muito embora não tendo nascido no Pará, fez do Pará a sua casa, a terra que ele defendeu com a intrepidez dos fortes, que governou com o otimismo dos sonhadores e onde despontou com a irreverência e a fina ironia que tornaram Hélio Gueiros "o Hélio". Ou simplesmente o "doutor Hélio".

Enterro será hoje no recanto da saudade
Por volta de dez horas da noite, o local do velório de Hélio Gueiros já estava quase pronto, apenas aguardando a chegada do corpo. No salão do Museu do Estado Palácio Lauro Sodré, estavam dispostas várias coroas de flores oferecidas por famílias e instituições.

Enquanto o local do velório era preparado, familiares e amigos íntimos eram recebidos na residência de Gueiros. O pastor Jerônimo Filho foi até a casa do amigo e disse estar consternado com a perda. "Sou amigo de longa data de Hélio. Nossos filhos cresceram juntos. Perder um amigo é muito difícil, é como se uma parte de mim tivesse ido embora", lamentou o amigo. O enterro será hoje às 15h no cemitério Recanto da Saudade.

Jornalismo foi porta de entrada para a política no estado
O sarcasmo e a irreverência marcaram a personalidade do político Hélio Gueiros, que foi governador, senador, prefeito de Belém, deputado estadual e deputado federal eleito pro voto popular. Advogado formado na terra natal, Fortaleza, foi no jornalismo paraense que Hélio entrou para o cenário político a convite do ex-governador Magalhães Barata, no antigo MDB, partido que ajudou a fundar. Trabalhou por 30 anos na imprensa. Na ditadura, ele foi preso, cassado, teve os direitos políticos suspensos e foi proibido de exercer o jornalismo.

Chegando ao Pará, Hélio foi promotor público no interior do Estado. Depois, engajou-se no jornalismo. Trabalhou em O LIBERAL, nas antigas "Folha do Norte", TV Marajoara e Rádio Difusora. Em O LIBERAL, emprestava as iniciais à principal coluna do jornal, denominada "Repórter HG", que, por pressão das forças militares, teve o nome substituído por "Repórter 70", no ano de 1970. A historiadora e jornalista Luzia Miranda Álvares lembra que Gueiros foi quem a convenceu de não desistir do jornalismo naquela década, quando ela ameaçou largar a profissão após ser chamada a depor na Polícia Federal. Ela publicava a coluna "Panorama", em O LIBERAL. "Ele me disse, não faça isso (desistir). É isso que eles querem", lembra. A abordagem do colega a fez mudar de ideia.

‘"Ele foi um baratista que, de certa forma, enfrentou as forças armadas. Manteve a coerência política", destaca Luzia. "O Hélio Gueiros foi meu conterrâneo na política, ambos servindo ao general Magalhães Barata. Ele foi meu líder no PSD", destaca o ex-governador Aurélio do Carmo, que governou o Estado no início dos anos 60.

Na política, Gueiros manteve-se fiel a Barata e passou ao PMDB, legenda originada do MDB. Como senador (1983 a 1987), ele foi líder do presidente da República no Senado e foi relator do Código Civil Brasileiro e do Código Brasileiro de Processo Penal. Como governador do Estado (1987 a 1991), Gueiros se destacou ao reagir contra as iniciativas do governo federal em intervir no Banpará e também em desembarcar um navio carregado de césio no Estado.

Na prefeitura, reformou a avenida Doca de Souza Franco
Hélio Gueiros esteve ao PFL no período em que foi prefeito de Belém (1993 a 1996), virou oposição ao ex-colega de partido, Jader Barbalho, mas depois voltou ao PMDB.

Na prefeitura de Belém, reformou e reurbanizou um dos cartões postais da cidade, a avenida Doca de Souza Franco, criou a Escola Bosque, o Museu de Arte de Belém e a antiga Fundação de Parques e Áreas Verdes de Belém (Funverde) - atual Secretaria Municipal de Meio Ambiente, reformou a rede de educação e saúde, restaurou o Palácio Antonio Lemos e o Bosque Rodrigues Alves, criou o programa 192-Urgente para transporte e assistência pré-hospitalar e pavimentou vias.

No governo do Estado e na prefeitura, Gueiros investiu na educação em parceria com a esposa, Terezinha Gueiros, que assumiu as pastas da Educação. Hoje, ela é secretária municipal de Educação, na gestão de Duciomar Costa. Também entrou para a Academia Paraense de Letras. (No Amazônia)

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