Acusado pelo Ministério Público de ser o principal mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o 'Taradão', foi preso ontem pela Polícia Federal de Altamira. Ele é acusado de grilagem e estelionato. A prisão preventiva foi pedida pelo Ministério Público Federal, após a descoberta da tentativa de negociação do lote 55, em Anapu, na região da Transamazônica.
O fazendeiro foi levado para a Polícia Federal em Altamira. Segundo a Procuradoria da República no Pará, o fazendeiro também responde a outras ações judiciais, por trabalho escravo, crimes ambientais e fraudes. A prisão preventiva, ordenada pelo juiz federal Antônio Carlos de Almeida Campelo, foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF) após a descoberta de que ele estava novamente tentando tomar posse do lote 55, em Anapu, na região da Transamazônica.
Trata-se de uma área de 3 mil hectares que foi grilada por ele no final dos anos 90 e pela qual um grave conflito fundiário se instalou, culminando com a morte da freira em 2005. Taradão chegou a ficar preso durante mais de um ano, mas foi solto em 2006 por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), aguardando até hoje o julgamento em liberdade.
'O compromisso do MPF com a população de Anapu é garantir que os grileiros nunca mais se aproximem das terras públicas, que são posse legítima dos trabalhadores rurais. É preciso máximo rigor com os conflitos fundiários, porque são a causa de tragédias como a morte da irmã Dorothy', declarou Felício Pontes Jr, procurador da República que acompanha a situação de Anapu desde 2001.
Segundo Pontes, durante a investigação os depoimentos do fazendeiro sobre a posse das terras foram considerados contraditórios. Para a Procuradoria da República no Pará, o inquérito da PF, que investiga a grilagem, pode dar origem a um processo criminal do MPF contra Regivaldo, que pode ficar preso até o final do processo.
Evidências - Em novembro passado, religiosas da Congregação Notredame, à qual pertencia Dorothy, apresentaram documentos em que Galvão teria fraudado documentação, que comprovariam a posse do lote 55. A prisão preventiva, de acordo com as leis brasileiras, pode ser decretada no curso de uma investigação criminal, para assegurar sua continuidade, ou por ameaças à ordem pública.
Para o MPF, as duas condições estão presentes no caso. A prisão preventiva se fundamenta em evidências de grilagem, na ficha regressa do empresário e no risco permanente de conflitos fundiários emAnapu, explica Ubiratan Cazetta, outro signatário do pedido de prisão.
Absolvição de 'Bida' fez clima voltar a ficar pesado na área
A situação no município se agravou novamente após a absolvição em segundo julgamento, no início deste ano do outro acusado de mandar matar a missionária, o sócio de Regivaldo no lote 55, Vitalmiro Bastos de Moura, o 'Bida'. Desde então, as autoridades que acompanham o caso já temiam que recomeçassem as pressões sobre os assentados. 'A atitude de Regivaldo, de voltar ao local do crime e mais uma vez se dizer proprietário das terras públicas exige a intervenção imediata do Judiciário', declarou o procurador da República Alan Mansur Silva, também autor do pedido de prisão.
Mansur refere-se a uma reunião que aconteceu no último dia 28 de outubro, na sede do Incra de Altamira, em que 'Taradão' ofereceu benfeitorias para ficar com a posse das terras. Na ocasião, ele mais uma vez afirmou ser o proprietário do lote 55. Por causa dessa reunião, a
Polícia Federal abriu o inquérito contra o fazendeiro. Convocado a depor, ele negou o que está registrado na ata da reunião e desmentiu ser dono do lote.
No pedido de prisão, o MPF contabiliza: a negativa de Taradão na Polícia Federal em Altamira foi a sétima versão diferente que ele
apresentou sobre a acusação de grilagem do lote 55. Em 2004, quando os conflitos fundiários em Anapu se intensificaram, o fazendeiro foi acusado de desmatamento irregular na área e afirmou ao Incra que era o legítimo proprietário do lote. No ano seguinte, durante o processo do caso Dorothy, um dos principais argumentos de sua defesa era o seu total desinteresse pelas terras. (No AMAZÔNIA)
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