"Fica para nós a sensação de que quem tem como pagar, ganha". O desabafo da irmã Jane Dwyer, da Congregação Notre Dame, a qual pertencia a missionária Dorothy Stang, expressa o sentimento dos amigos da freira, morta aos 73 anos em uma emboscada na cidade de Anapu, oeste paraense, em 2005. "Esse julgamento era um marco na história do Pará e do Brasil, há 20 dias o pecuarista Regivaldo Galvão, mandante do crime, foi condenado à pena máxima num julgamento bastante claro. E ontem, ele foi simplesmente solto. A força do júri que o condenou foi totalmente anulada, o marco não existe mais", lamentou.
A Congregação ainda não decidiu de que forma, mas está se organizando para realizar protestos na tentativa de reverter a soltura do homem condenado a 30 anos pelo crime no dia 1º de maio. Assim como a freira, membros da paróquia Santa Luzia, em Anapu, também estão chocados com a decisão da desembargadora Maria de Nazaré Silva Gouveia dos Santos de conceder liberdade provisória a Regivaldo e também devem se organizar em protestos.
"Ninguém esperava, o julgamento deixou bem claro os fatos e, em nosso entendimento, não havia mais recursos para que ele ficasse solto. A justificativa da desembargadora é fraca, ele tem envolvimento em outros crimes relacionados a grilagem de terra, a fraudes na antiga Sudam e outros processos. Não é possível que isso também não pese para que ele fique preso", disparou o padre José Amaro, que atua na paróquia. "É uma vergonha para nós".
O coordenador do Comitê Dorothy, Dinaílson Benassuly, conta que o sentimento dos membros da organização é de indignação. "Como pode uma pessoa ser solta após uma condenação de 30 anos? Cinco anos depois, finalmente conseguimos que os criminosos fossem julgados e ao final, o mandante consegue ficar em liberdade. Isso não aconteceu com os outros envolvidos que foram condenados. É porque o Regivaldo é rico e os demais não? Sinceramente, eu me sinto confuso em saber o que é Justiça nesse País", desabafou.
Um dos advogados do pecuarista, César Ramos, afirmou que a decisão da desembargadora é justa e não surpreende. "É compreensível, ela agiu diante do que impõe o Supremo Tribunal Federal e ela agiu da mesma forma em outros casos, em casos envolvendo anônimos e também envolvendo pessoas que foram expostas à mídia. O meu cliente possui condições de receber a liberdade provisória e por isso a mesma foi concedida", informou. (Fonte: Amazônia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário