Mais de 250 pessoas não podem voltar às suas casas na travessa Três de Maio pelos riscos de outros desabamentos no perímetro em que ocorreu a tragédia do Real Class. Esse é o balanço parcial realizado pela Defesa Civil ontem (30), um dia após o prédio de 34 andares despencar. Deste total, a maioria está alojada em casas de amigos e familiares.
Até a noite de ontem, 21 pessoas estavam alojadas em hotéis, oferecidos pela empresa responsável pela obra que caiu, a construtora Real Class. Por volta das 22h, a Defesa Civil liberou o retorno dos moradores da Três de Maio apenas no perímetro da avenida José Malcher até os números 1.056 e 1.063, mas não liberou o acesso de carros no local.
Elger e Marineuza Uliana, casados, são moradores do edifício Londrina, que passa por avaliações para saber se a estrutura do local ainda é segura. “Nós estávamos na sala, que dava de frente para o prédio em construção. Nós vimos cair e saímos correndo. Viemos ao hotel por conta própria, só deu para pegar alguns pertences pessoais neste domingo”, declarou Elger Uliana. Segundo ele, ontem a Defesa Civil deixou que os moradores entrassem no prédio por cerca de 15 minutos, para que pudessem pegar algumas roupas e documentos. “Na ocasião, deu para constatar que uma parte da garagem foi comprometida”.
Moradora de uma casa que fica no exato perímetro da tragédia, a aposentada Eliana Miranda Vaz e o marido também tiveram que abandonar o local onde moram. “Quando a gente vai viajar, a gente sabe que vai ficar fora de casa. Mas sair assim é uma sensação muito ruim, principalmente depois de tudo o que presenciamos no sábado. Algumas pessoas ficaram nos acampamentos improvisados, na rua mesmo. Nós fomos trazidos pela Defesa Civil para o hotel”, explicou.
Gisele e José Carlos Silva e os quatro filhos moram no prédio Blumenau, vizinho ao edifício que desabou. “Ainda estamos só com a roupa do corpo e algumas outras que tivemos que comprar. Não estávamos na hora do acidente e ficamos impedidos de entrar em casa. Sabe aquela coisa de você olhar e dizer ‘E agora? Cadê a minha morada?’, contou Gisele Silva. “É muita apreensão quanto ao estado do nosso apartamento. Afinal, é uma vida inteira de trabalho”, disse José Carlos.
MEDO
Outra moradora do edifício Londrina é a pedagoga Lena Araújo. Ela, o marido e as duas filhas temem que outro episódio desta magnitude possa acontecer novamente. “Tem um prédio de 27 andares da mesma construtora bem do nosso lado. Estamos nessa dúvida se iremos voltar ou não. Não nos sentiremos mais seguros lá”.
A família está na casa de parentes e sempre via objetos como tijolos caírem na casa dos vizinhos ao lado da construção. “A gente escutava uns barulhos, mas achávamos que era da rua mesmo. Só que de vez em quando víamos alguns pedaços da obra caindo nas casas. Outra coisa que sempre víamos era a movimentação de trabalhadores nos sábados”, disse Lena.
A família afirma que não é a única a pensar em se mudar. “Alguns dos nossos vizinhos nem pensam em voltar para lá. Na hora do desabamento, todos os moradores do nosso prédio saíram correndo. Achávamos que a obra ia cair exatamente no prédio e que não íamos sobreviver. Dessa história toda, fica a pergunta: que credibilidade as construtoras realmente têm? E os órgãos que as fiscalizam?”, indaga uma das filhas, Mikaela Araújo. (Diário do Pará Online)
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