Representantes de entidades ligadas à construção civil, mercado imobiliário e setor de engenharia solicitaram audiência com o promotor de justiça Marco Aurélio Nascimento para oferecer apoio técnico nas investigações em torno do desabamento do edifício Real Class, ocorrido na tarde de sábado passado. Estiveram presentes na reunião, na tarde de ontem, representantes do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Pará (Sinduscon), Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Associação dos Construtores de Obras Públicas (ACOOP), Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Pará, Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-PA) e Clube de Engenharia do Pará.
Durante o encontro, as instituições se colocaram à disposição do Ministério Público e ofereceram apoio técnico especializado para ajudar a elucidar as causas do acidente. Segundo o presidente do Sinduscon, Manoel Pereira, a indústria da construção civil, que gera mais de 50 mil empregos diretos e mais 150 mil indiretos em todo o Estado do Pará, tem especial interesse em ajudar na solução do caso, tendo em vista que o profissionalismo e competência de toda a classe foram postos em dúvida depois da tragédia. Por isso mesmo, disse ele, "viemos espontaneamente ao Ministério Público oferecer este apoio".
Para a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), o grupo se apresenta como alternativa capacitada a fornecer informações técnicas consistentes. O vice-presidente da associação, Antônio Rezende, falou que tem ouvido muitas informações com base em suposições. Assim, diz ele, "é precipitado especular tantas causas para o acidente sem um conhecimento técnico aprofundado."
O promotor Marco Aurélio Nascimento declarou que a iniciativa das entidades ligadas ao setor é positiva. "A primeira preocupação do Ministério Público é com as vítimas do acidente e com quem teve algum tipo de prejuízo material, como pessoas que tiveram suas casas ou veículos destruídos, porém, não nos esquecemos de averiguar também as causas do desabamento e o apoio destas instituições é fundamental para estabelecer, primeiramente, a interação do segmento no caso e, depois, uma relação de consumo mais honesta, já que também temos como objetivo esclarecer informações que já foram divulgadas de forma equivocada."
Peritos pedem isolamento total da área
O espaço onde era construído o Real Class foi visitado, ontem, pelo promotor de justiça do Ministério Público do Estado (MPE), Marco Aurélio Nascimento. Ele se reuniu com peritos e representantes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e engenheiros da empresa para pedir informações a respeito da liberação dos imóveis para a habitação e do início das perícias no que sobrou do edifício tombado. Os peritos pediram o isolamento total do terreno onde estava sendo construído o edifício Real Class por pelo menos três dias para que o resultado da perícia não seja prejudicado.
Trânsito - Mesmo com o encerramento das buscas, os entulhos ainda serão retirados da área do acidente pelo menos até sábado, 05. A expectativa é que o tráfego entre as avenidas Magalhães Barata e Governador José Malcher, trecho em que ocorreu o acidente, seja autorizado no fim de semana.
Imóveis - A previsão é que o edifício Blumenau será liberado no próximo domingo, 06, seguido ao término da limpeza dos escombros. De acordo com a Defesa Civil do Estado e do Município, são sete o número de casas sem autorização para o retorno dos moradores e mais 96 casas serão vistoriadas na travessa por conta das avarias sofridas em algumas residências.
Um grupo de moradores com medo de voltar para as casas e apartamentos dos edifícios Londrina e Real Dream solicitou ao Corpo de Bombeiros um laudo por escrito confirmando a habitabilidade das moradias.
O major Augusto Lima, coordenador adjunto da Defesa Civil estadual, explica que a partir do momento em que as moradias são liberadas, cabe aos moradores reclamarem os direitos de outra natureza com a Real Engenharia.
Mesmo com a liberação das moradias, cresceu a quantidade de pessoas hospedadas nos hotéis Soft Inn, no bairro da Batista Campos e no Formule 1, em São Brás. Agora são 214 pessoas atendidas. Os gastos da empresa apenas com estada ultrapassam os R$ 11.400 por dia.
Confea defende avaliações periódicas nas edificações
O Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), Marcos Túlio Melo, afirmou ontem, durante a reunião com representantes do setor da construção civil, que o desabamento do edifício Real Class deve impulsionar mudanças na postura dos órgãos a que compete a vistoria e a garantia de segurança de construções em Belém. Marcos Túlio Melo sugeriu que se discuta a criação de instrumentos legais no âmbito do município para que se garanta que edificações passem por avaliações técnicas periódicas, sobretudo aquelas com mais de cinco anos de uso. O presidente do Confea, que veio a Belém a covite do Crea-PA, afirmou que incidentes como do edifício Real Class motivam mudanças nos padrões e normas técnicas da engenharia.
O Confea oferecerá suporte financeiro ao Crea para o custeio de uma nova perícia, independente das já iniciadas pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, que deverá ser conduzida pelo Grupo de Análise Estrutural e de Materiais (Gaema) da Universidade Federal do Pará.
O presidente do Confea classificou como "absurdo" o despejo de materiais retirados dos escombros em áreas com acesso não controlado e o furto de materiais por populares e afirmou que a não preservação do local do desabamento, até mesmo pelo trabalho de buscas aos corpos dos operários soterrados, pode prejudicar a perícia.
Esclarecimento - Marcos Túlio também falou sobre a insegurança causada pelo desabamento de uma construção e tranquilizou moradores de outros edifícios, como os já construídos e entregues pela Real Engenharia. "Este incidente não faz com que todas as construções no Pará sejam inseguras nem coloca a prova a qualidade dos profissionais daqui. Pelo contrário, são seguras sim. Um acidente que eventualmente aconteça na indústria da aviação civil não indica que a empresa onde ocorreu aquele acidente seja irresponsável. Elas não são. Acidentes acontecem por falhas, que precisam ser apuradas, e as responsabilidades cobradas."
Defesa - O presidente do Crea-Pará, José Leitão de Almeida Viana, comentou, ontem, a indicação do proprietário da empresa Real Engenharia de que o engenheiro que atuava no edifício era o filho dele, um profissional recém-formado. José Viana garantiu que o engenheiro responsável pela obra era Carlos Otávio Lima Paes, o dono da construtora, e que o filho atuava apenas como o engenheiro residente - o profissional que verifica se os trabalhos estão sendo executados pelos operários. "Os nossos registros indicam que o responsável pelo projeto e pela obra era o pai, Carlos Otávio Lima Paes. O rapaz, e que não haja nenhum desmérito pela condição de recém-formado, atuava apenas como engenheiro residente. Mas como profissional, formado pela faculdade, com registro no conselho, ele é plenamente capaz de assumir uma obra. Dizer o contrário é cercear o direito de um profissional formado a exercer a profissão".José Viana voltou a afirmar que a responsabilidade pela fiscalização da obra era da empresa (No Amazônia)
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